Venha para casa

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Eu fiquei irritada que ele nem ao menos comentou sobre a carta depois de alguns dias.

Nati também não me deu escolha a não ser finalmente contar a ela sobre meus sentimentos por Tony. Ela não parava de falar sobre como não entendia porque ele nunca a chamou de novo para sair depois que se beijaram no jantar. Não aguentei mais e disse a ela tudo que aconteceu entre nós. Ela ficou chocada, mas pelo menos funcionou para fazer com que parasse de falar sobre ele de uma vez por todas.

Tony continuou me ignorando durante a semana seguinte. Ele pegou mais horas extra na oficina e no resto do tempo ficava no quarto com a porta fechada. Ele obviamente sabia que eu tinha ouvido a garota no seu quarto naquele dia, porque eu deixei o livro no chão em frente à sua porta. Estava claro que ele não se importava em se desculpar ou saber como eu me sentia.

Então, quando Brad James me chamou para sair naquela semana, eu disse sim. Brad era um dos caras mais doces da escola. Na verdade, eu não estava atraída por ele, mas precisava de uma distração e sabia que ao menos nos divertiríamos juntos. Era um dos poucos meninos que eu considerava amigo, apesar dele obviamente querer mais.

A sexta à noite chegou. Arrumei o cabelo e coloquei um vestido azul royal que comprei numa promoção no shopping, mas o meu entusiasmo era o mesmo que tinha quando fui assistir ao filme com Nati.

Quando Brad chegou, minha mãe abriu a porta para ele e gritou.

— Pepper, seu encontro está aqui!

Uma música baixa vinha do quarto de Tony e a porta estava fechada. Uma parte de mim queria que ele me visse saindo com Brad, mas outra parte não queria lidar com ele.

Brad estava esperando no final das escadas com flores, e isso me deixou constrangida. Nunca poderia imaginar Tony esperando uma garota com margaridas. Vamos admitir, ele não precisava.

— Ei, Brad.

— Ei, Pepper. Você está maravilhosa.

— Obrigada.

— Se importa se eu usar o banheiro antes de sairmos?

Hesitei em mandá-lo lá para cima no caso de Tony sair do quarto.

— Claro. É lá em cima. Vire à esquerda, no fim do corredor.

Esperei por ele num banquinho.

— Ele parece legal. — Minha mãe disse.

— Ele é. — Eu disse, colocando as flores em um vaso.

Esse era o problema. Eu me acostumei a amar a maldade misturada com a bondade.

Depois de cinco minutos, Brad tinha um olhar esquisito no rosto quando retornou.

— Está pronto? — Perguntei.

— Claro. — Ele disse sem me encarar. Andou na minha frente em direção ao Focus estacionado na garagem.

Ele ainda estava agindo estranho quando entramos e antes de ligar o carro se virou para mim.

— Me encontrei com seu meio-irmão lá em cima.

Engoli o bolo que se formou na minha garganta.

— Mesmo?

— Ele disse para te entregar isso, que você tinha deixado em seu quarto. — Ele me deu uma calcinha rosa de renda, uma das peças que Tony ainda escondia.

Peguei e encarei a rua sem acreditar, sem saber se estava com raiva ou lisonjeada.

Quando me recuperei, virei para ele.

— Ele só está tentando te provocar... E a mim. É o que ele faz. Sei que parece bobo, mas ele pegou todas as minhas calcinhas como uma brincadeira e não quer devolvê-las, só isso.

Ele suspirou, mas ainda parecia desconfortável.

— Ok. Só foi muito esquisito.

— Eu sei. Acredite. Sinto muito.

Brad estava olhando para frente, então peguei meu celular e discretamente mandei uma mensagem para Tony.

Pepper: Porque você fez isso???

Tony: Não fique “de calcinhas na mão”. Foi divertido, admita.

Pepper: Não foi divertido para ele.

Tony: Você nem gosta dele.

Pepper: Como você sabe disso?

Tony: Porque você gosta de mim.

Pepper: Você se acha.

Tony: Você quis me achar também uma vez, lembra?

Meu queixo caiu.

Pepper: Porque você sempre faz isso?

Tony: Isso o quê?

Pepper: Volta a ser um babaca.

Tony: O babaca de quem, hein?

Pepper: Você não presta.

Tony: Eu presto… Muito. Vou te mostrar.

Pepper: Por que você está fazendo isso?

Tony: Porque não consigo parar.

Eu não ia responder. Mas ele mandou outra mensagem.

Tony: Venha para casa.

Pepper: O quê?

Tony: Venha para casa. Fique comigo.

Pepper: Não!

Desliguei o celular e olhei para Brad que ainda estava silenciosamente olhando para frente.

Tony estava louco. Quem ele achava que era, me impedindo de namorar enquanto ele continuava a galinhar por aí?

Tony tinha estragado a noite, e enquanto conversávamos besteiras no restaurante mexicano, sabia que Brad tinha se desinteressado depois do que Tony fez. O doentio era que eu nem estava zangada. Se fosse honesta, admitiria que secretamente fiquei satisfeita por Tony se importar o suficiente para sabotar meu encontro.

Tentei focar a atenção unicamente em Brad e estava falhando enquanto comia minha sobremesa. Só conseguia pensar em Tony. Ele não apenas tinha me afetado essa noite, mas tinha bagunçado toda a minha cabeça.

Meu celular vibrou no momento que nos preparávamos para ir embora.

Tony: Eu preciso que você venha para casa.

Pepper: Não.

Tony: Eu não estou brincando. Aconteceu algo.

Meu estômago esfriou.

Pepper: Está tudo bem?

Tony: Ninguém está ferido ou algo assim. Mas precisamos conversar.

Pepper: Ok.

Tony: Onde você está? Será mais rápido se eu for buscá-la?

Pepper: Não, Brad me levará.

Tony: Ok. Não demore.

Meu coração estava acelerado.

O que será que aconteceu?

Inventei uma desculpa e perguntei a Brad se ele se importava em me levar para casa. Ele não ficou feliz, mas a noite inteira estava arruinada depois do que Tony fez.

Parecia que eu nunca chegaria em casa.

meio-irmão não é irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora