XX

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As coisas começaram, mais uma vez, a sair fora de controle. Tudo começou quando o casal responsável por Lina apareceu no quarto da garota. Ela ainda estava no colo de Sheilla, e tão logo viu a presença dos dois, agarrou o pescoço da legista e começou a chorar. Sheilla não sabia o que fazer. Eles pareciam boas pessoas. O homem – Rafael – era um pouco mais alto que a mulher – Thaísa, ele era moreno como Sheilla e ela tinha cabelos loiros. Eles ficaram desconfortáveis e sem saber ao certo o que fazer em relação à reação da garota. Por um curto período Sheilla tinha sentido raiva deles, por serem negligentes com Lina, mas agora ela entendia que tinha julgado a situação de modo errado.

– Lina, nós só queremos saber se você está bem. – A mulher disse, a voz bondosa e carinhosa surpreendendo Sheilla.

– Eu tô bem, eu tô bem. Não me leva. – Ela choramingou no pescoço da morena.

– Querida, eles não... – Sheilla respirou fundo. – Eles não vão levar você. – Ela disse e evitou o olhar do casal. Não era só porque ela queria que Lina ficasse com ela, que isso seria verdade. – Eles só querem se certificar de que você está bem. Por que você não se vira e... – Sheilla tentou afastar a menina, mas as pernas agarraram sua cintura com força. – Eu sinto muito. – Sheilla retornou o olhar para o casal.

– Tudo bem, nós não queremos estressá-la. – O homem disse. – Só queríamos saber que ela estava salva e bem. Nós estávamos preocupados. – Ele abaixou a cabeça. – Nós não somos irresponsáveis. – Ele disse em voz baixa.

– Várias crianças já passaram por nossa casa até que fossem adotadas e partissem. Nunca tivemos problemas em deixá-las brincando no quintal. Quer dizer, a vista da sala dá para ele, de modo que sempre estamos checando, mas...

Gabriela se sentiu mal por eles. Era claro que eles se sentiam culpados pelo desaparecimento da menina, mas também estava claro como tinham sido afetados, e como se importavam com ela. – Nós não estamos julgando. – Ela ofereceu. – Nós achamos que o sequestro... – Ela olhou de soslaio para Lina que ainda estava com a cabeça enterrada no pescoço de Sheilla e de novo para eles – Vocês sabem da situação atual dela?

– Nós sabemos. – Eles disseram em conjunto.

– Ainda estamos checando, mas aparentemente tudo está relacionado com o caso.

– Quão grave isso é? – O homem perguntou.

– Grave. Não é o tipo de informação que posso fornecer, mas... Vocês teriam se machucado se tivessem entrado no caminho do sequestrador. A boa notícia é que temos ele atrás das grades, agora. Meus parceiros estão recolhendo as provas para usar contra ele e garantir que ele pague por isso.

– Caramba... A princípio a gente pensou que ela tivesse, você sabe... Resolvido dar uma volta por aí.

– Nós buscamos pelas ruas perto de casa, mas ninguém a tinha visto. – A mulher falou. – Nós nunca imaginamos... – Ela olhou para Lina de novo, preocupada.

Gabriela suspirou. Ela conhecia muito bem a aflição e medo que eles estavam sentido, se ela fosse honesta. Talvez conhecesse melhor, já que tinha se conectado com Lina há mais tempo do que eles antes do desaparecimento. Agora, eles pareciam do mesmo jeito que ela parecera algumas horas atrás: aliviada por vê-la novamente. Uma pena, para eles, que Lina não tinha se manifestado tão feliz em vê-los quanto a ela e Sheilla. Na verdade, o pensamento quase a fez sorrir. Lina era a tartaruga delas, afinal de contas. De alguma forma ela se sentia em vantagem ali. Mas ainda assim...

– Lina, você me deixa te segurar um pouquinho? – A detetive perguntou e viu a menina balançar levemente a cabeça em sim. Ela pegou a menina dos braços de Sheilla e segurou-a por baixo das pernas, apoiando as pequenas costas em seu peito. A menina tentou se virar para esconder o rosto, mas Gabriela não deixou – Ok, tartaruga. Você tem visita, seja legal e diga oi. – Ela se sentou na cama e apoiou a menina em seu colo.

Sobre Amor, Tartarugas e Novas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora