XV

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Boom, mais um capítulo, boa leitura!


Ansiedade sempre foi seu maior problema. Um traço dormente de sua personalidade que quando despertado trazia enganchado em si outros transtornos: insônia, tremor, hiperventilação, ânsias e, num estado mais agravado, desmaio. Sheilla estava quase acostumada a lidar com isso. Não era prazeroso, não era agradável. Era apenas algo que ela tinha aprendido a controlar com o passar dos anos. Yoga era uma prática que lhe ajudava a manter o autocontrole, o que muitas vezes levava a um ataque de ansiedade descartado em situações em que antes ele aconteceria.

E agora, nesse exato momento em que Gabriela estava lhe explicando que Lina tinha sumido – apenas sumido, mas talvez com uma grande possibilidade de ter sido sequestrada – Sheilla estava tentando a todo custo não hiperventilar. A prática de yoga teria que lhe servir agora. A técnica de se concentrar em um ponto, um pensamento agradável, teria que servir para evitar que ela fosse engolida pela sensação que estava ameaçando tomar conta de si.

Ela deve ter vacilado de alguma forma. Talvez tivesse oscilado enquanto mudava o peso de um pé para outro porque agora as mãos de Gabriela estavam segurando firmemente sua cintura, como se para mantê-la em pé. Mas ela podia se manter em pé, exceto que não estava sentindo as pernas. Em contraponto, ela sentia o coração batendo impetuosamente em seu peito, como se cobrando dolorosamente o esforço de ainda estar ali, acordada.

– Sheilla, você pode me ouvir? – Ela escutou a voz rouca e preocupada de Gabriela e viu os lábios desenharem perfeitamente as palavras.

Ela balançou a cabeça em sim. Pelo menos ela achou que tinha feito. As pessoas estavam falando alto demais ao seu redor, isso a perturbava. Ela assistiu enquanto Gabriela puxava uma cadeira para ela. Não precisou de muito esforço para se sentar – era uma ação, de fato, muito simples. Gabriela ainda estava em pé, muito próxima a ela, como para se garantir de que se Sheilla caísse para frente, ela a seguraria. A morena ergueu a cabeça para ela e tentou falar algo, mas as palavras enroscaram na garganta quando, mais uma vez, ela se lembrou de qual era o assunto.

Lina estava desaparecida.

A compreensão apertou seu estômago e agora a fome que estava sentindo tinha se transformado num buraco ali dentro. Vazio e dolorido. Ela precisava abraçar Gabriela. Ela precisava ir ao banheiro. Ela precisava se sentar – não, espera, ela estava sentada.

– Você precisa se acalmar, Sheilla. – A detetive disse estudando-a de perto. – Se lembra? Do exercício de respiração?

A morena balançou a cabeça em sim, mas Sheilla não tinha ideia de como respirar, algo tão simples, tinha se transformado numa tarefa tão difícil. Ainda assim, ela não podia desmaiar. Ela não podia desistir assim, não podia simplesmente ceder à sensação. Primeiro porque ela sabia como lidar com isso, e segundo que Sheilla nunca desistia de algo quando tinha todos os meios de alcançá-lo. E bem, se ela desmaiasse, Gabriela a mandaria para casa imediatamente. Ela ficaria sem notícias por horas, o que só aumentaria sua ansiedade. Ela fez um esforço e respirou lentamente, curtamente, até que com os passar das tentativas foi recuperando o controle dos pulmões.

– Vida – Ela segurou firme no punho da mulher que agora tinha a mão em seu pescoço. – O que nós... vamos fazer?

Ótima pergunta, Gabriela pensou. Ela reajustou o peso nos pés e encarou Sheilla. Era uma situação delicada e honestamente Gabriela não estava em posição de dizer o que elas iriam fazer. Ela não tinha a menor ideia.

– Sheilla... Nós temos que esperar. Eu imagino. – Ela disse francamente.

Sheilla se sentiu perdida. Nada mais fazia sentido para ela. Ela balançou a cabeça em negativo, já elaborando um protesto, mas Gabriela foi mais rápida.

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