Os ventos de setembro

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Em meados de setembro, minhas aulas voltariam. Estava aproveitando ao máximo as férias: passei horas e horas nadando, me enchi de sorvetes e smoothies e claro, peguei uma forte e maravilhosa gripe. Me lembro que, ao acordar, no meu último dia de descanso, minha cabeça pesava toneladas, meu corpo estava fraco e minha garganta já dava sinais de que sorvete em excesso era uma má ideia.
Me entupi de remédios. Boba, tudo em vão. No dia seguinte eu só piorava, tossia igual uma pobre lazarenta, não tinha muita força mas aqui a coisa funciona assim: tá doente? Vá para aula. Tá morrendo? Pois vá carregada, mas vá. E eu fui. Segunda, terça, quarta, quinta, tudo um marasmo, eu não tinha foco para nada. Mas sexta chegou e com ela a importância da matéria "farmácia".
A sala de aula era imensa, fileiras dispostas de modo que todos tivessem visão do tablado, era algo similar a um teatro. Sentei na primeira fileira, como costume de uma boa míope. Após alguns minutos e alguns alunos barulhentos entrarem, a professora entra na sala. Como um coro religioso, ou como uma torcida organizada, os alunos se levantam ao passo que ela entra e assim ficamos até ouvirmos a autorização clara e sonora para que sentemos novamente.
"Sentem-se" - a voz dela ecoa de forma gentil.
Olga, um nome diferente para uma canadense. Minutos depois percebi, e acho que todos também, que ela era estrangeira. Bom, todas as explicações sobre o curso vamos deixar de lado pois não é o intuito da história, vamos aos primeiros detalhes sobre ela.
Ela tinha por volta de trinta e poucos anos, ou talvez quarenta muito bem aproveitados. Não era alta, nem baixa. Vestia um jeans apagado, uma camisa social de longo prazo e calçados sociais. Cabelo castanho, preso para trás num laço de cabelo preguiçoso como quem teve pressa ao se arrumar.
Mas Olga tem algo que me deixou um tanto desestabilizada... eram os olhos. À distância pareciam azul, quase um turquesa que invadia a sala conforme ela os movimentava. Ao chegar mais perto, durante as explicações, os olhos davam o atrevimento de se mostrarem acinzentados.
E foi assim, nessa dança maldita e infinita, que eu comecei a me interessar em saber mais sobre ela. Ela era engraçada, as vezes não segura o riso e gargalha. Era social com os alunos, mesmo com o sotaque de leste europeu, ela se esforçava para explicar, fazia testes e durante esse tempo, ela me olhava. Ou seria um delírio febril que me dava essa impressão? Afinal, eu ainda estava doente...

Com açúcar, com afetoOnde histórias criam vida. Descubra agora