(In)quebráveis

·Bônus {2}·

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Depois de todo esse tempo?
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Helena Deutch

30/06/1978

--Jantar, o que acha?-- Brenda pergunta olhando para Helena e então voltando a atenção para os livros que agrupava na prateleira.

--Estou tão cansada e amanhã tenho que trabalhar.-- responde com um tom de sinto muito que não pareceu convencer a outra.

--Pelo menos poderia tentar evitar ofender minha inteligêa como se eu fosse uma tola.-- e acrescenta com o olhar confuso da outra.-- Amanhã você não vem, Deutch.

--Não aqui.

--Saberia que tem outro se você se fosse mais aberta.

--Somos colegas de trabalho, não sabia que isso implicava que teríamos que ter uma relação envolvendo assuntos fora do trabalho.-- devolve.

Sua intenção nunca tinha sido tornar sua relação com ninguém dali além do profissional, não que ela tivesse um bloqueio contra se aproximar dos bruxos, por Morgana! Mas com o gerente era simplesmente daquele modo e bem, ela tinha um bloqueio com sangues puros que incluía Brenda automaticamente.

--Não implica e não estou aqui procurando te forçar a implicar, só que é estranho e cansei das vezes que uma conversa está se desenrolando e parece que tu quer participar, mas então simplesmente se afasta e algumas vezes depois de olhar para mim como se lembrasse que estou ali e isso te impedisse, o que não é nada legal para ninguém.

Ela não tinha como negar que realmente tinha tomado aquela atitude idiota e mais de uma vez, sabia que odiaria se fosse ela no lugar da outra e reparasse, porém existia aquela coisa entranhada nela que a fazia esquecer as consequências ruins de algumas atitudes e que destacava que o principal estava garantido.

Alguém já tinha quase conseguido ser uma exceção, só que esse quase se estendendo nela tinha ocorrido num momento que foi decisivo para ele não passar daquilo, um quase. Ela sumira com qualquer pensamento sobre e tomou para si a ideia de dever, que assumia para si mesma poder ser injusta, porém assumir não resultou em tentativa de mudança.

"Não é errado escolher a si mesma."

Crescera escutando aquilo e coisas que seguiam aquela linha, ensinamentos que talvez alimentassem um egoísmo, mas que visavam o mais importante da vida do seu pai: garantir que ela ficasse segura.

--Esqueça isso, Lovelace-- começou em resposta a colega.

--Nunca nos conhecemos antes daqui, tenho certeza disso, então só pode ser por algum preconceito.-- ela diz como se a Deutch não tivesse respondido nada.-- Minha cor de pele?

--Não!-- negou rapidamente sem acreditar.-- Isso é um absurdo.

--Qualquer que seja é um absurdo.-- Brenda diz.-- Arriscaria que é por sangue, mas não faria sentido.-- um bufar escapou de Helena e ela resistiu a revirar os olhos, claro que era inconcebível que fosse por aquilo.-- Ser contra sangue puros não é algo que já tenha sabido, é incomum, mas é isso no seu caso.-- afirma ao entender.

Não tinha o que dizer já que não tinha sido uma pergunta, então voltou a atenção para a porta quando um cliente adentrou a loja que estava vazia.

As duas seguiram o restante do dia sem se falar, Helena sentindo o olhar da outra a queimando em diversos momentos, finalmente o dia terminou e Helena poderia ir para casa sem risco daquele olhar a perseguindo, mas não era simples assim.

--Ainda é um preconceito, Helena, eu não posso te julgar porque de verdade não sei se existe algo por trás disso, mas está generalizando e sabe disso. Se sabe disso, sabe que não está sendo melhor que quem é preconceituoso com trouxas e outros grupos.

--Eu sei que estou errada, mas também estou bem.

--Nem todo sangue puro é uma espécie de pessoa que afunda quem está ao seu redor, existem pessoas sensacionais por trás dessse rótulo de sangue puro que simplesmente faz você deixá-las de lado, você mesma deve saber disso e quem sabe até sinta saudades de alguém que deixou passar por isso.

Ela não tinha que responder, nem tinha sido uma pergunta de fato, somente uma suposição, mas se viu assentindo.

--Mas era mais importante separar os de rótulo errado?

Ela pensou em responder que por mais que o conteúdo fosse bom e divertido e acolhedor, ainda tinha um rótulo com palavras que não levavam a bom e divertido e acolhedor, não para pessoas como ela e outras.

--É.-- foi sua resposta.

--Nada que eu diga parece ser novidade para você, já pensou em tudo isso e preferiu ficar desse jeito, mas as experiências que perde com isso não vão simplesmente voltar e as chances que perdeu já foram e me choca que você simplesmente aceita isso como se não fosse nada, mas acho que um dia vai ver que afinal era algo e não vai poder reclamar porque decidiu só jogar isso para um canto da mente no agora, talvez tenha um porquê maior por trás de eu estar aqui falando tudo isso, uma daquelas bobagens de uma chance sendo dada a você, só que aí cabe a tu o que fazer com ela.

Era aquela verdade que Helena tinha conhecimento, algo que era mais fácil só forçar a segundo plano, então  Brenda a tinha pego e esfregado na sua frente depois de anos em que simplesmente fingia não vê-la.

Aurnia insinuava aquilo de forma indireta, Emmelime tinha respeitado sua decisão mesmo tendo ficado claramente magoada e com raiva, então ela pudera ficar esquecida ou o mais esquecida que pode.

Agora estava ali, como uma placa neon a noite chamando atenção, começando um conflito e gerando incessantes pensamentos.

Ela fugia de uma guerra gerada por preconceitos enraizados e estava alimentando um próprio.

Segurança era um luxo.

Saudades.

Sangue puros eram problema, mesmo que não quisessem ser.

Querer

Dever.

Mas exceções não quebrariam completamente nenhum dos dois se bem feitas.

✒✒

>Bônus de um fato comentado pela Helena com Emmeline em um dos capítulos.

>Opinião: ficou estranha a formatação onde umas partes foram intercaladas de um lado e outras do outro?

>Eu espero estar conseguindo transmitir direito o que quero com a Helena, mas acho que mais para frente será entendido completamente e de uma forma melhor, inclusive o que podem se perguntar: por que ela ainda tem uma vida no mundo bruxo se quer se manter longe da guerra.

>Votem 😉✨

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Sempre
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