XVII

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Gabriela tamborilou os dedos na mesa de madeira. Os olhos vagavam de Roberta para Natália e ela se perguntou por quanto tempo ficariam ali, só esperando. Esperando os resultados, esperando notícias de Lina. Esperando Sheilla retornar da universidade. A melhor notícia do dia tinha sido que os companheiros tinham fechado o caso em que estavam trabalhando antes do caso da mãe de Lina. Apesar do contratempo com os exames que não combinavam, não levavam a nenhuma pista, eles conseguiram a pista mais concreta para colocar o assassino de uma vez por toda atrás das grades: vestígios de sangue animal que levaram a um abatedouro da cidade... um que não estava mais em funcionamento, mas que tinha manchas de sangue – humano – espirrado nas paredes. E uma bela digital brilhando à luz negra, esperando para ser capturada e analisada. Deixada por um descuido, certamente. Nenhum crime era perfeito, era o que Gabriela acreditava, só se tinha que olhar para os ângulos certos para poder desvendá-los.

Embora a notícia tenha deixado a detetive contente – afinal de contas era sempre ótimo colocar um bastardo como esses atrás das grades para ver o sol nascer quadrado pelo resto da vida – Gabriela não conseguia colocar de lado a preocupação que sentia por Lina, por Sheilla.

Não conseguia se desfazer da sensação de que os próprios pés estavam presos à terra, afundados na lama, e que ela não podia se mover. Durante o dia recebera três alarmes falsos de Kasiely – pequenas filmagens de câmeras espalhadas pela cidade mostravam uma garotinha sendo carregada por um homem suspeito, mas no final descobriram não ser Lina.

Um telefone ao meio-dia entregava uma criança perdida num parque próximo, mas outra vez, a menina não era Lina. Encontraram os pais poucos minutos depois. E uma terceira, uma foto de uma menina de olhos castanhos e cabelo castanho claro – Gabriela nem precisou encarar muito para saber que não era ela. A cada notícia a morena se sentia decepcionada, mais frustrada.

Ela não tinha sido clara com Sheilla quando a morena lhe mandou mensagem perguntando sobre o caminho da investigação. Dizer que informações estavam chegando não era exatamente verdade, mas pelo menos as coisas estavam andando, pessoas estavam de fato entrando em contato quando achavam que poderia ser a garotinha. Isso contava como algo, ela imaginou. Já havia se passado vinte e quatro horas desde o desaparecimento dela, e Gabriela sabia que a partir disso a busca poderia ser classificada como crítica. Inquieta, ela resolveu se levantar da cadeira e procurar por Kasiely. Fazia mais de uma hora que Sheilla tinha ido para a universidade e ainda não voltara. A detetive queria ter algo novo para dizer quando ela chegasse. Talvez alguma notícia realmente animadora.

– Tô indo lá pra cima. – Ela disse para Roberta e Natália antes de virar as costas e sair para o elevador.

As duas trocaram olhares. Se elas estavam certas nas contas, era a décima quarta vez que Gabriela dizia algo do tipo. Vou lá para cima, vou checar com Kasiely, vou ver como andam as buscas. Sempre inquieta, impaciente.

Inconsciente dos olhares preocupados sobre ela, a morena apertou o botão do elevador e entrou quando as portas se abriram. Depois de apertar o número quatro, ela cruzou os braços na parede metálica e encostou a cabeça ali, soltando um longo suspiro. Ela estava praticamente em seu limite. Os últimos dias estavam sugando todas suas energias e era extremamente difícil achar uma fonte para renovação. Ela se perguntava se essa noite seria tão difícil quanto a anterior, o quanto ela teria que dar de si para se manter focada, para não perder o controle.

Na noite passada ele tinha quase escapado pelos seus dedos. Sheilla precisava dela, e como ela iria cuidar da morena considerando o quão pouco de autocontrole e energia sobravam para si mesma? Como ela iria dizer para Sheilla do mais simples modo de que tudo ficaria bem sendo que isso soava tão frágil e quebradiço para ela mesma? O que ela oferecia a Sheilla quando não tivesse mais no que se apoiar, enquanto qualquer informação de Lina que deveria dar suporte para se manter na expectativa de que recuperariam a menina, agora lhe deixava com a sensação de estar flutuando sobre um abismo a ponto de ser abandonada pelo poder mágico e despencar em queda livre a qualquer momento?

Sobre Amor, Tartarugas e Novas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora