Capítulo trinta e três

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POV Narrador

Sua respiração estava acelerada conforme seus passos cada vez mais rápidos alcançavam o lado de fora do restaurante. Não sabia o que soava mais alto, se eram seus saltos contra o piso ou seu coração palpitando em seus ouvidos.

Não pensava com clareza, era como se uma névoa encobrisse sua mente de ter pensamentos coerentes, tudo que via era Juliette e as palavras que a mesma acabara de dizer, a situação das duas e a mágoa em seu peito. Doía como o inferno agora e parecia crescer. Queria correr para longe porque, ao mesmo tempo que aquelas palavras lhe fizeram lembrar da dor que era estar apaixonada por alguém que havia lhe machucado tanto, a fizeram também querer tomar a morena nos braços e não soltar nunca mais. A dualidade de sentimentos era sufocante e Sarah não sabia para que lado ir, só queria correr.

Parou do lado de fora e encostou-se na parede lateral, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos. Precisava se acalmar e limpar a mente para pensar no que fazer a seguir. Não havia nem pensado em pegar suas coisas, não tinha como chamar um Uber ou pegar um táxi, sua carteira e celular estavam em sua bolsa dentro do restaurante. Em sua pressa de sair dali, se esquecera que precisava daqueles itens para ir embora. Não tinha para onde ir sem ser caminhando, e uma hora dariam falta dela e não saberiam como encontrá-la. Tomou mais algumas respirações profundas para pensar no que fazer.

No entanto, o cheiro dela lhe invadiu. Aquele cheiro adocicado do perfume dela que estivera impregnado em suas memórias durante todos aqueles meses. Ela estava perto. Ela lhe chamava. O coração de Sarah gritava para atender ao chamado. Suas pernas estavam presas ao chão.

E então ela a viu.

Juliette estava parada há poucos metros dela, lhe olhava com os olhos mais amorosos do mundo e lhe oferecia um sorriso mínimo, sua expressão dizia "eu to aqui, meu amor, e não vou a lugar algum".

Sarah estava com medo. Medo de atender ao chamado de seu coração e ele quebrar uma segunda (ou seria terceira?) vez. Juntar os pedaços não fora um processo fácil, e ela temia que ainda estivesse cicatrizando. Qualquer atrito poderia fazer sangrar novamente.

Porém, ela estava ali. A mulher a quem seu coração resolveu se entregar estava ali diante dela, lhe oferecendo um pedido de desculpas e pedindo uma chance de se redimir. Lhe oferecendo sorrisos e palavras, olhares amorosos. Lhe oferecendo o que seu coração tanto pedia.

Sarah não era uma pessoa rancorosa por natureza, havia sim a dignidade preservada e lutava para mantê-la assim, se protegia dos percalços da vida, mas não levava consigo em seu peito as decepções. A dor de Juliette lhe atingiu. Sua própria dor agora estava atingindo a morena. Sua falta de palavras estava atingindo a morena. Podia ver nas expressões faciais dela, que apesar de conseguir enxergar o arrependimento e o carinho ali, também via medo. Receio. Insegurança. Sentimentos que Sarah conhecia bem e sabia ser a causadora deles.

O quão injusto era aquilo tudo? Juliette tinha o direito de fazê-la se sentir daquela forma?

Mas não havia resposta.

O que sentimos não é culpa do outro. O sentimento nos pertence e nos atinge por causa da expectativa que nós colocamos no outro. Juliette nunca disse à Sarah: "me odeie! Sinta raiva! Sinta medo!"

"Se apaixone!"

E agora elas estavam frente a frente, em silêncio, mas diziam toneladas. Sentiam toneladas.

— Você... Você vai falar comigo?

A voz baixa e trêmula de Juliette a despertou da confusão de pensamentos. Sarah suspirou e a observou por alguns segundos em silêncio.

Primavera - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora