Capítulo dezenove

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POV Juliette

Desviei os olhos das minhas mãos sobre meu colo quando ouvi as pessoas adentrarem o escritório da minha assessoria na sexta-feira de manhã. Mais uma vez eu havia acordado cedo naquela semana e depois de praticamente engolir com dificuldade o meu café da manhã, Rodrigo me trouxe até o prédio para me reunir novamente com minha advogada e o investigador que estava comandando o meu caso.

Meu estômago revirava de nervoso, mas eu tratei de me levantar e cumprimentar o investigador com um aperto de mão e um sorriso mínimo. Deborah serviu café e água para todos e nos acomodamos em volta da mesa que usávamos pra fazer reuniões.

— Como vocês foram informadas, o caso da Senhorita Juliette foi para a nossa unidade por se tratar de uma divulgação criminosa de fotos íntimas, ação considerada crime com lei prevista no Código Penal Brasileiro. Estou comandando a equipe da 14ª DP ali do Leblon, e chegamos à algumas provas que possam nos levar ao autor do crime.

Senti minha respiração falhar, minhas mãos tremiam e eu tratei de tomar um longo gole de água. Era o primeiro resultado que teríamos desde que as investigações começaram, e eu não via a hora desse inferno acabar.

— Vocês já tem suspeitos? — Deborah foi a voz de todo o grupo, e eu agradeci mentalmente. Por mais ansiosa que eu estivesse, sabia que minha voz não sairia com tanta convicção como eu gostaria.

— As buscas nos levaram a um usuário que não usa seu nome verdadeiro online, e sabe muito bem o que faz dentro da internet. Foi difícil descobrir o endereço de IP, mas a equipe se esforçou ao máximo. Essa pessoa teve acesso à nuvem da Senhorita Freire através do próprio computador.

Arregalei meus olhos, assustada.

— M-mas... Como isso? Eu tenho senha para acessar qualquer coisa minha, e só eu sei essa senha. Nem minha assessora sabe. — encontrei minha voz, finalmente.

O investigador a minha frente deu um longo suspiro, olhando uns papéis na mesa diante dele.

— O caso aqui é mais complicado do que pensávamos, senhorita Freire. Ao prosseguir com as investigações, chegamos ao endereço de IP de um dos suspeitos e conseguimos o momento que ele acessou a nuvem da senhorita. Mas como eu disse, é um usuário que sabe o que está fazendo dentro da internet...

— Um hacker? — Giu finalmente falou, indignada ao meu lado.

— Exatamente. — ele confirmou.

Me recostei na cadeira, sentindo minha boca se entreabrir e meus olhos arderem. Um hacker havia invadido a minha privacidade e divulgado para toda a internet fotos minhas, manchado a minha dignidade e provocado danos morais e psicológicos em mim e nas pessoas que também foram expostas.

Mas a pergunta que não queria calar...

— Com que motivo alguém faria isso comigo? — consegui dizer, mesmo com a voz trêmula — Nunca fiz mal a ninguém.

— Respira, Ju. — Giu me deu mais água e eu tratei de tomar para tentar me acalmar.

— As razões podem ser diversas, eu presumo. O responsável pela divulgação já foi intimado a depor na delegacia, quanto a isso a senhorita pode ficar despreocupada. Terá a punição merecida. Mas... — ele pausou, fazendo com que todas as mulheres ali presentes o encarassem — Existem casos onde um hacker muitas vezes só faz o trabalho sujo prático...

— Como assim? — Deborah perguntou.

— Hackers são contratados o tempo todo. Justamente por saberem o que estão fazendo e dificilmente serem pegos. Pessoas que não fazem ideia de como agirem no sigilo online, subornam hackers pra que façam o trabalho sujo por eles. Não estou dizendo que esse é o caso da senhorita Freire, mas é uma possibilidade... Há muita coisa que se investigar ainda, e o depoimento do hacker vai nos dar o caminho certo a seguir. Pode ser coisa de gente fanática online também. Há muitas possibilidades.

Primavera - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora