𝗮𝘁𝗲́ 𝘀𝘂𝗮 𝘃𝗼𝘇 𝘃𝗼𝗹𝘁𝗮𝗿

dois

Eu olhava pela janela a nova família que estava se mudando na casa vizinha. Havia quatro pessoas: os pais e dois adolescentes, um garoto com cabelo castanho, ele usava uma camisa branca e calça jeans, também não prestava muita atenção no que estava acontecendo, apenas no seu celular. Já a garota ao seu lado, aparentava ser sua irmã e muito mais animada que ele, ela usava um vestido rosa florido e estava com um rabo de cavalo.

Bom, eu já imaginava que provavelmente um deles iriam bater na porta de casa para nos conhecer e fazer novas amizades. Como minha mãe estava no trabalho e Nour na faculdade, só tinha eu para atender. E talvez eu não quisesse.

Desço as escadas com meu caderno na mão, eu havia acabado de colocar meus fones de ouvido para ouvir música. Me sento na cadeira perto da bancada da cozinha e passo a desenhar um pouco.

Ouço algumas batidas na porta e acabo me assustando. Seria agora, eu teria que abrir a porta nesse momento e encarar mais uma pessoa desconhecida em minha vida. Me levanto sem muita pressa e ando até a porta, assim que abro vejo os dois adolescentes que eu tinha visto na janela antes.

—— Caralho, devolve meu colar, idiota. Eu nunca pego nada seu, Bailey.

—— "Eu nunca pego nada seu", pega sim. Posso até fazer uma lista.

Provavelmente estavam discutindo sobre algo totalmente bobo, mas para ser sincera, era engraçado ouvir aquilo. Fazia um tempo que eu não me sentia feliz por ver alguém. Fazia 5 anos que isso não acontecia.

—— Oi, eu sou a Hina. —— a mais nova se apresenta erguendo sua mão, logo eu retribui o comprimento com um sorriso tímido em meu rosto. Ela olha para provavelmente seu irmão e dá um empurrão nele —— Se apresenta, infeliz.

—— Eu sou o garoto que se mudou agora com a chata da minha irmã. E qual é o seu nome?

Acenei para ele.

—— Você não sabe falar? Tem dicção ruim? O gato comeu sua língua hoje?

Minha vontade era socar ele, mas eu não podia fazer isso.

—— Desculpa pelo meu irmão, ele é um insensível.

Assenti com a cabeça, vou até a bancada e pego meu caderno.

—— Eu não tenho voz. Sabe ler ou falar em libras?

—— Ai, desculpa. Minha mãe 'tava sem nada para fazer e quis ter esse sem coração, sinto muito.

Balancei a cabeça. Era normal isso acontecer, eu já havia me acostumado. O garoto sem nome ainda não tinha dito nada, eu peguei ele de jeito.

—— Desculpa, eu não fazia ideia. —— disse totalmente sem graça.

—— Não tem problema.

—— Só não sei falar em libras, mas eu sei ler. Aprendi no primário.

—— Qual o seu nome? —— Hina pergunta mudando o assunto, e eu agradeço por isso, aquilo estava ficando constrangedor.

—— Shivani.

—— Eu sou o Bailey. —— ele diz de repente, agora eu sei o nome dele.

—— É um nome bonito.

E realmente era um nome bonito.

—— Mamãe disse para a gente vir aqui e sei lá, fazer uma nova amizade.

—— Adoraria ser amiga de vocês. E sempre podem vir aqui em casa.

Eu gostaria de ter escrito que não saio de casa faz cinco anos, mas eu não queria acabar com o clima que tinha nesse momento. Então, eu não escrevi.

—— Nós precisamos ir —— sorriu ——, até mais! —— Hina diz por fim.

—— Tchau, S... ai, esqueci seu nome.

—— Shivani. Meu nome é Shivani.

—— Tchau, Shivani. —— acenou se despedindo.

Fecho a porta assim que perco os dois de vista. Subo para o banheiro e tomo um banho rapidamente. Vou para meu quarto, tomo meus remédios e depois me jogo na cama.

Pensando bem, fazer duas amizades novas não era uma coisa tão ruim.

Poderia ser boa.