Depois de a última mesa ser desocupada, só me resta organizar tudo, enquanto Wai contabiliza o estoque de bebidas.
Sempre fazemos revezamento e hoje a parte da limpeza ficou comigo.
No geral não acho ruim, já que no final Wai sempre me ajuda, segundo ele, eu trabalho a passos de tartaruga e só sou rápido para brigar — essa última parte ficou no passado — e ele usa disso para tentar me provocar.
De certa forma ele não está de todo errado — devo admitir — mas a verdade é que dessa maneira posso desfrutar de sua companhia por mais tempo e mais de perto.
É verdade que nossa sociedade foi uma surpresa para muitos. Quem, em sua sã consciência, imaginaria que arqui-inimigos poderiam vir a se tornar sócios algum dia?
Mas quem imaginaria muitas coisas?
Por exemplo, quem imaginaria que a maldita frase dita por Pat, ficaria corroendo meu cérebro a cada segundo?
"Se vocês fossem solteiros, eu pensaria que vocês têm algo"
Para alguns pode ser uma simples frase, sem o menor significado, mas não para mim.
A verdade é que se eu pudesse ser o narrador de um livro que contasse minha própria história, essa seria minha versão: um garoto de engenharia que se apaixonou pelo cara mais bonito de arquitetura, mas teve que se esconder em meio a brigas sem fundamentos, com medo de ser massacrado.
Se fosse um pouco mais afundo, acrescentaria: após se tornarem próximos, o medo de perder a recente amizade fez ele fazer a maior loucura de sua vida, noivar com uma linda jovem, para, de novo, não arriscar.
Parando para pensar, minha história seria um verdadeiro drama com doses de ação e muitas, muitas mentiras.
— Kooorn — escuto a voz de Wai arrastada, vindo na minha direção e volto rapidamente a limpar a mesa que havia começado antes de fantasiar sobre minha própria tragédia — O que você está fazendo? — perguntou franzindo o cenho, olhando na direção da mesa — É um método novo limpar com cerveja?
Voltei tão rápido a limpar a mesa que nem notei ter virado um resto de cerveja sobre a mesma, enquanto espalhava com o pano.
Shia! Por que tudo tem que acontecer comigo quando viajo nas minhas ideias? — Penso.
Me viro pro lado e observo o rosto de Wai que tenta com muito esforço reprimir um sorriso, não o culpo, se fosse o oposto, não conseguiria me conter e cairia na gargalhada.
Vejo ele virar de costas e ir até o bar e voltar com outro pano em mãos, limpo.
— Relaxa, você já trabalhou demais hoje — ouvi ele dizer, me empurrando para sentar na cadeira da mesa seguinte — Você já gastou suas energias com as turmas de engenharia e arquitetura mais cedo — analiso ele de costas limpando a bagunça que causei e mesmo de costas, sei que ele está rindo da situação.
— Você disse que eu sou bom com isso — relembro sua fala, que ouvi de relance mais cedo.
— Uma ova que você é bom, só digo isso para aumentar seu ego.
Após terminar a limpeza das duas mesas que faltavam e suspender as cadeiras sobre as mesmas, ele volta a caminhar até o bar, levando consigo alguns copos e o pano utilizado na tarefa, colocando sobre a pia e retornando com uma garrafa de whisky, dois copos com gelo e alguns petiscos, os quais deposita sobre a mesa, logo depois puxando a cadeira — de frente com a minha — se senta e me encara com um sorriso singelo.
Ele gosta de me provocar e mesmo que ele não saiba, consegue me provocar até mesmo em meio a um sorriso fodido.
— Você vai acabar nosso estoque de whisky dessa forma — seu sorriso se alargou com meu comentário e ao invés de responder, apenas depositou o líquido nos dois copos, pegando um, na sequência o elevando, enquanto ofereceu um brinde.
Apenas balancei a cabeça negativamente e sorri, olhei a hora no celular — uma da manhã — um bom horário, penso. Coloco o celular de volta sobre a mesa e pego o copo destinado a mim e repetindo o gesto anterior, degustando em seguida.
O gosto amargo do whisky é o que mais me agrada. Enquanto ele desce queimando a garganta, um sabor adocicado se forma na ponta da língua, seguido de uma leve dormência, quase imperceptível.
E de novo a maldita frase surgiu em meio a outros pensamentos e quanto mais ela insiste em aparecer, mais o líquido escuro diminui da garrafa.
Wai me olhava curioso em alguns momentos, entretanto me acompanhou em cada nova dose sem pestanejar. Essa é uma das coisas que aprendi a admirar no homem à minha frente, mesmo com toda a carcaça de alguém que mataria apenas no olhar, ele se preocupa com os que estão próximos e demonstra da maneira dele.
Sim, às vezes ele é um completo idiota e faz coisas impensadas, porque mesmo depois de tanto tempo, a impulsividade ainda é muito presente.
— No que você tanto pensa? — perguntou mordendo a bochecha direita, levando mais uma dose de whisky à boca.
— Nada de mais... só que o Pat às vezes tem observações muito loucas — dou um meio sorriso, porque, no fundo, para mim não era uma observação qualquer.
Considerando que nunca mencionei meus reais sentimentos a ninguém — nem mesmo ao Pat — não precisaria me preocupar.
— Concordo.
Vi ele abaixar a cabeça e sorrir — em seguida — passando a mão pelo rosto. Acho que ele já está bêbado, considerando que seu rosto está vermelho e seus olhos parecem procurar um foco enquanto tentam se manter abertos. Mas e o sorriso? Esse continua estampado em seu rosto.
— Do que você está rindo? — pergunto depois de seu sorriso, antes silencioso, se tornar cada vez maior.
— É que... se você não fosse noivo... eu realmente daria em cima de você.
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Uma Da Manhã↬KornWai ◈Bad Buddy The Series◈
أدب الهواةDois jovens que venceram a barreira da inimizade e acabaram por abrir um bar juntos, encaram de frente a montanha russa de sentimentos que surge com a aproximação. Korn que secretamente nutria sentimentos por Wai desde a faculdade, acaba por ficar n...