Na manhã seguinte da embriaguez, acordei com barulhos vindos da cozinha. Joguei o travesseiro no canto, batendo na mesinha de cabeceira. Um copo com água se espatifou no chão e um som estridente que entrou na minha cabeça me irritou ainda mais.
Enfim avistei Ashley, segurando uma frigideira na mão.
- "Bom dia! Achei que tivesse entrado em coma..."
- "Como a gente voltou pra casa?", perguntei, me deslisando ao pé da cama tentando me levantar.
- "Viemos andando", brincou.
- "Entendi... então já me exercitei o bastante. Cadê meu celular?"
- "Ah, sim, sobre isso.... Bom, acho que você vai surtar um pouquinho."
- "O que eu fiz? Me ajuda a achar esse celular!", engatinhei ao redor da cama, consegui alguns cortes de vidro do copo quebrado mas nada do celular. Ashley observava, enquanto se servia ovos mexidos.
- "Olha, a notícia boa é que você não perdeu o celular; mas a ruim é que você meio que perturbou algumas pessoas com mensagens."Meu corpo todo enfraqueceu. Só existia uma pessoa que eu poderia perturbar estando bêbada. "Talvez minha família?", "colega da faculdade?". Eu tentava me enganar e negar a terrível ideia de ter falado algo muito além do que poderia.
Ashley veio até mim, me entregando o celular:
- "Relaxa, tá? Finge que nada aconteceu..."
Levantei e fui ao banheiro. Me tranquei. Entrei na banheira vazia e então encarei a tela.
Entre notificações, vi o nome Olga. Gelei.[03:09] "Oi."
[03:27] "O que? Você está bem?"
[03:38] Chamada perdida
[03:41] Chamada perdida
[04:55] Chamada perdidaDepois de entrar no WhatsApp, minha visão começou a ficar turva.
[02:57] "Me dá uma chance", foi a primeira mensagem.
[03:25] "Você aqui agora vem", foi a segunda.
[03:31] "💜", foi a terceira e última.
A dor de cabeça foi aumentando conforme eu relia as mensagens. Logo eu teria aula com ela, como agiria? Deveria me desculpar ou fingir que nada aconteceu? Eu perdi a noção do perigo ao mandar mensagem para ela de madrugada. Mensagens sem nexo, sem vírgula, sem vergonha.
Após um longo banho e um amargo café, a ressaca foi se acalmando. Ashley se despediu levando, num pote antigo, omelete e alguns doces que me roubava toda vez que vinha ao apartamento.
-"Te vejo segunda. Tenta não usar o celular até lá." Ela ria.
-"O que tem nesse pote aí?"
-" Hey, foi mal... até mais!", e nos despedimos.Confesso que comecei a gostar de Ashley. Ela parecia ser legal embora quisesse muito culpá-la pela loucura do final de semana.
Terça-feira, 8 da manhã. O horário das aulas revirado devido à ausência de alguns professores. Por ironia, Olga pegou algumas aulas extras, mudando para as terças, quintas, sextas e sei lá quantos dias a mais. Sei que era muito cedo para digerir aquilo tudo. Ainda pensava sobre as mensagens e ligações de Olga. "E se eu tivesse atendido, o que ela falaria?".
Eram quase 9 da manhã quando Olga chegou. Apressada, abriu a porta da sala de aula, se apressou tirando o casaco enquanto os alunos entravam, conversando.-"Bom dia. Leiam o capítulo 14 e 15. Volto logo."
Os dois capítulos somavam por volta de 50 páginas. Ela saiu sem olhar para os lados, fechou a porta. Me encolhi de vergonha. "Será que ela está brava comigo?", pensava. Abri o livro e comecei a ler. Obviamente não consegui me concentrar então saí da sala. Ninguém nos corredores. Fui até o banheiro, abri a torneira e deixei a água escorrer pelas mãos. Passos ao longe se aproximavam. Alguém tossiu. "É ela", murmurei.
Fechei a torneira e agarrei uma quantidade exagerada de papel que ficava pendurado num suporte de parede. Comecei rapidamente a secar as mãos, e jogar o excesso no lixo perto da porta.
Não deu tempo de sair, esbarrei com Olga:
-"Oi.", ela disse indo em direção à torneira, segurando uma xícara.
-"Oi.", respondi enquanto disfarçava que secava as mãos.
-"Terminou de ler?", me olhou e se fixou em mim.
-"Sim." , depositei toda minha autoconfiança nessa resposta. Era como se eu mesma tivesse escrito aqueles capítulos.
-"Então venha, venha tomar chá.", e saiu.Saí logo em seguida, ela na frente abria o caminho, o corredor. A cada passo fui me confundindo mais. Pelo menos minhas mãos estavam secas.
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Com açúcar, com afeto
RomanceApaixonar-se por uma professora. Um clichê. Uma dor imensurável de se saber que o impossível só aconteceria no imaginário de uma jovem estudante; Afinal, qual o limite do desejo? A história de uma aluna, no quarto período de Bioquímica numa faculda...