XIX

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– Eu sinto muito. – A médica ruiva disse suspirando e passando a mão na testa.

Gabriela sentiu os joelhos enfraquecerem diante das palavras, Sheilla mordeu os lábios, mas então...

– O hospital está lotado hoje. Acidente no porto envolvendo um navio grande e... Por que vocês não se sentam? – Ela gesticulou com a mão o banco, inconsciente do ataque de coração que quase dera em Sheilla e Gabriela.

As duas se sentaram novamente, assustadas demais para responder qualquer coisa. Elas tinham as mãos entrelaçadas e foi Sheilla quem saiu primeiro transe.

– Lin... Quer dizer, Angelina... Co-como ela está? – Ela apertou as duas mãos na de Gabriela porque elas estavam tremendo.

– Estável, agora. Eu sou a médica responsável por ela, Dra. Haak, a propósito. – Ela dizia enquanto se sentava à frente das duas.

– Detetive Gabriela Guimarães e Dra. Sheilla Castro. – Gabriela finalmente conseguiu falar.

– Vocês são as mães dela, eu suponho? – Ela perguntou diretamente enquanto os olhos curiosos vasculhavam as duas, concluindo que eram um casal pelo modo como seguravam as mãos.

– Não, nós... Somos apenas as responsáveis no momento. – Sheilla disse e engoliu seco temendo que a médica não estivesse mais disposta a compartilhar sobre o caso da garotinha depois da informação. O que era uma bobagem porque Gabriela era uma detetive e ela era de fato responsável por Lina.

– Entendo. – Ela cruzou as mãos sobre as pernas e franziu o cenho. – Vocês já ouviram falar de Rohypnol?

Ambas balançaram a cabeça em sim. Era uma toxina que vez ou outra aparecia nos exames de Sheilla.

– Como vocês sabem, é uma droga proibida, mas infelizmente é uma das drogas mais usadas para... assaltos e estupros. Nós fizemos vários exames para encontrar o que estava desacelerando o organismo dela, e esse foi o resultado. Não sabemos se a droga foi ingerida ou aplicada por via endovenosa na menina, o que nessa altura não faz muita diferença. O mais importante é que conseguimos identificá-la a tempo. – A mulher mordeu os lábios inferior, pensativa e levantou os olhos para as duas. – É muita sorte dela ter chegado aqui antes do pico de efeito. Um pouco mais tarde e... ela provavelmente estaria morta. Vocês a trouxeram bem a tempo.

– Quem administrou isso não tinha ideia do que estava fazendo. – Sheilla pontuou.

– Absolutamente nenhuma ideia. Uma dose dessas é perigosa para adultos, imagina para uma criança na idade dela.

– Ela... Ela vai ficar bem? – Gabriela perguntou, a voz rouca denunciando o medo. Sheilla queria abraçá-la e beijar sua bochecha. Gabriela poucas vezes demonstrava temer alguma coisa, mas parece que Lina era sua exceção.

A médica considerou a resposta. – Detetive Guimarães...

– Apenas Gabriela.

– Gabriela... Ela vai ficar bem. Entretanto devo advertir de que muito provavelmente ela não se lembrará de nada do que aconteceu.

– Melhor. – Gabriela suspirou, e o comentário surpreendeu a ela mesma. Mas francamente, nessa altura ela pouco se importava com a investigação.

Ela queria apenas o melhor para Lina.

– Olha... Nós administramos Flumazenil, um antídoto eficaz contra essa toxina. A dosagem é lenta, apenas 1mg por hora. Nós esperamos que ela acorde logo, é claro, mas caso não acorde nós continuaremos com o antídoto. Você entende?

Gabriela balançou a cabeça em sim, mas estava incerta. – Se não fizer efeito...?

– Vai fazer, vida. Vai fazer. – Sheilla garantiu e lhe apertou o braço num gesto de conforto e promessa.

Sobre Amor, Tartarugas e Novas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora