XXV

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– Lina! – Sheilla chamou do quarto. A menina se recusava a tirar o pijama de tartaruga. Ela pulava cheia de energia em cima da cama e já era quase uma da tarde. – Lina, por favor. Gabriela logo vai sair e... – Nada. Ela não conseguia fazer nenhum acordo com a menina. Cansada, ela se virou e saiu do quarto e deixou que a criança continuasse pulando lá. A verdade é que ela estava nervosa. Ela odiava quando Gabriela precisava fazer esse tipo de coisa. O caso nem era dela. Henrique podia lidar com esse tipo de situação. O mais velho poderia, perfeitamente, entrar disfarçado num lugar e recolher informações sem problema nenhum. Sheilla entendia que era irmão dela, era seu cunhado, mas a perspectiva de Gabriela metida, mais uma vez, em missões assim... Ela não conseguia se lembrar de uma que não tinha envolvido armas disparadas e policiais feridos.

Ela seria apenas o reforço, caso desse algo errado. Mas e se algo desse errado? Uma pequena briga tinha acontecido entre elas na noite anterior por causa do assunto. Gabriela entendia o lado dela, mas não desistiu da ideia. E Sheilla, é claro, como ela poderia exigir que Gabriela não fosse? Era o que ela fazia, afinal de contas. Então foi a médica que cedeu. Foi ela quem encerrou a discussão e disse que apenas estava amedrontada. E foram os braços de Gabriela que a abraçaram lhe oferecendo certo conforto.

Mas ela ainda se sentia incomodada. Talvez ela estivesse reagindo demais àquilo. Mas não... Ela sabia que não era em relação apenas àquilo. O fato do caso da mãe de Lina estar aberto a incomodava. O que piorava seu incômodo – e ela preferia nem pensar nisso – é que o homem que tinha sequestrado a menina tinha sido morto dentro do presídio. Ninguém sabia o porquê, ainda. Gabriela apostava que era por causa do risco de ele vender informações sobre a máfia para a qual trabalhava. Sheilla se arrepiava toda vez que se lembrava disso. Algo despertava dentro de si, deixando-a em alerta. Desde que o homem fora levado ao seu necrotério – ela escalou Rosamaria para fazer a autópsia – ela havia ficado amedrontada. As suspeitas não se confirmavam e ela sentia que algo muito maior estava acontecendo – estava para acontecer.

Gabriela também estava em alerta, mas as investigações, o interrogatório com o assassino responsável não levava a nada, senão à uma briga entre presidiários. As testemunhas relatavam isso, e nada mais. E como eles poderiam dizer o contrário? A morena tentava tranquilizar Sheilla e depois de alguns dias a médica pareceu mais relaxada. Entretanto, algo dentro de si dizia que alguma coisa estava errada.

Alguma coisa iria acontecer. Sheilla não acreditava em sexto sentido, mas dessa vez ela tinha acertado em cheio.

– Vai ficar tudo bem, Sheilla. Eu já fiz isso várias vezes, se lembra? – Gabriela acariciou os braços da morena depois de ter prendido a arma na cintura.

– Eu sei. – Ela suspirou e ajeitou a blusa da morena enquanto se lembrava da bomba que explodiu antes de Gabriela alcançar o lugar, e dos tiros que a obrigaram a se esconder atrás de carros, de paredes. Ela tinha ficado bem. Ela esperava que a sorte se repetisse de novo e de novo, em cada vez necessária. – Eu sei. – Ela repetiu. – Se cuida. Se cuida e não se mete... amor, não se meta em confusão, ok? – Ela piscou os olhos para a morena.

– Sheilla, eu nunca me meto em confusão. – Ela encolheu os ombros.

A morena tombou a cabeça para o lado como se dissesse "sério?".

– Eu prometo que vou me cuidar. É algo costumeiro, Sheilla. Nada vai dar errado, ok? O que pode dar errado?

O que pode dar errado, era a pergunta que Gabriela sempre fazia quando tinha um trabalho pesado. A médica não tinha tido nenhuma experiência bem-sucedida nessa área. Ainda assim ela se esforçou. – Não importa o que aconteça, eu quero você de volta para mim.

– Sim, senhora. Às oito da noite? – Gabriela sorriu aquele sorriso malandro e Sheilla lhe deu um tapa no braço.

– É melhor você voltar inteira.

Sobre Amor, Tartarugas e Novas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora