·09· Por ser sangue puro

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Depois de todo esse tempo?
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Emmeline Vance
23/07/1978

A saída de uma mulher de um terreno vazio não foi notada, nem o fato de que ela não havia entrado ali em nenhum momento antes.

Emmeline estava adiantada, sabia disso, mas entre chegar no local marcado com Héstia antes e ter que suportar por mais tempo seu avô com seus preconceitos idiotas, era clara a escolha. Ainda bem que ele vivia longe deles e as visitas eram escassas, porque não suportaria e nem teria razões para poder evitá-lo sempre, somente seu pai para ter a capacidade de escutar cada baboseira dele e ignorar facilmente, eram anos de prática e aprendizado de que nada adiantava para colocar certa razão na cabeça do velho.

A Vance olhou ao redor do lugar, era estranhamente familiar, porém tinha certeza de que não estivera ali nenhuma vez sequer. Uma memória surgiu em sua mente, era de uma sequência de fotos que tinha visto uma vez e se lembrava bem de quem a tinha mostrado, faziam anos desde aquilo e um incômodo surgiu nela. Adorava a pessoa responsável por aquela memória, porém a amizade das duas havia se desfeito de um modo que Emmeline nunca aceitaria.

Então uma ideia surgiu nela, já que estava ali mesmo e que Héstia demoraria um pouco ainda, porque não tentar achá-lá e dar um olá? Se lembrava de que a foto da casa dela em si era perto de um bosque e que era de um tom de amarelo bem claro.

A vila não era grande, o que facilitou muito a procura da corvina que foi encontrar o que procurava depois de mais um virar de rua, porém o que se mostrou difícil foi ter coragem para se aproximar da porta da frente e bater nela.

A espera por resposta.

O som de passos.

O medo do que iria dizer.

O medo se não fosse ela.

Os conhecidos olhos da outra se arregalaram ao vê-la e o choque foi claro.

--Emmeline?-- murmura.

--Helena.-- diz.-- Desculpa aparecer assim, eu só lembrei daquelas fotos que me mostrou anos atrás e como estava aqui...era uma chance de saber como está mesmo depois desse tempo todo.-- tagarelou, pois não sabia o que dizer e sabia que sua aparição era muito repentina.

Porém o que não esperava era o abraço que recebeu da outra.

--É ótimo te ver, Vance.-- ela fala a apertando. -- Não tem porque se preocupar.

--É ótimo? Não tem porque me preocupar? Você pediu para entender seu lado e respeitar sua escolha de nos afastamos, Helena.

--Eu sei, mas de lá para cá eu repensei umas coisas.-- ela fala se recostando no batente da porta.-- Eu posso ter exceções e você deveria ter sido uma delas.

--Quando mudou de ideia?-- pergunta curiosa, pois sabia que a outra não era de repensar e mudar facilmente.

--Trabalhando na Floreios e Borrões, minha companheira de lá quase me matou quando descobriu sobre porque a evitava fora de assuntos profissionais e eu tive que escutar muito.-- conta com um sorriso no rosto.

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