Capítulo 10

729 87 13
                                    

Mel ~👠

Apesar de negar até quase morrer, foi impossível escapar das garras da Léo, ainda sinto o olhar de todos sobre mim ao entrar na igreja. Leo me arrasta para um banco onde a Caren está sentada e me sento ao lado delas, com a Leo no meio.

Observo o local, o interior da igreja é pequeno, a arquitetura parece de décadas passada, pinturas no teto e em algumas paredes se destacavam, eram hipnotizantes, mais que a pregação, na verdade eu não ouvi nada que o padre falava, apenas analisava o local e sentia a energia emanada dali, era desconfortavelmente reconfortante. Por mais irônico que pareça, eu queria fugir dali, me sentia suja para aquele lugar, desvio o olhar querendo soltar aquele fio de conexão e dou de cara, ou melhor, dou de olho, com um par de olhos azuis celeste que me observava intrigado.

Era comum que ele me olhasse assim, já estava me acostumando, era esse olhar e o de hostilidade, não sei o que era pior, suspiro entrando no jogo e encarando de volta. Mantive o olhar corajosamente com a sobrancelha erguida, não seria eu quem ia desviar, ele em algum momento precisaria piscar, não? Em resposta apenas ganho um arquear de sobrancelha e sua boca se curva de um lado em um sorriso insolente, que ultraje! Ele já estava zombando de mim, mas não perdia uma mesmo? Ele desvia quando Margô o puxa pela mão chamando sua atenção. Bufo frustrada, mesmo ganhando a batalha, cadê meus dias de glória? Tava cansada de tanta luta.

Sem conseguir respirar direito, aproveito o momento de silêncio de toda a igreja e saio à francesa. A Léo e a Caren estavam entretidas de mais na oração de mãos dadas que nem reparam minha saída pela portinha ao lado do nosso banco, elas de certa forma se completavam, mas não tinha tempo para chegar a alguma conclusão do relacionamento das duas, porque fugir naquele momento era mais importante.

A porta lateral dava em uma estátua da sagrada família em tamanho real no centro de um belo jardim, sigo o caminho de pedra ao longo do gramado e me coloco perante a representação, só podia ser brincadeira, me coloco de frente a estátua totalmente frustrada por tudo.

-Porque dizem que o senhor sempre tem um propósito pra tudo? O que somos pra você? Você fica nos jogando de um lado para o outro e a justificativa é sempre um propósito maior, um plano traçado, mas isso é uma grande droga, se quer saber.-Falo abrindo os braços com um sorriso amargo no rosto.-Eu tô cansada disso, seja você, o destino ou outra coisa que não fazemos ideia, você deve morrer de rir me fazendo de tola, né? É divertido ver meu sofrimento? É divertido ver o sofrimento das pessoas? Porque têm preferência por algumas pessoas? Porque pra mim tem que ser sempre tão sofrido? Que droga.-Uma lágrima rancorosa escorre pela minha bochecha.

-Deus nunca dá uma cruz maior que você possa carregar.-Um senhor sai de trás de uma árvore com um chapéu lhe cobrindo o rosto. Ele caminha com passos curtos sem erguer a cabeça, sua voz é carregada de amabilidade, mas tem uma pontada de experiência de vida e talvez culpa?

-Desculpa, eu pensei que todos estavam na igreja.-Falo, observando ele se aproximar.

-Não sou digno de frequentar lá dentro, é a minha cruz.-Fala amargurado, ele ergue a cabeça e observo suas expressões. Seus olhos se fixam em mim e se arregalam à medida que os segundos passam.-VOCÊ! É VOCÊ! VO...VO...VO...VO...

O senhor cai duro diante dos meus pés, assustada, não consigo abrir a boca para pedir socorro, mas nem precisei, a igreja toda estava ali, provavelmente ouviu ele gritar. Começo a ser empurrada pelos moradores para longe do senhor e parece que minha alma saiu do meu corpo e demora a responder aos comandos do meu cérebro que a essa altura parecia ter reduzido a consistência de uma gelatina. Alguém começa a fazer massagem cardíaca no senhor enquanto os burburinhos continuam e começo a dar passos para trás, caindo a ficha do que tinha acabado de acontecer.

Doce Destino - Em Andamento Onde histórias criam vida. Descubra agora