Capítulo 21

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— Por que vamos embora, mãe? — Camila perguntou pela milésima vez, observando a mãe colocar uma mala dentro da caminhonete desgastada.

Sinu olhou para a filha vestida em uma jardineira rosa, agarrada com um urso de pelúcia marrom, encarando-a confusa. A mulher suspirou, agachando-se para ficar na sua altura.

— Algumas coisas mudaram, meu amor, é melhor ficarmos em casa com a sua avó. — disse, acariciando o cabelo da garota.

— Mas eu achei que você ia comprar uma casa para nós duas aqui. Eu gosto de morar perto da praia.

— Eu sei e eu queria muito ficar aqui com você. — Apertou os lábios. — Mas algumas coisas não são como queremos. O importante é que estamos juntas, certo?

Camila assentiu, segurando a mão da mãe. Sinu conduziu a filha para o banco de trás do carro, erguendo-a, porque era alto para a criança. Com Camila já sentada e de cinto colocado, ela fechou a porta, se apoiando na lataria do carro por alguns instantes, sentindo uma leve tontura no corpo.

Sabia que não podia deixar a filha sem saber, tinha que contar a verdade, prepará-la para o que viria a acontecer, por mais dolorido que fosse falar algo assim para sua menina, era necessário.

A mulher endireitou o corpo, contornando o carro e abrindo a porta, prestes a entrar, quando alguém chamou seu nome.

Não precisou se virar para saber quem era, mas o fez mesmo assim. Porque precisava vê-lo uma última vez.

— Achei que só iria amanhã. — Manuel disse, se aproximando.

Diferente de como ela conhecia, uma agitação estava presente em seus olhos. Conseguia notar pela forma como olhava ao redor, o rosto dela sempre sendo o alvo final.

— É melhor adiantar as coisas e o homem que veio me ajudar a levar minhas coisas só poderia hoje. — Deu de ombros, tentando passar tranquilidade, quando na realidade sentia que seu coração pularia do peito a qualquer momento.

Manuel ficou em silêncio por uns instantes, observando meu rosto. Gostaria de não gostar tanto dos seus olhos, gostaria de não me afetar pela forma como me olhava.

Gostaria de não o amar tanto, ao ponto de querer jogar tudo para o alto e ficar com ele. Mas não podia, porque seria me trair, me colocar em uma situação que prejudicaria não só a mim, mas a minha filha. Mais do que já havia prejudicado.

— Como você se sente? — perguntou.

— Bem. — Respondi, não querendo me estender muito no assunto. — Só um pouco tonta, às vezes.

— Não acha que seria melhor se tratar aqui na cidade?

Balancei a cabeça.

— Existe tratamento onde eu moro. — Menti. — Eu... Tenho que ir.

Manuel segurou meu antebraço, dando um passo para frente. Prendi a respiração, a sensação dos seus dedos em minha pele despertando tudo o que eu queria manter adormecido.

— Eu sinto muito. — Murmurou.

Balancei a cabeça.

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