Nunca fui de permanecer na completa inércia. Nunca mesmo.
Sempre fui uma pessoa reativa, mesmo quanto minha mãe morreu, tudo o que eu pensava era em fazer alguma coisa.
Não que eu não sentisse isso agora.
Eu sentia. Sentia ódio. Ódio puro.
Mesclado com a dor excruciante que nunca passaria.
E ódio e dor eram dois sentimentos que, misturados, nunca acabavam em algo que não fosse tragédia.
Eu havia sentido isso antes, no leito de morte da minha mãe, mas o que eu sentia agora era diferente, mais profundo, algo silencioso que me deixou em um estado quase vegetativo por vários dias.
Chorei muito, a única coisa que conseguia fazer. Chorei no banho, chorei comendo e, principalmente, chorei com Shawn.
Compartilhamos da mesma dor por dias, o que de certa forma nos ajudou, porque sabíamos que éramos os únicos que entendiam o outro nesse momento.
Ele não estava melhor que eu, sofrendo a dor da perda e sabendo que sua mãe o causou. Claro que fui atrás da organização do evento, Karen realmente estava trabalhando lá, não que eu realmente precisasse de uma confirmação.
Ela era a única pessoa que me odiava o bastante para fazer isso. E a única cruel o bastante.
Passei dias isolada, Shawn e eu perdidos naquela inércia onde só nosso sofrimento existia.
Kenya, Manuel e Aaliyah tentaram contato, mas, no fim, éramos só nós dois ali.
Então um dia eu sabia que era hora de fazer alguma coisa.
A dor não ia passar quando eu destruísse Karen, mas eu não me importava. Era o fim dela.
Quando acordei naquele dia, não havia mais lágrimas para chorar. Pelo menos não por enquanto. Sempre machucaria, mas eu guardaria isso para os momentos em que Shawn estava comigo para me consolar.
Observei seu rosto adormecido ao meu lado, as bochechas vermelhas, os olhos levemente inchados. Acariciei seu rosto, beijando os lábios por um instante, antes de levantar.
Tomei um banho, vesti uma roupa confortável, preparei o café da manhã e me tranquei em um quarto de hóspedes junto ao meu telefone.
É incrível como algumas ligações podem mudar a vida de alguém.
— Sim, eu gostaria de demiti-la por pouca eficiência no trabalho. Por favor, se certifique de que ela saia hoje mesmo do alojamento... Não me importo se ela tem direito a mais uma semana de trabalho, quero ela fora! — Respirei fundo, tentando manter a calma. Eu não podia me exaltar assim ou iria perder a compostura. — Muito obrigada.
Sentei-me na cama, discando o outro número que já estava memorizado na minha cabeça.
— Camila. — Kenya disse, parecendo surpresa. Claro, depois de dias que evitei falar com era, era normal que se sentisse assim. — Como você está? Precisa de alguma coisa?
— Preciso. — Ignorei a primeira pergunta. — Quero que exponha que Karen estava usando o dinheiro da empresa e abra uma denúncia em seu nome com um pedido de mantê-la em reclusão para o caso dela tentar fugir e também bloquear qualquer dinheiro que ela possua na conta bancária.
— Okay... Mas, Camila... — Hesitou, claramente preocupada. — Está tudo bem?
— Não, não está tudo bem. — Murmurei. — Eu deixei Karen de lado e ela resolveu me atacar da pior forma possível. Agora ela vai ter o que merece.

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VENDETTA
RomantikMinha vida foi dedicada para isso. Cada momento, cada mísero segundo, cada escolha foi feita para que eu estivesse aqui. Nunca me senti tão viva como naquele momento. Eu faria os Mendes se destruírem, assim como fizeram com a minha família. Talvez...