Suco de maçã

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Estava nos últimos dias de aula quando tive problemas com uma professora. Era algo irrelevante que me magoou demais, talvez por estar sensível com toda a situação de Olga, e acabei caindo aos prantos durante uma aula.
Uma professora me deu uma nota miserável num teste que nem seria usado para o teste final. Mas eu fiquei triste, carente, acabada. Ao fim da aula, caminhei aos prantos para a casa. O vento gelado batia em meu rosto numa tentativa de secar-me as lágrimas, mas conseguia apenas congelar aquela dor.
Após um banho quente, fiz um chá de melissa e peguei o pacote de bolachinhas de rosemary para acompanhar. Devorei o pacote todo e a dor não passava. Eu queria um carinho, queria um abraço específico.
Peguei o celular e, ao som de Lana Del Rey, fui até a conversa com Olga.

"Oi, como vai?
Desculpa ter enviado mensagem tão tarde, mas preciso dizer que, de repente, você se tornou a minha pessoa favorita neste lugar."
Eram 20:30, eu estava totalmente desequilibrada. Como eu tive a coragem e demência de mandar aquilo?

21:26: "muito bem e você me confunde :) "
21:28: " também te admirei"

Essas foram as mensagens que recebi dela. Eu a confundia... mas com o que? Ela me admirava... mas como? Como aluna?

21:33: " Não se confunda, por favor"

O que mais eu poderia responder? Estava fora de eixo, eu confundia aquela mulher sem saber o que isso significava exatamente.

E após essa mensagem, as férias do final de ano chegaram. Eu gastei umas boas horas procurando Olga no Instagram pra no fim descobrir que o link do perfil dela estava o tempo todo na descrição do WhatsApp.
O Instagram continha apenas uma foto: ela, com um lenço na cabeça, florido e meio desbotado, uma blusa meio solta que cobria o colo e os braços. Nas mãos, um ramo de folhas que mais tarde vim a saber que eram específicas para sauna. Atrás dela havia um rosto meio coberto de uma mulher. Parecia mais velha; talvez fosse a mãe.
A foto de perfil, apesar de pequena, me mostrava Olga sentada num banco, e no colo duas crianças repousavam. Provavelmente eram as filhinhas dela, que mesmo sem tantos detalhes, imaginei que fossem lindas e espertas como a mãe.

Na tarde do dia 31, às vésperas do Ano Novo, resolvi mandar mensagens para todos meus contatos e inclusive para alguns professores, assim eu veria como eles e Olga iriam (se iriam) me responder.
Bom, para todos mandei felicitações, aquela baboseira toda. E para Olga e para outra professora mandei algo diferente:

[20:20] Olá!

Com toda minha alma te desejo um feliz Ano Novo 🎇 🎉

Desejo-lhe boa saúde, sucesso no trabalho, bom humor e muito amor)
🌹"

Para Olga, além da mensagem, também enviei um sticker de gatinho, tentando beijar a câmera.

Deixei o celular na mesinha de cabeceira e fui encher a banheira: estava decidida a passar a virada de ano encharcada em meus pensamentos, ouvindo algum clássico e degustando uma boa taça de suco de maçã.

[21:00] "Obrigada! E como é ainda melhor?
Estou muito feliz por essas pessoas maravilhosas virem ao meu espaço!! desejo que você viva com facilidade, alegria e prazer 🌸

[21:02] ❤️❤️🧡💛💙💚💜🖤🤍🤎❣️💕💞💓💗💖💝🐰🦚
Isso aqui é de Maria"

Eu decorei cada palavra, cada ponto daquelas mensagens, tentei ler em voz alta na esperança de entender mas foi em vão.

Quem era Maria?

Com açúcar, com afetoOnde histórias criam vida. Descubra agora