XXXII

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Sentiram saudades?? A gay aqui pulou carnaval e trabalhou no feriado

boa leitura!!


Eu nunca fui aquele tipo de pessoa que para e pensa sobre a vida. Não. Não mesmo. Mas toda vez que olho para trás e vejo todos os altos e baixos que passamos, não consigo deixar de pensar em como a vida funciona de um jeito misterioso. Por muitas vezes é dolorido, amargo, mas ainda assim tudo o que vejo ressaltado é o quão surpreendentemente doce ela pode ser também. Talvez Sheilla esteja certa em dizer que se fosse fácil, todo mundo teria. Pode ser de natureza, mas nós sempre fomos atraídas pelo difícil, por desafios, e acho que se estimo por tudo o que temos, é porque sei o quão fácil é perder o que amamos... O quão fácil teria sido deixar tudo para trás, desistir, continuar só. Mas nós tomamos o caminho difícil, e eu sei, agora eu sei, que a vista do outro lado é tão mais bonita. Oh sim, a vida pode ser tão boa.

Quando Luna chegou na nossa casa, Sheilla tinha razão sobre uma coisa: a adaptação dela não seria fácil. Nas primeiras noites nós quase não dormimos. Ela chorava o tempo todo, manhã, tarde e noite. Quando a pegávamos no colo era só para que ela gritasse mais. Ela não nos reconhecia e, embora fosse algo que Sheilla já sabia e eu fora avisada, não podia deixar de me sentir impotente, derrotada. E eu podia ver o mesmo nos olhos dela. Tudo havia piorado quando Lina tentava brincar com ela, e ela chorava. Nossa tartaruga chorava decepcionada por se sentir rejeitada pela sua irmã mais nova, e era compreensível. Ao passo que Luna parecia rejeitar todas nós, a nossa frustração crescia, até que um dia se tornou demais. Nós nunca fomos do tipo de desistir de algo, entretanto todos aqueles sentimentos, o estresse, o cansaço, tudo aquilo enchia um balão que em certa noite estourou. Sheilla tinha acabado de colocar Lina na cama, que parecia estar sob o mesmo estresse que nós estávamos, e entrou no quarto. Sem nenhum aviso, ela se jogou nos meus braços e começou a chorar.

Você sabe, eu já fui pregada no chão por bisturis, e atirei em mim mesma. Eu conheço a dor... Eu sei o que é sentir o aço metálico transpassando minha pele, meus músculos, esbarrando nos ossos. Qualquer um pode dizer que é exagero, mas acredite, uma vez que você ama realmente alguém... Nenhuma dor se compara a dor de ver essa pessoa chorando, seja pelo que for. Nem mesmo a dor física. Eu, infelizmente, tenho que dizer que algumas vezes senti isso. Ver Sheilla chorando é meu ponto fraco, um que todo mundo já sabe. É por isso que me esforço para vê-la sempre feliz, é por isso que custe o que custar, manter minha família em paz, em segurança, unida, é tudo o que penso. Naquela noite, com ela em meus braços, tudo o que eu queria era arrancar a dor dela com minhas mãos, esmagá-la e arremessá-la longe. Aquele tinha sido o ápice de nosso desespero, a parte em que tudo parecia tão difícil e impossível que não nos restava muita coisa, senão chorar. Bem, nós choramos. Nós nos permitimos apenas algum momento de fraqueza, porque no dia seguinte, nós acordamos tão cedo quanto o sol, e fizemos tudo o que supostamente tínhamos que fazer.

Aquela tinha sido a primeira semana, e como se era esperado, as coisas começaram a melhorar depois disso. Luna passou a chorar menos conforme os dias se passavam. E Lina, caramba, aquela menina... Ela foi tão compreensiva e madura o quanto pôde ser para uma criança de seis anos. Nós conversamos, nós explicamos que Luna estava tendo dificuldade em se adaptar... E ela foi tão maravilhosa que eu acho que grande parte da adaptação de Luna com a gente foi por causa dela. Lina sempre foi uma boa irmã, uma boa filha. Sheilla não acredita em destino – ela provavelmente torceria o nariz para mim – mas o que eu acredito é que a tartaruga estava destinada a nós. Alguém lá em cima sabia que nós precisávamos dela no exato momento em que apareceu em nossas vidas. Eu sempre vou ser grata por isso, porque foi ela que definitivamente trouxe nossa alegria de volta.

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