POV ANY GABRIELLY
Fodida, era isso que eu estava.
Não me lembro de muita coisa da noite anterior, só me lembro daqueles olhos extremamente azuis me olhando com todo o ódio do mundo, e de ser convidada a me retirar o palácio, acompanhados de dois guardas fortes me carregando e me jogando na grama do jardim.
Acordei com uma dor de cabeça dos infernos, e para ajudar aquela luz do sol invadindo as cortinas do quarto.
Nem me dei ao trabalho de me arrumar, desci de camisola mesmo para a sala de jantar, e como o esperado, fui recebida por olhares raivosos do meu pai e da minha irmã.
Nour: Você tem noção da merda que você fez ontem Gabrielly?
- Eu não...- antes que eu pudesse inventar algo inútil meu pai apontou para a cadeira, indicando para me sentar, e assim que fiz isso, ele me olhou por longos segundos.
Segundos que pareciam uma eternidade, acompanhados do olhar frio e raivoso que meu pai estava naquele momento.
Silvio: Você tem a mínima noção do que fez Any? Você arruinou o primeiro baile do futuro rei, empurrou o príncipe, e machucou o rosto dele, Eu estou totalmente decepcionado com você
- Pai...foi um mal entendido, eu não fiz por querer
Silvio: Um mal entendido que pode custar a economia do reino todo, acha que vão querer comprar algo de um pai que não educa a filha ao ponto de agredir o príncipe? Porra Any! Eu sou comandante do escambo, eu lidero todo o mercado, eu represento toda a frota de produtores e mercadores, eu dou a minha cara a tapa para o rei, eu que me prejudico se algo acontecer entendeu?
Nour: Você quer que de burgueses sejamos rebaixados a simples produtores? Quer fazer todo nosso dinheiro ir pro ralo? Por que se for, está no caminho certo - ela falou massageando as têmporas
- Não é para tanto, ninguém deve saber direito
Nour: Não, magina, seu nome nem está nas placas de notícias, e muito menos o povo todo está comentando que uma selvagem atacou o futuro rei, e nem sequer pensaram em ligar o seu nome ao do nosso pai
- ta bom...talvez tenha saído do controle
Silvio: Talvez? É sério isso?- ele perguntou rindo irônico
- Ta, eu exagerei, bebi além da conta, mas...não tem nenhum jeito de arrumar tudo isso?
Nour: Ter, tem, sempre tem, mas...a pergunta certa é, você estaria de acordo em fazer isso?
- fazer o que?
Nour: Não sei, mas algo que tire do seu nome o vínculo com violência contra o futuro monarca
- Acho que não dá para chamar tropeçar em uma mesa de violência
Silvio: Any Gabrielly Cala a boca, só por um segundo, e me deixe pensar, porquê se deve existir alguém interessado em não botar o nome da nossa família na lama, esse alguém, definitivamente deve ser você - ele falou assustadoramente calmo
Fiquei quieta por longos segundos, vendo meu pai andar pela sala repetidamente até eu voltar a quebrar o silêncio
- foi ele quem começou, ele quem deveria pedir desculpas ou fazer algo público, mal encostei nele...foi ele quem me empurrou, eu só me segurei nele para tentar me equilibrar e....
Silvio: Meu bem...não faço ideia de como te explicar isso, mas o povo, os comerciantes, os compradores, e principalmente a família real, não dão a mínima para quem começou o quê- ele falou se sentando finalmente na cadeira e servindo seu chá- como seu pai, até entendo, que pode não ter sido a sua culpa, mas, como comandante do escambo e representante dos mercadores e um dos líderes da burguesia local, tudo o que quero é resolver isso de forma amigável, ou então, seremos mandados a forca por desacato ao príncipe
Franzi o cenho e fiz uma careta com a segunda opção dita, eu estava acostumada a fazer confusões, e deixar meu pai atarentado com minhas atitudes, e principalmente parar na boca do povo por fazer coisas banais, como usar calças em grandes festas, ou então roubar alguma fruta da feira por diversão, mas nunca em um aspecto tão cataclísmico e político terrível quanto esse.
