Capítulo 42

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Valentina

Amarrada numa cadeira em um casebre no morro do Cajú, observo Welinton e mais alguns homens tramando algo, mas não consigo definir o que dizem porque estão um pouco afastados de onde estou. Os homens saem para fazer a ronda ou algo assim, ficando somente Welinton. Ele tira uma arma das costas e coloca sobre uma mesa sem tirar os olhos de mim. Ironia do destino, acreditava que ele me amava até descobrir que estava bem vivo, ainda bem que não acreditei mais em nenhuma palavra sua.

- E então, poderosa Tina do Morro! Primeiro o Dante e agora eu te sequestrei tão fácil, parece que sua vida não vale nada mesmo - ele se aproxima e fala com desdém

- Vale bem mais que a sua! - digo com raiva, que nesse momento é bem maior que qualquer medo que esteja sentindo. 

- Se você tivesse voltado para mim, agora poderíamos chefiar os dois morros. Eu seria invencível! - ele tenta tocar em meu rosto mas viro, sentindo nojo de seu toque

- Eu não voltaria para você nem se fosse o último homem da terra, covarde! - me exalto. 

- Minha Tina sempre esquentadinha! - ele entranha a mão em meus cabelos e puxa com força ficando cara a cara comigo.

- Acaba logo com isso se você tiver coragem! - rosno, fingindo uma valentia que realmente não estou sentindo. Ele abre um sorriso diabólico e começa a falar algo, mas antes que diga qualquer coisa, tiros e sons de luta são ouvidos. A porta cai solta no chão e Dante junto com Roger invadem, suspiro de alívio vendo os dois aqui. Dante parte para cima de Welinton o afastando de mim e Roger se apressa em me desamarrar.

- CUIDADO, DANTE! - grito mas não é suficiente para que ele se proteja do homem que entra pela janela com uma barra de ferro na mão e o acerta em cheio, fazendo com que caia meio grogue no chão. Welinton levanta e pega a arma sobre a mesa.

- Afaste-se dela, Roger! - ele aponta a arma para Roger que estava terminando de me ajudar a desamarrar meus tornozelos. Roger levanta as mãos em rendição, virando devagar.

- Não vou deixar que machuque a Tina ! - diz Roger firme, mas Seco não dá ouvidos e com os olhos brilhando de ódio, muda a direção apontando para mim.

- ESSA VADIA MORRE HOJE! - fecho meus olhos pronta para receber a punição por todos os erros que cometi nessa vida. Mas abro no instante que sinto braços fortes ao meu redor, ao mesmo tempo sons de dois disparos rasgam o ar. 

Meu coração bate tão acelerado que acho que vai parar a qualquer minuto. Olho atônita para o rosto de Roger bem próximo ao meu, aos poucos seus braços afrouxam o aperto na minha volta e suas pernas vão perdendo as forças. Caio de joelhos abraçada a ele.

- Me perdoa por te trair, Tina... - ele fala com dificuldade

- DANTE, UMA AMBULÂNCIA! - grito levantando a cabeça, vejo que mais homens se juntaram a Dante imobilizando Seco e o comparsa. Assim que me ouve, ele pega seu celular e fazendo a ligação - Você vai ficar bem! - falo para Roger tentando em vão segurar as lágrimas que começam a cair. 

- Tudo que eu queria ... era que você me olhasse ... como olha pra ele - ele abre um meio sorriso e começa a tossir, ficando cada vez mais pálido.

- Você não pode me deixar, não pode, ouviu! - o desespero bate e soluço sem conseguir mais conter o choro. Ele ergue uma mão com dificuldade e passa suavemente os nós dos dedos em meu rosto. 

- E-eu sempre... te... amei! - seguro firme sua mão, segundos depois seu olhar fica vago e então vejo ele dar seu último suspiro.

- NÃAAAAAOOOOOOO! - urro de dor. Uma dor que não é na pele. É direto no meu coração.

O miliciano e a dona do morro ( Brutos que amam - Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora