Capítulo 28-As dores da alma imprimem uma sentença que perdura pelos anos.

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DANDARA SCHILLER

Entro pela porta da frente da cafeteria e os pequenos anéis de sino soam sobre minha cabeça. Procuro Lindy e a encontro atrás do balcão, limpando suas mãos em seu avental. Ela ergue vira a cabeça para a entrada e sorri quando me identifica.

— Ei, docinho. Está aqui para um café da manhã?

Pego o banquinho na extremidade do balcão e ela me segue, colocando um cardápio à minha frente. Eu sinto seus alguns olhos em mim, mas eu mantenho meu olhar em Lindy quando ela derrama uma xícara de café sem perguntar.

— Você está bem, querida? — Ela pressiona o dorso de sua mão em minha testa. — Você não parece muito bem.

Eu forço um sorriso e aceno com a cabeça.

— Eu estou bem. Apenas cansada de um plantão longo e com um pouco de fome, obrigada.
— Eu posso ajudar com isso.

Ela vai até a pequena janela que faz contato com a cozinha e diz algo, voltando para mim no momento seguinte.

— Então, você já se adaptou a cidade? —Ela apoia um quadril no balcão.
— Não posso dizer que fiz totalmente, mas tive bons momentos até agora— Eu rasgo alguns pacotes de açúcar.
— Com exceção da briga com o Dr. Fremont certo? —Ela diz, soprando alguns fios brancos para longe da lente dos seus óculos redondos.
— Não foi algo muito sério... er... estamos nos dando bem.— Eu digo.

Suas sobrancelhas franzidas caem sobre seus olhos e ela se inclina mais perto. — Ouvi sobre isso. Ele até esteve na sua casa alguns dias atrás e ficou por um tempo considerável. Só vocês dois.

Claro que ela ouviu. A mulher é um radar ambulante para fofocas.

Tomo um gole de café e endireito os ombros.
— Ele me ajudou com um problema no encanamento. Problemas comuns de casas antigas.
— Entendo. — Seu rosto quebra em um sorriso tão grande que aprofunda todas as suas rugas. — Isso é maravilhoso. O doutor precisa mesmo de amigos.

E ali vejo o momento para ter o que eu vim descobrir. Se antes eu estava curiosa para saber o que aconteceu com a família de Jackson, descobrir que ele tomava remédio controlado para lidar com a dor do passado me fez perceber que saber o que aconteceu era uma necessidade se eu quisesse ajudá-lo.

E eu queria.

Limpo a garganta.
— Por que você diz isso?
— Não seja boba. Jackson Fremont não é o cara mais legal da cidade e você provavelmente já percebeu isso.

Ela sorri e acena para um homem alguns banquinhos depois de mim quando ele acena para uma recarga de café. Ela enche sua xícara e volta, ainda sorrindo.

— Pois comigo ele tem sido bastante receptivo e gentil. — Eu minto.

Ela usa o lápis atrás da orelha para coçar o couro cabeludo, que está escondido debaixo de chumaço de cabelos grisalhos.

— Então se considere uma mulher sortuda. Gentil não faz parte de sua personalidade desde que a tragédia com sua família aconteceu.

Ela se vira e pega alguns pratos cheios de ovos e uma variedade de carne para o café da manhã, depois os desliza para outro homem com o nariz enterrado em um jornal próximo a mim.

— Tragédia? —Eu questiono e ela me envia seu olhar afiado.— Eu tive meus ouvidos por isso brevemente. O que de fato aconteceu?

Ela não responde à minha desculpa esfarrapada, seu silêncio fala por si só em sinal de seu desagrado. Depois ela se vira para uma tigela fumegante que o cozinheiro apenas coloca na janela e ela o posiciona na minha frente.

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