Capítulo 27-Dorme para não pensar no problema, mas sonha com ele.

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JACKSON FREMONT

Não é a primeira vez que eu acordo encharcado de suor. Mas é a primeira vez que outra pessoa está comigo quando desperto. Então, eu me dou conta de que é Dandara quem está aqui. Sei qual é o motivo. O pesadelo. Devo ter gritado, e ela decidiu me acordar.

— Saia de perto de mim—Ordeno, me sentando e rolando para fora da
cama antes que sua mão continuei a me tocar.
— Você estava perturbado. —Ela diz suavemente enquanto desce da
cama, voltando-se para mim.

Estou completamente suado e nervoso.

— É claro que eu estava perturbado. Era a minha família sendo morta.

Levo alguns segundos para compreender o que falei, então passo as mãos pelo meu rosto para ver se acordo. Tento ver algo que não seja minha família morrendo.

— Fique longe de mim— Insisto quando ela tenta me tocar novamente.
— Com que frequência isso acontece?

Eu a ignoro e vou até meu jaleco pendurado, onde encontro minhas pílulas.

— Seria melhor tomar água— Ela palpita quando tiro um comprimido de oxicodona da cartela— Se automedicar não é uma ideia sensata.
— E àgua seria melhor? Água vai consertar tudo, vai diminuir a dor? —  Pergunto, com ironia. — Você não sabe porra nenhuma, Dra. Schiller.
— Muito profissional— Ela retruca. —  Eu não ligo para sua ignorância de vez em quando, mas você está começando a ficar repetitivo. Além de imprudente. Não está pensando em você e muito menos nos seus pacientes quando se automedica.

Eu a ignoro e levo a mão a boca para tomar o comprimido, desesperado para amortecer a dor. Mas antes que eu alcance minha boca sinto dedos magros e frios envolvendo o meu pulso.

— Não faça isso.

Solto a mão e a empurro. Sem muita força, mas o bastante para Dandara cambalear e o comprimido cair. A parte decente que ainda existe em mim quer esticar a mão para ajudá-la. Quer pedir desculpas porque não sou do tipo que desconta suas frustrações em outras pessoas. Ao invés disso, viro as costas para Dandara e levo as mãos à cabeça, tentando respirar fundo. Meu maior desejo é mergulhar no nada e nunca mais voltar.

— Jackson...
— Pare—Rosno.— Só porque fui legal e deixei que falasse sobre assuntos chatos enquanto comíamos não quer dizer que você pode vir aqui dizer merdas enquanto enxuga minha testa suada e tenta me consolar quando nem tem ideia do que se trata.
— Então me diz do que se trata— Ela pede, completamente calma e racional, o que só me deixa ainda mais irritado.— Ou conversa  com alguém sobre isso.

Ah, é. Como se eu nunca tivesse recebido esse conselho antes.

Mas dessa vez não é o conselho que me irrita, é o fato de que, pela primeira vez, fico tentado a segui-lo. Pela primeira vez, quero compartilhar as lembranças monstruosas que guardo dentro de mim.

Inferno! Não posso fazer isso.

Viro de novo para pegar outro comprimido, mas Dandara vem na minha direção e tira o frasco da minha mão. Sinto seus seios roçarem meu peito, e fico ainda mais no limite. É perigoso para qualquer pessoa ficar perto de mim quando tenho esses pesadelos. Mas ver que ela está aqui, com sua pele macia e perfumada, invadindo meu espaço e sendo zelosa quando meu sangue está correndo a mil por hora, quando estou com raiva, a ponto de bala, prestes a punir alguém, isso alcança algo dentro de mim.

— Devolva. —Exijo. Minha voz fica rouca.
— Não — Ela diz com firmeza.

Pelo amor de Deus, qual o problema dela?

Eu encaro seu rosto e não consigo ler sua expressão.

— Devolva minhas pílulas. — Eu rosnei
— Ou o quê? Vai tomá-las com suas próprias mãos?
— É uma possibilidade.
— Eu não quero forçá-lo a não tomar, quero que você entenda e decida sozinho que  automedicação faz mais mal que bem. No entanto, eu devolvo o frasco quando prometer falar com alguém sobre os pesadelos. E se escrevesse sobre eles?
— Ah, sim, isso vai ajudar. A porra de um diário.
— Você quer os comprimidos malditos? Prometa então.
— Você está sendo ridícula—  Afirmo, cavando em meu jaleco mais uma vez.
— Dr. Fremont! — Ela protesta quando encontro um novo frasco.

Dandara  tenta pegar, mas dessa vez estou preparado e a levo para longe de suas mãos. Só que isso a traz para mais perto de mim de uma forma que ficamos cara a cara. Seus olhos estão soltando faíscas. Eu gostaria muito de saber o que está passando na cabeça dela, principalmente porque isso provavelmente explicaria o motivo de sua boca ir de encontro à minha no momento seguinte.

O beijo é quente e voraz, conseguindo ser lento e frenético ao mesmo tempo. Ela agarra a barra da minha camisa e me puxa para mais perto. Meu braço está por todo o seu corpo agora, enquanto a outra mão segura seu pescoço, mantendo seus lábios fundidos aos meus. Minha língua procura e acha a dela, tímida a princípio, para depois ficar mais corajosa. O beijo se torna explosivo. Minhas mãos querem percorrer seu corpo todo. Quero tocá-la por inteiro. E quando forço seu corpo para cama, meu pé pisa em algo que por pouco não me leva para o chão.

O frasco de oxicodona.

Minhas mãos se fecham em punho, embora eu não tenha certeza se é com a intenção de socar a parede ou voltar a enfiar meus dedos em seu cabelo e colar minha boca na sua.

— Foi sua ideia mais brilhante para me fazer esquecer a pílula? —Eu zombo, me abaixando para pegar o frasco.

Mas agora ele não parece tão importante como antes. Os horrores em minha mente estavam longe e a dor amortecida.

— Funcionou?— Sua respiração está baixa e entrecortada, seu peito sobe e desce como se não conseguisse puxar o ar.
— Sinceramente, sim. — Eu coloco o jaleco e devolvo o frasco para o bolso. — Você costuma usar muito esse truque?

Dandara bufa.

— Claro que não. Você é o único que desperta atitudes impulsivas minhas.

Estreito os olhos.

— Isso é uma desculpa horrível. Você tem talento para ser patética e fim.

Ela revira os olhos.

— Uau. Você é uma lufada de ar
fresco, sabe?
— E você e sua irmã tem um estranho vocabulário limitado.

Suas mãos foram para seus quadris.

— Você que torna as respostas repetitivas dado seu comportamento frio.
— Não é frieza, é a realidade.
— Ok, então diga algo positivo sobre
mim? Um realista pode ver tanto o positivo quanto o negativo nas pessoas. A única coisa que você viu em mim desde que começamos a trabalhar juntos, é o negativo.

Dandara dá um passo a frente e assim eu tenho uma visão direta para baixo de seu jaleco e blusa de seda. Eu não achei que ela apreciaria os pensamentos positivos que eu tinha no momento. Então me virei e saí.

— Tenha suas horas de descanso, Dra. Schiller. Vamos conversar com os Cox assim que você retornar.

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