VENDETTA

Capítulo 28

— Shawn não ia despejar aquelas pessoas, Camila, ele ia ajudar elas.

Ele ia ajudar elas.

Ele ia ajudar elas.

— Não, Kenya. — Ri, como se ouvisse uma bobagem. — Do que você está falando?

— Não sei como não chegou em mim essa informação...

— Kenya, chega! — Sussurrei, quase desesperada e, ao mesmo tempo, tentando não chamar a atenção de Aaliyah. — Você está enganada, isso não pode... Não pode ser verdade.

— Sinto muito, Camila, mas o contrato é claro: ele só aceitaria o acordo, caso déssemos suporte financeiro àquelas pessoas.

— Preciso desligar.

Não dei chance dela dizer mais nada, encerrei a ligação e virei para Aaliyah, que me encarava, talvez tentando entender o que acontecia.

— Está tudo bem? — Questionou.

— Podemos conversar depois, agora tenho algo importante para resolver.

Ela acenou com a cabeça.

— Tudo bem.

Assim que ela saiu com o carro, caminhei para dentro da casa, a cabeça doendo, a mente nublada, ainda absorvendo o que acabei de descobrir.

Não podia ser verdade. Não podia.

Porque isso significava que... Que ele nunca foi igual aos seus pais. Que eu errei com ele.

— Merda! — Exclamei, chutando a mesa de centro da sala de estar num impulso.

Meu pé se machucou, como era de se esperar e eu me curvei, andando em um pé só até sentar-me no sofá, segurando o local que latejava.

Recostei o rosto no meu joelho, sentindo uma vertigem tomar conta de mim.

Não podia ser verdade.

A dor em meu pé parecia insignificante comparada à confusão mental que se alastrou dentro de mim, apesar de sentir o membro começar a inchar.

Shawn ia ajudar aquelas pessoas.

E eu acabei com tudo.

*

Eu não me lembro de ter chegado na varanda do quarto.

Na realidade, não me lembro de muita coisa desde que sentei no sofá. Esse era um daquelesmomentos em que se está tão imerso em seus pensamentos, em seu choque e sentimentos, que tudo parece um apagão na sua mente. Você não pensa em nada, não sente nada, não porque não quer sentir, mas porque não consegue. 

Meu tornozelo latejava menos, apesar de inchado, ou talvez eu também tivesse me desconectado das sensações do meu corpo. Honestamente, não saberia dizer. 

O vento frio da noite batia na minha pele e o som suave das ondas do mar deveriam deixar aquela noite relaxante e pacífica, mas a última coisa que eu sentia era paz. Eu não sabia o que sentia, para ser sincera. 

Ouvi o barulho do carro de Shawn e sua presença me tirou do torpor apático em que eu estava, apenas para me colocar em outro. Como iria encará-lo agora?

Eu não ia. 

Nessa noite, me daria o luxo de ser covarde. 

Ouvi quando ele entrou no quarto, ascendendo a luz, não me percebendo na varanda. Não olhei para trás, apenas ouvindo seus passos, o som dele mexendo no closet, entrando no banheiro e do chuveiro ligando. Dez minutos depois, ele saiu, os passos indicando que saiu do quarto e foi para o andar de baixo, provavelmente para fazer seu jantar.