Capítulo 1

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2 de março,

Era difícil deixar minha com a avó, nunca me separei dela antes durante oito anos. Mas sei que é necessário, preciso dar à Camila uma vida boa, a melhor que eu puder.

Se passar alguns meses longe dela trabalhamdo em uma residência da elite de Miami, que assim seja. É o meu primeiro dia de trabalho e eu não sei como as pessoas vão me tratar. A residência dos Mendes é enorme e sempre movimentada, espero passar de forma imperceptível pelos patrões.

Espero que eles sejam gentis comigo.

— Diário de Sinu Cabello

Respirei fundo mais uma vez, fechando os olhos, tentando conter a ansiedade.

A casa grande e branca estava na minha frente. Eu estava tão perto.

Pessoas se moviam apressadamente, uns dando ordens, outros as obedecendo. Minha mãe estava certa: essa casa é sempre movimentada.

Cogitei repassar tudo o que precisava fazer na minha mente, mas sabia que não era necessário. Fiz isso durante anos. Tinha tudo planejado minuciosamente.

Caminhei na direção da casa, entrando pela parte de trás, onde ficavam os funcionários.

— Bom dia — Cheguei em um homem que parecia organizar algumas cadeiras. —, gostaria de falar com Lydia, é pra assinar o...

— Na área do quiosque. — interrompeu, parecendo apressado.

Ofereci um sorriso e fui para a área indicada. Por ser uma casa de frente para a praia, tudo gritava verão e com o quiosque não foi diferente. Me aproximei de uma mulher com uma blusa e calças sociais. Era Lydia. Havia visto uma foto dela anos atrás.

Ela trabalhava para os Mendes há anos e era governanta da casa. Todos os contratos com os trabalhadores passavam por Lydia, por isso fiz questão de preencher todos os seus requisitos ao longo dos anos.

— Com licença, senhora. — Falei, deixando a voz mais suave. — Meu nome é Camila, nos falamos pelo telefone algumas vezes.

Ela não me dirigiu o olhar, focando em algo na prancheta.

— Lembro de você, veio trabalhar fazendo os serviços gerais, certo?

"Serviços gerais" era o nome que davam para a pessoa que tinha que fazer tudo o que mandavam por um salário de merda. Ia desde limpar bosta de cavalo, à lixar as unhas das madames.

Sorri.

— Sim, senhora.

— O contrato. — Me passou o papel e ficou em silêncio, como se esperasse que eu assinasse.

Não li, pois já sabia o que teria ali. Como ela jão me deu caneta, peguei uma da bolsa. Procurei algo como apoio, e fui até uma mesa de madeira mais próxima. Assinei meu nome, me virando para Lydia no mesmo instante em que ela levantava os olhos.

Observei o choque em sua expressão, os olhos arregalados passando por mim e a boca se entreabrir.

— Você... — Pegou o contrato da minha mão, lendo atentamente meus dados.

Continuei ali, neutra, uma expressão inocente no rosto, mas, no fundo, me deliciei com sua expressão assustada.

— Algum problema, senhora? — Inclinei a cabeça para os lados, piscando os olhos com inocência.

Os olhar de Lydia se prendeu no meu sobrenome e se voltou para mim, em seguida.

— O que você veio fazer aqui? — perguntou.

— Trabalhar, senhora. — respondi.

Ela continuou me encarando em silêncio.

— Algum problema? — repeti.

— Não. — disse, a postura voltando. — Você apenas me lembrou alguém. Essas são suas funções. — Mostrou um papel. — Podem ser acrescentadas mais algumas coisas, dependendo das vontades dos superiores, mas, no geral, é apenas isto.

Apenas. Tinha mais de quinze coisas ali.

Se fosse em outro emprego, eu recusaria, mas ali, eu faria qualquer coisa.

Depois de me passar as instruções de onde meu quarto ficaria e me levar até lá, Lydia voltou aos seus afazeres. Olhei o cômodo pequeno, com apenas uma cama de solteiro, uma cômoda e uma porta que dava para um banheiro pequeno. Pelo menos era limpo.

Deixei minha mala ali, decidindo arrumar tudo depois. Eu começaria apenas amanhã.

Me deitei na cama, com o telefone em mãos, discando um número já conhecido. Em dois toques, ela atendeu.

É então? — perguntou, antes mesmo que eu falasse.

— Já estou no meu quarto. Começo amanhã. — Falei, pegando meu computador e o ligando.

Um silêncio se formou por alguns segundos.

Você tem certeza disso, Camila? — A voz soou receosa. — Ainda dá tempo de...

A interrompi:

— Você acha mesmo que eu vou dar pra trás agora que estou aqui? Logo agora? Esperei dezesseis anos por isso, Kenya. Nada, me faria desistir. — disse, a rispidez explícita no meu tom de voz.

Não ela a primeira vez que ela vinha com essa história e sabia o quanto me irritava ouvir isso.

Certo... Eu só... Fico preocupada. Essas pessoas são poderosas, já fizeram um estrago antes. — disse — Você é minha amiga, não quero que se machuque.

— Não se preocupe, sei o que estou fazendo.

Já sabe o que vai fazer agora?

— Sim. Está tudo indo do jeito certo.

Sorri, encarando as duas abas abertas na tela do laptop.

HERDEIRO DOS MENDES VOLTA PARA MIAMI APÓS QUATRO ANOS NA EUROPA.

AALIYAH MENDES É FLAGRADA FUGINDO DE UMA BOATE APÓS A POLÍCIA SER CHAMADA, PELA QUINTA VEZ NO ÚLTIMO MÊS.

Mordi o lábio inferior, encarando as duas notícias.

— Por qual eu começo primeiro? — sussurrei, mas sorri, sabendo que, na dúvida, começaria pelos dois.

O resultado seria o mesmo no final.

Acha que consegue fazer ele... — Deixou a frase no ar.

Encarei a imagem do rapaz. Alto, bonito, saudável e aparentemente feliz. Porém sozinho e sofrido pela cobrança dos pais, buscando sempre aprovação.

Nada melhor do que uma empregada doce, inocente e ingênua para confortar e conquistar o coração dele.

O que um pouco de carinho não fazia em um homem carente, certo?

— Eu tenho certeza.

Eu ia fazer Shawn Mendes enlouquecer por mim. O homem ficaria tão fascinado, que faria qualquer coisa para me ver feliz. Até ir contra a própria família.

E como você vai conseguir chegar nos grandões, Camila? — Ouvi Kenya perguntar.

— Assim como se chega em um alfa, Ken. — respondi, encarando o rapaz alto e forte na foto da matéria. — Você começa pelos filhotes.

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Digam que estão achando até agora e o que vocês acham que vai acontecer, suas teorias e etc.

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