XXI

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A viagem de volta para casa tinha sido relativamente tranquila, ainda mais considerando o fato de que Lina tinha dormido praticamente antes mesmo do carro deixar o estacionamento do hospital. Sheilla segurou a menina nos braços durante todo o percurso, e deslizava os dedos pela testa e cabelo da criança com carinho. Ela estava feliz, tranquila. Era quase inacreditável que em tão poucas horas elas estavam traçando o mesmo trajeto, passando pelas mesmas ruas, sentindo coisas tão diferentes de agora. Era, tecnicamente, o oposto. O oposto de tristeza, preocupação, agonia. Até mesmo o caminho era oposto. Elas estavam se afastando cada vez mais do hospital, e Sheilla pensou em como o mundo poderia ser engraçado às vezes. Laura tinha toda razão, ela não conseguia deixar de dar crédito para a mulher. Coisas boas e inesperadas acontecem, e porque não tirar proveito delas?

A menina respirou fundo em seu peito e apertou a mão na barra de sua blusa, como se conferindo que Sheilla ainda estivesse ali. A morena acariciou suas costas e apoiou seu pescoço com a mão quando Gabriela virou a última esquina antes de chegar em casa.

Bastou apenas o movimento da mulher menor saindo do carro para despertar a menina. Primeiro ela só abriu os olhos e piscou lentamente para a noite escura. Quando Sheilla fechou a porta do carro com o pé – Gabriela estava carregando todas as outras coisas – a menina ergueu a cabeça e apertou os braços em torno do pescoço dela. Não era como se Sheilla planejasse que ela dormisse por toda a noite, porque ela sabia que tão logo Helena e Andrea vissem a menina, a conversa iria despertá-la de qualquer jeito.

O momento de preguiça durou apenas um minuto. Quando Gabriela abriu a porta, os olhos da garotinha se arregalaram ao ver Canela, e ela impulsivamente se inclinou para frente – quase caindo do colo de Sheilla – para receber as lambidas do cachorrinho na mão. E então ela se endireitou quando escutou a voz de Helena.

– Lina?! – Ela levou a mão na boca e nenhuma das mulheres conseguia ler sua expressão.

Talvez elas devessem ter ligado antes e informar de que ela estava bem, recuperada e... de volta.

– Olha só quem voltou! – Gabriela abriu um sorriso, o tipo que poderia livrá-la de um problema, e apontou para a garotinha.

– Oh meu Deus! – A mulher mais velha finalmente se moveu para frente e esticou os braços, e quando Lina estava segura em seu abraço ela encheu a menina de beijos. – Eu senti sua falta!

A menina riu com as carícias e apoiou as mãos nos ombros de Helena. – Você sabe que eu tive uma aventura? – Ela disse empolgada.

– Não me diga! Quer me contar? – Helena riu.

– Eu não me lembro, na verdade. – Ela deu de ombros, parecendo menos animada agora. – Acho que a Gabriela sabe melhor. – Ela apontou para a detetive enquanto olhava Helena nos olhos.

A mulher mais velha afirmou com a cabeça e depois lançou um olhar significativo para Gabriela – um que a detetive preferiu ignorar por enquanto.

Ainda atenta demais às novidades que poderia encontrar, Lina virou a cabeça quando sentiu uma outra presença se aproximar.

Todas as cabeças se viraram para Andrea que estava agora próxima a elas, parada, olhando de Lina para Sheilla, de Sheilla para Gabriela e de volta à Lina.

– Mamãe, essa é Lina. A criança que te contei. Se lembra? – Sheilla disse enquanto caminhava, parando ao lado de Helena.

– É claro. Olá, Lina. – Ela estendeu a mão para a menina.

– Lina, essa é minha mãe.

A menina desviou os olhos de Sheilla e estendeu a mão para Andrea. – Oi. – Ela apertou os olhos e de repente parou de falar. Sheilla imaginou que a presença de sua mãe tivesse causado algum tipo de timidez na menina, mas então...

Sobre Amor, Tartarugas e Novas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora