Sarah é dona de uma livraria em Brasília. Seu caminho muda drasticamente quando a famosa atriz Juliette Freire aparece em sua loja em uma tarde de primavera. Um encontro incidental envolvendo suco de laranja dá início a uma história de amor.
Fanf...
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Acordei no sábado e permaneci na cama aproveitando os minutos de preguiça. Normalmente nos fins de semana, se eu fosse até a loja, isso aconteceria apenas na parte da tarde que era quando o movimento se tornava mais intenso, se não, eu curtia o dia da forma que achasse conveniente, e naquela manhã estava conveniente passar longos minutos ali com meu filho e um bom livro.
Chovia fino e o tempo estava cinza, diminuindo ainda mais a vontade de levantar. Bisteca se acomodou nos pés da cama e ali mesmo voltou a dormir, enquanto eu me recostei na cabeceira com uma xícara recém feita de café e um livro. E assim duas horas voaram sem que eu nem percebesse.
Como o almoço consistiria nas sobras daquela semana - normalmente eu cozinhava bastante comida aos domingos e armazenava tudo na geladeira, facilitando as refeições durante a semana -, não me preocupei muito e no restinho da manhã me dediquei em dar uma bela faxina no apartamento. Eu tinha planos de passear com Bisteca, mas a chuva acabou sendo um imprevisto e eu não podia mais adiar a arrumação. O Golden me olhava com seus gigantes olhos pidões, parecia que sabia do passeio arruinado pela mãe natureza.
— Desculpa, garoto. Não é minha culpa que essa cidade resolveu amanhecer cinza hoje. Prometo que mais tarde tentaremos de novo. — esfreguei suas orelhas enquanto encostava meu nariz em seu focinho. Bisteca lambeu meu rosto e eu entendi aquilo como um acordo que estávamos de bem novamente.
A tarde foi também recheada de preguiça com filmes diversos na TV, eu jogada no sofá e Bisteca deitado no tapete, intercalando entre cochilos e esfregadas das costas no tecido felpudo. Eu o olhava e meus pensamentos divagaram para o quão bom deveria ser a vida de um cachorro, sem preocupações e apenas se contentando em ter a barriga cheia, passeios de coleira e um carinho aqui e ali. Bastava. A vida de um ser humano podia ser complicada. Muitos sentimentos envolvidos, às vezes mesmo sem a gente querer.
Ao passar do tempo, eu sentia que Juliette se tornava um tópico menos frequente, mesmo que meus pensamentos - e sentimentos - teimavam em me levar até a mulher de longos cabelos e olhos cor de chocolate. Parecia que estava impregnado ali, e às vezes eu olhava algum ponto do meu apartamento e imediatamente me lembrava de momentos que tivemos. Naquele mesmo sofá onde eu agora ocupava, ela se entregou para mim pela primeira vez. A mesa da cozinha também carregava memórias prazerosas, mas além disso, trocamos olhares e palavras de carinho e conforto ali naquele ambiente. E isso era o que dificultava tentar esquecê-la, porque aonde eu olhasse, uma lembrança dela me invadia. Até mesmo olhar Bisteca me lembrava a troca fácil que os dois tiveram, meu cachorro havia se afeiçoado à ela rapidamente. E isso também se tornava um empecilho no processo de tirá-la da minha cabeça.
Fui tirada dos meus pensamentos com o barulho de notificação do meu celular jogado no sofá, constatei que era Gilberto me chamando para sair aquela noite. Aparentemente ele e Kerline já haviam combinado de irem a uma festa que teria numa casa de show e queriam que eu fosse também para, palavras deles, sair daquele estado depressivo. Ponderei por alguns minutos, vendo a hora no telefone, e por fim dei uma resposta positiva ao meu amigo antes de me levantar para espantar a preguiça e levar Bisteca para um passeio naquele fim de tarde, a chuva havia finalmente dado uma trégua.
