Lilith

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A primeira mulher de Adão, aquela criada por Deus com o objetivo de ser a mulher submissa que ajudaria na criação dos mundanos em sociedade; a verdadeira face, um demônio em corpo feminino, em um formato sedutor. Pronta para dominar qualquer território, a verdadeira mãe de Lúcifer.

O diabo está disposto, pronto para cruzar o portal entre os planos e encarar após muito tempo as pupilas da mãe. A idéia de encontrar Lilith o deixava inquieto, seus batimentos não encontravam um único ritmo a seguir, as mãos suavam causando desconforto a ferida; desenhou o corte a palma pressionando os dentes um contra o outro, remuia amargurado a certeza da culpa que sua mãe tinha sobre tal fraqueza. Lúcifer é muito poderoso, sua força, seus encantos, sua manipulação, tudo isso é incomum. Agora, sua mãe lhe tirara a sua amada imortalidade.

Pressionou o couro do volante respirando o mais fundo que podia, tentava se acalmar. Desceu do carro pisando no solo marrom, coberto apenas por gramas já sem vida e terra por todos os cantos; estava em uma floresta afastada da cidade, o barulho dos pássaros em cima da sua cabeça junto ao cheiro único da natureza preenchiam todo o lugar.

Abotoou o terno preto por cima da blusa com gola rolê do mesmo tom, um Vanquish II, uma marca que agrada muito ao gosto do diabo. Correu as mãos por ambas as laterais da cabeça, acompanhando o cabelo segurado para trás por um gel, uma única madeixa de fios castanhos caiam sobre sua testa, estava impecável; cerrou os punhos antes de trancar o carro e caminhar até o centro de uma sequência de árvores ali perto, retirou a moeda do bolso sorrindo provacativo para si mesmo, via graça em seu motivo. Recostou a palma na terra antes de dizer as palavras que conhecia bem sentindo-a tremer ao decorrer de suas falas.

O portal foi aberto, Lúcifer passou com certa calma, fitando uma última vez o seu veículo que lhe esperaria ali. Se pois ao inferno puxando o ar com força, enchendo os pulmões com o aroma de enxofre que embargava o lugar; seus pés praticamente andavam por si, tinha apenas um objetivo, concluiria e voltaria para a terra, sem mais.

O lugar que guardava Lilith era distante ao reino do diabo. Silêncio, plano e completamente seguro, ninguém chegava lá além de Lúcifer ou com a companhia de tal.

A mulher estava cercada por uma grande poderosamente encantada, o ferro queimaria qualquer um que tentasse toca-lo; ao centro a dama de roupa vinho e fios tão negros quanto a profundidade dos olhos do cão, essa que encarava a própria palma brincando com os seus poderes, não notou o filho alí.

—Vejo que arrumou uma forma de passar o tempo.— Sibilou audivel notando o olhar calmo mas ainda sim espantado da mãe. Lúcifer nunca dava as caras por lá.

—Lúcifer.— disse em um tom encantador.—Que bom ver você meu filho.—

Taehyung apenas suspirou pesado. Correu os olhos por toda a cela sorrindo ao perceber que era acompanhando pelos olhos também castanhos da mãe; aproximou-se das grades podendo sentir as vibrações que a proteção tinha, seus pelos eram quase que atraídos por tal. Serrou os olhos retirando a moeda do bolso, ponderando-a entre os dedos.

O olhar de Lilith fitou o ouro daquele pequeno circulo, a liberdade em mãos ao filho e mesmo assim tão distante, era tentador.

—Serei breve, Lilith. Não gosto de perder tempo.— falou frio e odiondo.—Quero que pare o que estava fazendo, é ridículo, um péssimo plano vindo de você.

A face da mulher foi em direção a dúvida. Não entendeu o rumo da conversar.

Taehyung estranhou o seu olhar mas não acreditou, achava que a mulher estava fingindo, iria ser mais direto. Retirou a mão enfaixada do bolso, desenrolando calmamente a atadura que cobria o corte em palma; a mãe encarou aquilo incrédula, Lúcifer estampava a sua fraqueza em frente ao seus olhos e mesmo assim não se era possível acreditar.

Aonde o diabo se escondeOnde histórias criam vida. Descubra agora