Capítulo 9

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Dulce Maria

Quando eu notei, já tinham passado duas horas que eu estava chorando naquele parque, completamente sozinha. Resolvi, do nada, que não deixaria mais uma briga idiota me abalar, não era justo comigo mesmo.

Comecei a rolar o Instagram e me deparei com uma foto de Christian, ao seu lado estava Christopher. Parei pra prestar atenção nos detalhes do meu ex amigo. Ele estava, com toda certeza, mais forte, seu cabelo estava mais cheio mas alguma coisa não parecia certa. A postagem havia sido feita a poucos minutos atrás, e talvez eles teriam tido alguma conversa tensa. Por um momento, me passou pela cabeça o que poderia ser e aquela vontade de deixá-lo bem e confortá-lo até sua dor passar.

Enxuguei mais meu rosto e resolvi ligar para Anahí, era ela a pessoa que me deixaria desabafar, sempre foi e nada vai mudar isso.

— Annie... — Eu disse choramingando assim que ela atendeu a chamada de vídeo.

O que aquele imbecil fez agora? — Anahí não gostava de Fael, e eu dava razão a ela, era muito difícil de gostar dele.

— Nós brigamos, ele ficou puto comigo porque eu não quis ir para a piscina com ele. Disse que pagou essa viagem pra nós dois e que eu tinha que ir junto... — Ouvi Anahí respirar fundo e me olhar com tédio.

Sabe o que eu penso disso, né? Dulce, larga dele. Esse relacionamento abusivo não vai dar certo, ele vai te destruir.

— Mas eu o amo...

Como você pode achar que ama alguém que tira seu brilho dessa maneira? Que te faz mais chorar do que sorrir? Dulce você era igual um passarinho, vivia alegre e feliz por onde passava, depois que esse cara entrou na sua vida, você murchou. — parei um minuto pra pensar no que Anahí estava me dizendo, olhando pra trás, realmente ela estava certa. — Dul, você tem que saber diferenciar as coisas: você o ama ou está acomodada em um relacionamento?

— Eu não sei, Annie, de verdade. Sinto falta da minha liberdade, de ter momentos sozinha, do... — minha voz morreu e eu engoli seco.

Do Christopher? Sim, eu sei. — ela me completou.

— Como ele está? — sempre me perguntava como ele se sentia, o que fazia da vida, sempre quis me sentir próxima a ele mesmo de longe.

Está com a Carla. — ela disse indiferente. — Vocês dois dão muito trabalho para Christian e eu, sabia? — ri fraco e assenti. — São melhores juntos, Christopher não tem aquele brilho no olhar a tempos já, assim como você.

— Confesso que o que eu mais queria era conversar com ele, mas tenho medo e vergonha...

Ué mas por que?

— Porque eu errei, Annie, eu me afastei, deixei Rafael me manipular o suficiente, Christopher sempre lutou pela nossa amizade e eu não fui capaz de retribuir isso, me sinto fraca e envergonhada.

Eu sei, todos nós sabemos, mas a gente também entende que isso não foi culpa sua, e sim do Rafael. Você deixou se levar, minha ruiva, e eu sei que Christopher entende isso.

— Esses dias, no meio de uma briga, eu disse a ele que estava cansada de ser manipulada por ele, e desse abuso psicológico que ele faz. Ele se fez de vítima, começou a chorar e disse que só fazia isso porque me amava demais e tinha medo de me perder...

Deixa eu adivinhar: ele também disse que ninguém nunca vai te amar como ele te ama?

— Sim...

Ele te vê como um troféu. Essa é a realidade. Não acha muito estranho que não tem uma pessoa em sua volta que goste dele? Seu pai, sua irmã, até sua sobrinha que ama todo mundo, odeia ele.

— Clarinha não gosta de chegar perto dele...

Pois o problema não está em você, e sim nele. — respirei fundo digerindo aquelas palavras duras. — Nunca vi tio Fernando não gostar de alguém, ou a Clara. Estou te dizendo isso porque sei que é o melhor pra você, Dul. Desde que começou a sair com ele, você teve mais crises de depressão e ansiedade, você chora o tempo todo, está abatida, fora que mudou completamente seu jeito de se comportar e de se vestir... Isso não tá certo, sua relação não é saudável.

— Ok, Anahí, eu entendi. — estava começando a me irritar ao perceber tudo aquilo, mas não necessariamente com ela e sim com a situação.

Está se sentindo atingida, né? Era isso que eu queria.

— Estou, e está me deixando nervosa.

— Eu sei, mas estou te falando isso faz tempo e você parece estar cega. Só não sei com o que. Você está dependente emocionalmente e por isso não sai dessa prisão que está.

— Talvez eu esteja começando a perceber. — Anahí despejou muitas coisas em cima de mim, mas acho que eu precisava daquilo, se fazia necessário naquele momento.

Faz quanto tempo que está aí sozinha? — ela me perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

— A umas duas horas já.

Ele foi atrás de você? — neguei com a cabeça e ela suspirou. — Te mandou mensagens?

— Sim. Disse "volta pro quarto agora" e que ele estava me esperando na piscina do hotel em cinco minutos. Isso já faz uma hora. Estou apreensiva de voltar.

Dul, ele já fez algo contra você? Fisicamente falando. — ela parecia receosa de perguntar e eu a entendia, não era fácil.

— Não chegou a me bater, mas já levantou a mão pra mim...

Meu Deus. Minha ruiva, eu te imploro, sai desse relacionamento, você não merece isso, você sempre foi uma pessoa tão iluminada e cheia de vida, não suporto te ver assim. — respirei fundo e deixei uma lágrima escorrer pelo meu rosto, estava tomando consciência do que Anahí me dizia e eu dava razão a ela. — Quando você volta de viagem?

— Amanhã pela manhã...

Vou te buscar no aeroporto e você vem pra minha casa, nós vamos conversar pessoalmente e ele não vai falar nada sobre, ok?

— Ok...

Ótimo. Agora tenho que ir, bebita, estou atrasada pra encontrar Christian.

— Diga a ele que mandei um beijo e... estou com saudades. — ela sorriu fraco e assentiu.

Pode deixar. Amo você.

— Amo você. — suspirei e desliguei o telefone. Era hora de voltar para o hotel e lidar com a minha realidade.

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