Eu odiava ficar sozinha.
Não o sozinha de quando não tem ninguém em casa.
Eu odiava saber que alguém foi embora.
Talvez porque me lembrava de quando minha mãe me deixou. De qualquer forma, ainda doente, fiquei o dia inteiro na cama após Shawn ir embora.
Não que eu nunca achasse que ele pudesse ir, apenas não achei que sentiria tanto. Não achei que cada canto daquela casa me faria lembrar dos momentos que tivemos quando Shawn não sabia de nada sobre a minha vingança.
Sequer passou pela minha cabeça que eu poderia vir a desejar voltar àquele tempo, pelo menos por um momento.
Não fui trabalhar, pela confusão de sentimentos que sentia e por ainda estar doente. Dois dias depois que Shawn foi embora, Kenya veio me ver, preocupada com meu sumiço.
Assegurei estar bem, mas, claro, ela afirmou que ficaria comigo até meu período depressivo passasse.
Apenas uma coisa poderia me deixar mais feliz.
Karen Mendes vindo me visitar.
Imaginei que ela faria isso quando seu dinheiro acabasse, quando não tivesse ninguém mais para ajudá-la, mas nenhum pensamento foi capaz de me fazer sentir a satisfação que preencheu meu corpo ao vê-la passar pela porta da casa da praia.
Ainda estava adoentada, apesar de melhor, mas forcei-me a erguer o queixo e empurrar qualquer mal estar, emocional ou físico, de lado e voltar com a postura confiante e de superioridade.
Que, honestamente, fez parte de mim durante todo esse tempo desde que finalmente comecei o que vim fazer aqui, mas não era exatamente como eu era.
Na verdade, foquei tanto nesta vingança que parte de mim foi esquecida. Minha personalidade, a Camila que existia fora disso. Não sabia como ela era.
Antes eu não teria me importado. Agora, queria descobrir.
— Karen Mendes. — Cumprimentei, um sorrisão de satisfação decorando meu rosto. — A que devo o prazer da sua visita?
Ela poderia me matar com os olhos, se isso fosse possível.
Seu ódio por mim transbordava em sua expressão e eu sabia que vir aqui onde eu estava era esmagar e incinerar seu orgulho.
— Não vou perder tempo com seus jogos. — disse, ainda com o mesmo tom de superioridade, apesar de sua situação. — Preciso de dinheiro e sei que você vai me dar com alguma condição porque era isso que você queria o tempo todo.
Sorri.
— Pois bem, se quer que eu seja direta: se quiser dinheiro, vai ter que trabalhar para mim. — Recostei-me no sofá da casa.
Karen me encarou claramente querendo gritar e espernear como a mulher mimada que era, mas tudo o que fez foi apertar os punhos em cima do seu colo.
— Trabalhar para você? — Repetiu, os dentes cerrados.
Acenei com a cabeça.
— Tem uma vaga sobrando no antigo casarão do seu marido. Na função de serviços gerais.
Ela riu.
— Acha que me fazer trabalhar igual sua mãe vai me fazer sofrer?
— Você não vai trabalhar igual minha mãe, Karen. — Sua expressão foi de confusão. — Minha mãe recebia funções que não cabiam a ea, horários abusivos, mal descansava e mal comia. Eu jamais faria isso com alguém, apesar de você merecer coisa pior. Eu deveria fazer você limpar aquela casa inteira sozinha, cortar a grama de todo o terreno e limpar todo o alojamento dos funcionários.
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VENDETTA
RomanceMinha vida foi dedicada para isso. Cada momento, cada mísero segundo, cada escolha foi feita para que eu estivesse aqui. Nunca me senti tão viva como naquele momento. Eu faria os Mendes se destruírem, assim como fizeram com a minha família. Talvez...