1 - Tempo!

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Moscou- Rússia 18 de janeiro de 2020

Natasha desperta de seu sono agitado a sentir o coração acelerado e o choro entalado em sua garganta, os pesadelos sempre retornavam quando estava no aniversário do pior dia de sua vida, ela sempre tinha sonhos horríveis na semana em que marcava o dia da tragédia. E como de costume, ela não quisera levantar naquele dia, queria ficar na cama a dormir até acordar em um dia diferente, e ao mesmo tempo tinha medo de dormir e reviver tudo dolorosamente, era conflituosa sua cabeça e doía o fato de estar respirando.
Sem energia ou vontade, ela escorrega pra fora da cama obrigando-se a levantar e despertar, não iria voltar para aquele sonho ruim, recusava-se a voltar para eles, mesmo doendo a ausência deles, perde-los constantemente era ainda mais doloroso e ela sabia que teria mais alguns dias de agonia, antes de tudo ficar um pouco mais brando dentro de si, tem sido assim há um tempo. Após seus cuidados e higiene matinal, ela deixa o quarto a usar um conjunto de moletom preto, estava frio naquela manhã da mesma forma que estava dentro dela.

Ignorando a saudação da empregada e de sua mãe, ela segue para fora da casa, queria respirar ar puro, e ao sair o ar frio entra em seus pulmões a fazendo sentir dor, mas esta é bem vinda, amenizava a dor interna que a consumia naquele momento, a dor física era bem vinda numa tentativa desesperada de fazer com que sinta algo além da agonia que ela estava a sentir, que a consumia. Ela caminha em meio a neblina do grande jardim, queria encontrar um lugar e esconder-se, mas sentia que não havia lugar algum onde pudesse naquele momento sentir menos triste.

- Eu quero ficar sozinha sestra.
Ela fala ao ouvir os passos e sentir o perfume de Yelena a poucos metros dela, e escuta o suspirar alto da loira.

- Nossa mãe pediu para avisar que Anton vem jantar esta noite conosco. --- Yelena fala ao fundo e tudo que recebe em resposta é um aceno leve de cabeça vindo de Natasha.
- Você esta sofrendo, da pra ver fisicamente que esta, não deveria ficar sozinha.

- Eu não vou tentar nada.

Ela explica-se a caminhar e escuta os passos de Yelena ao fundo, seguindo-a e ao virar a irmã sorrir quando quase esbarra nela.

- Me deixe te ajudar. - a loira pede e Natasha nega-se.

- Não pode me ajudar, você não pode apagar qualquer lembrança que tenho daquela época, e nem me fazer não sentir o que estou sentindo, dói até respirar neste momento.

Natasha responde impaciente e seus olhos enchem-se de lágrimas, as quais ela tenta controlar, não queria chorar, pois temia que passaria o dia a fazer isto de maneira copiosa, depois de tanto tempo ela ainda surpreendia-se em ter lágrimas a derramar. Ela toca o colar com um pingente e um par de crianças no mesmo, ela não o removia do pescoço desde que o ganhara quando ainda esperava seus bebes, os mesmos pelos quais ela chorara tantas vezes nos últimos três anos.
A jóia trazia a ela uma lembrança dupla, a doce memória do dia em que descobrira que haviam dois bebes em seu ventre, e a felicidade após o susto, da mesma forma que trazia a ela a amarga lembrança da perda, do que ela deixara escapar por entre seus dedos, causando uma melancolia em momentos como este.

- Eu perdi tudo.

- Você ainda tem a mim, eu ainda estou aqui e estarei aqui. - Yelena responde obvia e a abraça.

- Eu sei, agradeço, mas no momento não diminui a tristeza que sinto.

A resposta de sua irmã é um leve aceno de cabeça e ela abaixa-se sob a arvore, escorando-se no tronco da mesma a sentar no chão e agarrar os próprios joelhos. Nos últimos três anos desde que despertara e percebera a tragédia em que encontrava-se, ela afundou-se no luto, inicialmente nas primeiras duas semanas ela chorava e recusava-se a aceitar a realidade, a fase da negação fora imediata a noticia, lembrava-se de gritar na cara de sua mãe que ela estava mentido e de bater na mesma, após a segunda semana viera a raiva e ela quebrara todo o quarto em um excesso de fúria misturada a barganha, mas esta fora a fase mais rápida, fora cerca de uma semana surtando e tentando seguir como se nada tivesse acontecido, enfiando-se em calmantes para não sentir, apenas vencer um dia de olhos abertos sem quebrar nada, e tentava sorrir, mas não conseguia.

Broken - Romanogers 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora