~Mel👠
Não fazia ideia se era um sonho ou o momento acontecia de verdade, mas sabia que não queria parar, não queria sair dos braços do Ben que tocava minha cintura afoito por mais, não havia nada de delicado, Ben tentava me levar para mais perto dele, mas não havia mais perto, eu podia sentir os botões de sua camisa em minha barriga, meus seios comprimidos no seu abdômen, costa ligeiramente curvada para trás dando livre acesso aos meus lábios.
Nossos corações batiam desesperados por mais, minhas mãos imploravam por mais, precisava de mais do Ben, minhas unhas cravaram em suas costas na tentativa de me manter em pé. Ben geme com meu toque e separa nossas bocas arfando, seu olhar parecia faminto, ele ainda segurava meus cabelos em uma mão e minha cintura em outra.
Um raio passa pelos olhos cristalinos e não gosto nadinha do que vejo ali, culpa, repulsa. Ben me solta delicadamente e se afasta envergonhado, pega o chapéu no chão e coça a barba procurando uma forma que não me afetasse tanto o que ele pretendia falar. Eu era formada em livros de romance, eu sabia o que vinha a seguir, era óbvio.
-Não precisa dizer nada.-Ergo uma mão impedindo dele abrir a boca para dizer que foi um erro, afinal eu já tinha deixado claro que o que acontecesse ali, ficaria ali.
-Mel...-Ben tenta me alcançar, eu sabia que ele ainda esperava por a Julia, essa apenas foi minha prova final.
-O que acontece aqui fica aqui, Ben.-Dou de ombros parecendo mais confiante do que eu era.
Entro no quarto e vou direto para o banheiro, precisava tirar o perfume do Ben do meu corpo antes que caísse no choro, e eu me recusava a chorar por um homem.
No dia seguinte fingi que nada havia acontecido na noite anterior, eu era ótima em fingir que estava tudo bem quando tudo estava desmoronando, aprendi essa façanha quando fui intimidada, por filhinhas de papai no ensino fundamental. Ben me encarou durante muito tempo procurando algum vestígio de não sei o que, me mantive a mesma devolvendo o olhar superior e respondendo às provocações da Margô enquanto eles jogavam conversa fora durante o café da manhã.
-Porque você não vai na frente, Mel?-Margô pergunta parando do meu lado ao lado da picape do Ben.
-Porque você faz questão de ir, lembra?-Aponto me lembrando do show que ela fez quando estavamos vindo para a cidade.
-Águas passadas, eu sei que você não anda muito no banco da frente.-Ela fala piscando um olhos.
-Como assim?-Pergunto confusa, eu devia saber do que se tratava?
-Você sabe, os seguranças?-Ela fala baixando o tom para que o Ben não ouvisse.
-Não tenho seguranças.-Aponto confusa.
-Motorista, sei lá o nome que você dá.-Ela me dispensa com a mão como se aquilo não significasse nada para ela.
-Vamos?-Ben chama ocupando seu lugar, dou a volta na caminhonete e entro olhando feio para a Margô que sorria triunfante.
-Mel porque não me fala de quando você ingressou no Balé?-Ela sugere depois de um tempo em silêncio.
-Não tem muito o que contar.-Falo olhando a paisagem passar pela janela.
-Claro que tem, imagina só, você é uma ótima dançarina.-Me viro no banco olhando feio para ela, era assim que ela manteria segredo?-Que foi? Eu vi você fazendo o cambré e supus isso.
-Está equivocada.-Falo ríspida.
-Porque você dança?-Ela insiste.
-Porque eu gosto.-Quando ela ia desistir?
-Apenas por isso?-Me volto para ela novamente.
-Porque você dança, Margô?-Ela parecia não esperar minha pergunta, sua boca abre e fecha por alguns instantes sem saber o que dizer, a resposta nunca era fácil.
Apesar de acreditar que todos nós nascemos predispostos a fazer alguma coisa específica, não quer dizer que acredito que essa seja a única coisa em que possa ser bom. Eu nasci predisposta a ser bailarina, mas no meu caminho me encantei pela vida no tribunal, então inclinei minha predisposição e dei o meu melhor para que fosse mudada.
Volto meu olhar para frente a tempo de observar com horror um caminhão vindo em nossa direção, meu grito fica preso na garganta. Rápido de mais Ben freia o carro e inclina pista afora desviando do caminhão. Minha bile vem a garganta, meu coração batia forte contra o peito enquanto prendo minha respiração.
-Todos bem?-Ben pergunta depois de uns instantes em silêncio.
-Sim papai.-Margô fala com a voz trêmula. Eu não conseguia responder, era difícil para meu corpo receber o comando do meu cérebro.
-Mel?-Ben me chama tocando em meu ombro.-Seus lábios estão roxos, Mel.-Me permito deixar uma lufada de ar entrar pelos meus lábios. Foi a pior ideia que eu tive, abro a porta do carro rapidamente e me livro do cinto, pulando para fora do carro e vomitando a poucos passos.
Solto o choro que nem sabia segurar e deixo meu coração sangrar novamente. Era assim que sua mãe se sentia no dia do acidente? Impotente, tola e fraca? Não a Samanta não era nada disso, mas eu sim, eu sequer tinha algum feito na minha vida, eu era apenas a filha da Sofia e do Theodoro, a princesinha mimada que fazia tudo que queria.
Porque nada passou diante dos meus olhos? Não dizem que no último suspiro um resumo da vida se passa diante dos olhos? Eu morreria sem nenhuma memória para deixar para os outros?
Braços finos rodearam minha cintura me desarmando mais ainda, soluço sentindo meus caquinhos explodir em milhares de pedaços. Margarida apenas fica me abraçando, deixando que eu colocasse para fora toda a minha dor, eu nunca esperei aquilo dela.
-Tá tudo bem.-Ela fala com o rosto enterrado nas minhas costas.-Você está segura.
Eu estava segura, estava tudo bem, um pouco fora do eixo, mas bem. Me viro devolvendo o abraço na garota, ela devia está assustada com minha reação exagerada. Eu também estava com medo, eu não era a pessoa que mostrava, eu sequer sabia quem eu era.
-Desculpa.-Falo para ela.-Você me perguntou porque eu dançava.-Fungo, limpando as lágrimas insistentes.-A dança me move para um lugar dentro de mim onde eu posso dominar meus demônios internos e me conectar comigo mesmo, é a libertação do meu eu, é onde eu posso fechar os olhos e ver ela me observando, me incentivando, torcendo por cada passo certo que eu dou, porque eu nunca consegui deixar a dança?-Falo com novas lágrimas nos olhos.-Porque tenho a sensação que ela está mais presente de mim quando eu danço, eu posso fingir por minutos que ela nunca se foi.
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Doce Destino - Em Andamento
ChickLit"-Mel, meu amor, você sabe que amamos você e sempre respeitamos suas escolhas independentemente de quais sejam elas, então eu vou te fazer a pergunta que sempre te faço.-Mamãe fala acariciando minha bochecha.-Onde você quer estar daqui a 10 anos? On...