Silvio: Certo...eu não tenho tempo para perder pensando como você vai "ficar de bem" do príncipe, então...- ele falou levantando e indo até sua maleta que estava na cadeira, tirando alguns documentos de lá de dentro- Você - ele falou apontando para mim e me mostrando um documento que foi intitulado de: termos de acordo- vai fazer as pazes com o Joshua, vai viajar no sábado e passar o domingo no castelo real com ele, fazendo tudo de público que ele tiver como tarefa, sua função é fazer o povo ver que, não há nada de errado entre vocês dois, que são grandes amigos, e que aquilo não passou de um mal entendido.
- A opção de ir para a forca ainda está de pé?
Silvio: A Nour pode te explicar o resto - ele falou me ignorando completamente - tenho reuniões para o dia todo- ele falou terminando seu chá e vindo até mim, beijando minha testa e fazendo um carinho no meu rosto- Você é uma tonta, mas ainda sim, eu te amo meu solzinho- meu pai falou saindo da sala, me deixando a sós com a minha irmã
A cacheada me olhou com um olhar mortal, se sentou na ponta da mesa, e pigarreou sem tirar seus olhos de mim
Nour: Certo, o negócio é o seguinte, passei a noite toda acordada em uma reunião improvisada com um bando de encarregados reais metidos a besta, canalhas das relações públicas e a porra do cavalariço do príncipe para fazer isso dar certo, então você vai seguir esse plano à risca, e não vai fazer nenhuma merda, me entendeu?
Secretamente, ainda acho essa história toda completamente ridícula, mas concordo com a cabeça. Nour não pareceu nem um pouco convencida, mas continua:
Nour: Primeiro, o conselho da burguesia e a monarquia vão emitir uma declaração pública e conjunta dizendo que o que aconteceu no baile lunar não passou de um acidente e um mal entendido
- Que é o que foi
Nour: E, que, apesar de quase não terem tempo para se verem, você e o príncipe Joshua são amigos íntimos há anos.
- NÓS O QUE? NEM FODENDO NOUR- falei engasgando com meu chá e batendo na mesa
Nour: Olha maninha- ela falou tomando um gole de café que estava a horas em sua xícara - Os dois lados precisam sair bem dessa história, e o único jeito de isso acontecer é fazer parecer que sua briguinha idiota no baile foi algum tipo de acidente romântico entre amigos que se pegam as vezes, ta? Então, você pode odiar o herdeiro do trono o quanto quiser, escrever poemas duvidosamente maldosos sobre ele no seu diário, mas, no segundo em que ver um súdito, membro real, comprador ou negociante, vai agir como se fosse completamente interessada no Joshua, e vai ser convincente.
- Você conhece o Joshua? Como vou fazer isso? Ele tem a personalidade de um repolho
Nour: Você ainda não entendeu que não damos a mínima para como você pensa do príncipe? Eu te amo Any, você é a pessoa mais importante da minha vida, mas, isso tudo só está acontecendo para que sua idiotice não nos mate, ou ferre a economia no reino, e principalmente, que não tire o cargo do nosso pai. Você quer que ele suba num palanque imperial e explique para o país inteiro por que a filha dele está tentando desestabilizar as relações de solária e a família real lunar, e que logo em seguida, seja conduzido a forca?
Bom, não, eu não quero, no fundo, eu sei que sou uma estrategista melhor do que tenho sido nessa história, e, se não fosse por essa rixa idiota, provavelmente teria pensado nesse plano sozinha.
Nour: Bom, então a partir de agora, Joshua é seu melhor amigo, e possível ficante, você vai sorrir e acenar, sem encher o saco de ninguém enquanto você passa o fim de semana fazendo aparições públicas em prol do reino com o príncipe, e falando para todos, o quanto adoram a companhia um do outro. Se perguntarem sobre ele, quero que se declare como se fosse a merda do seu namoradinho de infância.
Concordei engolindo a seco e comendo uma fatia de bolo completamente em silêncio, enquanto minha irmã lia os documentos que meu pai havia deixado.
Ela me passou uma página de listas com tópicos e tabelas com dados organizados de maneira tão elaborada que eu mesma poderia ter feito. O título: ficha informativa de sua alteza real, príncipe Joshua.
Nour: Você vai decorar isso para que saiba o que responder se alguém tentar te pegar em alguma mentira.
Embaixo dos hobbies, está escrito, montaria, treino de arco e flecha, nadar, e ler bons livros.
Sinceramente, prefiro a forca, atear fogo em mim mesma, ou então me jogar da torre mais alta da igreja, do que fazer essas coisas ridiculamente chatas com o príncipe.
- Ele vai receber uma dessas sobre mim?
Nour: Vai, e só para ficar sabendo, fazer sua ficha foi a coisa mais irritante, sem modos e inapropriada que já escrevi em toda a minha vida, tive calafrios de imaginar um príncipe fazendo tudo o que você faz.
- Qual é, não são nada de mais, são simplesmente, coisas que historicamente uma mulher não deve fazer, e quer saber de uma coisa? Foda-se o que ditam para fazermos, só temos uma vida só, então se eu quiser pular de cascatas, usar calças, e fazer qualquer outra atividade vista como selvageria para uma mulher, eu vou fazer, porque quando eu morrer, vou ter a consciência tranquila que eu vivi a vida que eu sempre quis, e que não fui um fantoche do patriarcado, e você Nour, deveria fazer o mesmo
Ela suspirou me olhando por longos segundos
Nour: As vezes...queria ter essa coragem que você tem...as vezes cansa ser mulher em um mundo onde servimos apenas para engravidar e fazer as tarefas de casa...mas...essa sua rebeldia pode te levar a morte any, mulheres como você morrem em todos os lugares do mundo, morrem apenas por serem livres, por serem mais inteligentes que homens, ou então por saberem respostas que um homem não tem...aquela francesa, Joana d'Arc, a que ajudou na guerra dos cem anos, fiquei sabendo que foi queimada viva...as coisas não são tão fáceis, e temos que agradecer que nosso rei é bom de mais para nós...e é por isso que deve fazer as pazes com o Josh, porque querendo ou não, ninguém vai te dar moral se você for a selvagem que agrediu o príncipe.
Suspirei concordando com cabeça.
Nour: mas voltando ao assunto da sua missão...Uma entrevista com o escrivão, duas aparições conjuntas com um pintor particular para fazer um quadro de vocês, e aparições públicas de caridade para o reino, na qual o rei escolheu visitar um centro de cuidados médicos para crianças órfãs na praia do porto.
- Por que tenho que ir até lá? Foi ele quem me empurrou naquele bolo ridículo. A gente não deveria mandar ele vir para cá e aparecer em algum lugar importante de Solária?
Nour: Porquê foi o baile real que você arruinou, e foram eles que perderam quatrocentas moedas de ouro, além disso, estamos providenciando a presença dele em um jantar oficial da burguesia e mercadores daqui a alguns meses. E acredite, ele está tão animado quanto você em relação a isso.
- Mas que merda hein- resmunguei jogando a cabeça para trás
Se é o único jeito de salvar a vida da minha família, a economia do reino, e salvar a minha reputação, eu vou fazer isso, nem que eu tenha que engolir a seco aquele maurinho insuportável.............................................................................................................................................
Nota da autora
Foi isso, espero que tenham gostado, não esqueçam de votar e me perdoem os erros.
Beijinhos doces, Milla <3
12/01/2022
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Vossa Chatice Real - Beauany
FanfictionUm reino, dois povos, duas personalidades completamente fortes, inimigos por acaso, amantes por opção, uma história que pede licença para entrar na imaginação e nos corações de vocês. Any Gabrielly, uma jovem pertencente a burguesia, filha do princ...