Breakaway (Camren)

Ao meu lado

"Pai, eu conheci alguém, e eu realmente espero que você não me odeie, porque eu nunca estive tão feliz.
Sim, eu sei o que pensa sobre casais gays, e o que pensa sobre a Bíblia em relação a isso. Mas me diga, como o amor pode ser errado?
A verdade é que estou te escrevendo isso porque faz um tempo que eu não te sinto ao meu lado. Faz um tempo que o senhor foi embora.
Eu tento me convencer de que você só partiu porque sabe que eu estou segura, que finalmente meu espírito está em paz.
Mas quando deito no travesseiro, não posso deixar de pensar que talvez o senhor tenha desistido de mim, da mesma forma que a mamãe fez.
Eu não consigo a culpar, você consegue?
Nós dois sabíamos o que iria acontecer depois de partirmos, não é? Você estava com medo de morrer e não havia outra escolha.
Eu sinto muito que nos seus últimos momentos de vida tenha sentido que Deus te abandonou. Eu sei que não é verdade.
Quando você se foi, eu tive que me proteger. Você sabe, você estava lá comigo.
Durante anos os outros me temeram.
Eu tentei ser a mulher que o senhor se orgulharia em ter como filha. Fiz de tudo para mesmo longe de casa, ainda ser aquela Lauren.
O fato é que eu havia me esquecido que o principal motivo de eu não ter voltado, não se dava aos que me cercavam, mas sim porque eu era profundamente infeliz. As pessoas se aproveitaram de mim em todos os sentidos. Fui enganada, humilhada...
Ser temida foi a única forma que eu encontrei de me proteger.
Afastei-me de todos. Me fechei ao mundo, e tentei não deixar nenhuma brecha aberta.
Eu estava com medo, e estava sozinha pai...
Me enterrei no trabalho. Sempre foi algo que eu gostei de fazer. Consigo até ouvir mamãe ralhando daquela forma que fazia. Você se lembra do que ela dizia? "A vaidade é um pecado"
Céus, que ela não me veja agora.
Morreria de desgosto.
Com o tempo, tudo se tornou muito monótono.
Foi num fim de expediente qualquer que eu a notei.
Minha secretária.
Camila.
Eu havia a contratado há algumas semanas, e não havia de fato parado para nota-la.
Já era tarde, eu estava no saguão esperando por um carro para me levar para casa. Um homem a abordou, ele sempre ficava ali. Pediu por uma moeda, qualquer coisa que o ajudasse a ter algo para comer aquela noite.
Ela sorriu, trocou algumas palavras com ele, e ao seu lado, caminhou em direção a cafeteria do outro lado da avenida.
Sei que talvez seja algo bobo da sua perspectiva; aposto que Camz nem sabe que eu estava a observando, mas gosto de pensar que foi bem ali que me apaixonei.
De alguma forma, ela me fez lembrar da minha infância, de tempos simples, onde a bondade não era algo a ser aplaudido, e sim cotidiano.
De alguma forma, ela lembrou à eu mesma antes de ser corrompida.
Pensei nela por alguns dias, e talvez, tenha feito da vida dela um verdadeiro caos...
Eu nunca aprendi a realmente amar, pai. Todos os meus relacionamentos até então haviam sido um desastre. Acho que eu estava assustada, eu não queria outra decepção, não podia demiti-la. Que melhor forma de tê-la longe se não a afastar?
Não deu certo, como o senhor já pode imaginar.
E no final, eu sou feliz por isso...
Camila me ensinou muito mais do que possa imaginar. Com ela, aprendi que ser temida não é o único caminho possível.
Com ela, eu finalmente me sinto livre.

Com amor,

- L. Jauregui"

(...)

Lauren Jauregui

- Continua escrevendo para ela? - A voz veio súbita, próxima a minha orelha.

Como resposta, inconscientemente dei um pequeno pulo no assento, fechando o caderno quase imediatamente como reflexo.

- Puta merda, Elisabeth! - Ralhei irritada, ouvindo a gargalhada da loira se sobressaindo ao burburinho que o restaurante que nos encontrávamos ecoava.

- Desculpe. - Pediu, sem se conter. Tomou um lugar à minha frente enquanto tentava roubar meu caderno, sendo impedida pelo tapa que lhe acertei na mão.