Capítulo 34

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~Mel 👠

Em todos os pesadelos que já tive durante toda a minha vida, e olhe que já foram muitos, eu nunca imaginei que o Heitor teria um lapso de memória e se lembraria que tinha uma filha a essa altura do campeonato, e piorava, agora ele estava assinando a minha carta de demissão.

-Como é que é?-Eu só podia estar alucinando, o papel ali na minha frente parecia surreal demais.

-Devo acatar a sua decisão?-Santos pergunta.

-Você sabe que essa não é minha decisão.-Falo bruta.-Como conseguiu isso?

-O próprio senador me entregou.-Meu queixo cai.

-O Heitor está aqui?-Será que eu ainda estava dormindo e isso tudo não passava realmente de um pesadelo?

-E não parece nada satisfeito com o seu emprego aqui.-Santo completa concordando com a minha pergunta.

-Onde ele está?-Eu não queria saber, queria que ele desaparecesse como sempre fez.

-Sala de reuniãos.-Santos fala saindo da sala, respiro fundo diversas vezes e me controlo para não amassar a folha em minhas mãos e arremessar na cabeça do Heitor. Quem ele achava que era? Caminho com passos decididos para a sala de reuniões rezando internamente para que fosse apenas uma brincadeira de mal gosto.

Sobre o incidente de anos atrás, ele procurou todos os advogados do mundo, pagou as fianças mais caras da história e conseguiu sair ileso, com aquela justificativa de estar sob efeitos alucinógenos e com a ajuda de uma excelente conta bancária ele foi declarado inocente. Foi como se nada tivesse acontecido e a memória da população tivesse sido apagada já que 10 anos depois, para meu completo horror, ele se elegeu senador, apesar de todos terem esquecidos eu trazia no pulso e no coração a marca da sua traição. Ignorava todas as suas tentativas falsas de reaproximação e seus pedidos de perdão, se ele realmente se ressentia pelo que fez deveria se corroer pela culpa durante anos e anos, eu não me importava.

Apesar de todo esse tempo evitando ele, agora ele estava ali, em carne e osso, a apenas uma porta de distância. Queria que um meteoro escolhesse esse exato momento e esse exato local para cair imediatamente me impedindo de abrir a porta que nos separava, mas sei que isso era pedir demais, o universo jamais me permitiria sentir esse prazer na minha vida, não eu.

Giro a maçaneta e entro na sala com certa brutalidade, eu queria esganar ele e talvez chorar depois, não sei, era um sentimento confuso. Heitor estava do outro lado da sala, não pareceu surpreso com a minha entrada tempestuosa, ele parecia igualzinho na minha memória, exceto por dessa vez estar sóbrio.

-O que você acha que está fazendo?-Questiono parada na porta, precisava ficar a uma distância segura e atenta a minha rota de fuga, nunca se sabe quando ele teria um surto e resolvesse, sei lá, jogar um copo em minha direção de novo.

-O que você acha?-Ele perguntou, me lançando um olhar cheio de cólera.-Estou protegendo minha única filha.

-Eu.não.sou.sua.filha.-Falo entre dentes.-Você está ficando louco?

-Você não sabe o quanto eu fiquei louco de preocupação quando soube que você estava aqui.-Ele fala dando alguns passos em minha direção.

-Pare!-Alerto esticando a mão, ele hesita me olhando.-Não se aproxime.-Ele para me encarando não parecendo acreditar.-Você não precisou se preocupar comigo nos últimos 23 anos, não tem porque se preocupar agora.

-Não me preocupei porque você estava embaixo das asas daquele imbecil do Muniz, mas agora olha só para onde ele deixou você vim?!-Ele abre os braços para dar ênfase em suas palavras, o que me deixou com mais ódio.-Parece que me enganei, ele nunca tentou te proteger, era apenas fachada.

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