Capítulo 45

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Valentina

Hoje é feriado no Morro do Alemão, estamos comemorando a abertura oficial da ONG. Nada como ter dinheiro à disposição, em poucos meses nossas obras terminaram e podemos em fim por em prática tudo o que planejamos. A escola daqui que antes era precária foi reformada, ao lado construímos um prédio de 3 andares onde as crianças tem alimentação e aulas de reforço, além de um ginásio com quadra de esportes que é onde estamos. Ao lado temos um pavilhão onde os adultos tem oficinas de aprendizado em diversas áreas e depois são encaminhados à empresas parceiras para trabalho.

O local está cheio, crianças felizes e agitadas brincam por toda a parte, vários empresários também estão presentes, todos dispostos a ajudar. Ter um milionário como sócio realmente atrai investidores como moscas, não que eu reclame por isso, muito pelo contrário.

Depois que acertamos nossa sociedade, Olívia e Andreas voltaram para a Itália, deixando Bruno como seu representante. Ele tem me ajudado muito e descobri, convivendo de perto, que apesar desse ar meio assustador e carrancudo, ele não é tão ruim assim quanto parece.

Bruno é quem me faz companhia, já que Dante foi pessoalmente até o aeroporto buscar Olívia e Andreas que vem especialmente para a inauguração. Por sorte ele fala português perfeito e assume as conversas com os investidores, já eu estou distraída e ansiosa olhando a todo momento para porta, sentindo uma falta enorme do meu miliciano que está demorando para chegar.

A porta é aberta bruscamente, chamando a atenção de todos. Uma garota entra e olha para todos os lados parecendo procurar por alguém, assim que me vê, marcha em minha direção. Fico observando, encarando-a, enquanto se aproxima.

Ela é bonita e não deve ter mais que 20 anos, seus cabelos escuros e cacheados balançam conforme sua passada firme, apesar da expressão dura que me olha, seu rosto parece ligeiramente familiar.

Assim que ela se aproxima, estica suas mãos e me empurra forte pelos ombros, fazendo com que eu cambaleie para trás. Bruno e mais alguns de seus homens sacam as armas, apontando para a garota na mesma hora.

- NÃO! BAIXEM AS ARMAS ... - digo alto e os homens obedecem. Reconheço esses olhos, são os mesmos que sempre me acompanhavam, os do meu melhor amigo - ... Dandara, é você ?

- VOCÊ.MATOU.MEU.IRMÃO! - ela rosna, a fúria estampada em seu bonito rosto, balanço a cabeça negando.

- Não! Você sabe o quanto Roger era importante para mim, florzinha! - me aproximo alguns passos, a chamando pelo apelido de criança, mas paro quando ela recua.

- Não me chame mais assim e eu não acredito em você! - ela rebate alto, ríspida

- Quer que eu dê um jeito nessa ragazza? - Bruno se aproxima ainda mais para intimidá-la, estico meu braço impedindo que avance.

- Acha que tenho medo? - ela o encara de volta, corajosa. Vários convidados se aproximam curiosos e um murmurinho começa. Dandara olha para os lados, vendo que se tornou o centro das atenções.

- Me aguarde. Isso não termina aqui! - ela diz antes de virar indo em direção a porta.

- Ela não é mais a florzinha que nos seguia para todo lado - murmuro para mim mesma, pensando na última vez que a vi, era só uma garotinha com pouco mais de 12 anos. Logo que conhecemos Welinton e iniciamos no tráfico, Roger enviou a irmã e a avó para longe do Rio para viverem sossegadas, ele evitava até mesmo fazer visitas com medo de que algum inimigo as encontrasse, mas nunca as deixou desamparadas.

- Eu cuido disso. Não faça nada com ela! - fico em frente a Bruno para dar o aviso, mas seus olhos ainda seguem a garota que atravessa a porta.

- Florzinha?! Una fiori! - ele murmura ainda sem me olhar. Arregalo meus olhos atônita quando vejo, pela primeira vez desde que o conheci, ele levantar um lado da boca num meio sorriso. Abro a boca para perguntar o que está acontecendo, mas antes que eu diga uma palavra, ele vira as costas e sai, me deixando a ver navios.

O miliciano e a dona do morro ( Brutos que amam - Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora