Capítulo 47

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Dante

Encaro minha mulher, que de cabeça baixa dá o quinto ou sexto suspiro desde que sentamos à mesa. Alheia a conversa que segue, ela apenas revira a comida para lá e para cá em seu prato, sem realmente comer.

Valentina está distante, preocupada e não é de hoje. Ela tem trabalhado e se empenhado tanto nesse projeto que mal nos vimos nesses últimos meses, mas parece que tudo pode ruir a qualquer momento. Aquela garota fez o maior tumulto na inauguração da ONG a uns dias atrás, se não bastasse isso, ela tem dado a maior dor de cabeça tentando fazer com que as pessoas desacreditem do projeto com seus protestos e invasões ao prédio.

Andreas e Bruno sugeriram dar "um susto" na garota, mesmo com uma vontade enorme de mandar ela de volta para o lugar de onde veio, os impedi. Sei que por mais que esteja deixando Valentina estressada, ela ainda é irmã do homem que salvou a vida da minha pimentinha e essa dívida de gratidão não terei como pagar nunca. Suspiro fundo mergulhado em pensamentos ainda encarando Valentina quando Andreas me interrompe.

- Dante... DANTE!! Estou perguntando se gostou do vinho, é um dos vinhos Mineti & Fontini que trouxe para você! - diz Andreas, estamos reunidos na base num almoço de despedida, já que retornam para a Itália hoje.

- Da sua vinícola? - bebo da taça, apreciando o presente. Na mesma hora, Valentina engasga com a bebida.

- O que foi, Valentina? - Olívia levanta para bater nas costas de Valentina que tosse.

- Uma vez recebi um recado de um tal capo brasileiro e mandei que fosse fazer vinhos ao invés de me perturbar. Nunca imaginaria que isso pudesse ser verdade - diz  Valentina sincera e um silêncio constrangedor se faz por alguns minutos até que Andreas explode em gargalhadas suavizando o momento.

- Você é realmente apimentada, garota! - diz ele e todos acompanhamos os risos.

...

- Sei que não foi fácil, mas muito obrigado, amigo! - diz Andreas quando estamos no aeroporto nos despedindo dele e de Olívia. Bruno ainda ficará para ajudar Valentina por mais um tempo.

- Sabe que pode sempre contar comigo, Italiano! - bato com a mão em seu ombro.

- E você comigo! - ele me abraça, esses italianos e suas manias de muita aproximação. Nos separamos e ele se despede de Bruno enquanto as duas mulheres conversam animadas ao nosso lado.

- Muito obrigada pelo apoio com a ONG! - Valentina diz a Andreas.

- Era um sonho da minha principessa e só ajudei a realizar! - ele circula o braço na cintura da esposa e beija seus cabelos.

- Espero vocês em nossa casa na Itália! - Olívia diz alegre vejo um sorriso amarelo brotar no rosto da pimentinha, que acena a cabeça.

- Bruno pode resolver qualquer problema, se não puder, nos ligue ! - diz Andreas colocando uma mão sobre o ombro dele.

- Quando não tiver problemas, pode nos ligar também! - Olívia diz segurando sua mão e as duas amigas riem.

O jato parte, Bruno retorna para o hotel onde está hospedado e seguimos de volta para o sítio. O caminho todo é feito num desconfortável silêncio. Entramos em casa, Valentina sobe direto para o quarto e eu vou para o escritório procurar alguma coisa para ocupar meu tempo e minha mente.

- Podemos conversar? - cerca de uma hora depois, ela entra no escritório com uma expressão séria.

- Claro! - levanto, " Valentina vai me deixar" minha mente grita e me aproximo o mais lentamente possível dela.

- Eu... eu não sei por onde começar! - ela gagueja e engole seco.

É uma despedida! Sinto que é. Não posso deixar minha pimentinha, a mulher que amo, ir embora assim e não fazer nada, não sem lutar, mesmo que precise implorar para ela fique. 

- Não me deixa, pimentinha! - encaro seus lindos olhos verdes e o que vejo neles me destrói por dentro. 

Ela não vai ficar !

O miliciano e a dona do morro ( Brutos que amam - Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora