VENDETTA

Capítulo 3

21 de março

Às vezes, eu só queria desistir de tudo e voltar para a minha casa, com minha mãe e minha filha. Esse lugar era um inferno. Todos pareciam se odiar, todos pareciam enxergar o outro como um rival e fazer de tudo para prejudicá-los. Achei que, como não conseguia ter o mínimo de afinidade com Lydia, poderia fazer amizade com os outros funcionários. Mas não. Ninguém era amigável aqui.

Ninguém, exceto Manuel. Ele me ajudou quando eu disse que queria desistir, disse que deveria ficar firme pela minha menina e que sabia que eu era forte o suficiente para aguentar tudo até conseguir outro emprego. Ele trabalhava dentro da casa, disse que ajudava o dono do local.

Sempre conversávamos quando eu tinha o tempo livre e ele era o meu único amigo ali. Me ajudava a lidar com a saudade de Camila e da minha mãe. Me fazia rir e me ouvia.

Era o único amigo que eu tinha aqui. Mas era mais que isso, eu sabia. Eu ficava nervosa em sua presença, ansiosa para vê-lo. Manuel era lindo, atraente e charmoso. Sabia o que estava acontecendo comigo, mas tinha que deixar isso de lado. Ele era meu amigo. Apenas isso.

Tinha vindo aqui pela Camila, não podia me distrair com outras coisas. Além disso, por que Manuel iria querer alguém como eu? Isso nem deveria ser cogitado.

— Diário de Sinu Cabello

Cinco dias nesse lugar e eu já não sabia como minha mãe aguentou tanto tempo.

As pessoas eram horríveis, o trabalho era explorador e abusivo demais e o tempo de descanso, mínimo. Penso no que minha mãe, com vinte e cinco anos, uma moça inocente e ingênua de uma cidade pequena passou naquele lugar. Como foi para ela descobrir o quão más as pessoas podiam ser, da pior forma possível.

Esfreguei o vidro com força, lembrando de cada relato feito naquele diário. Toda a forma como brincaram, zombaram e a usaram. Eles iam pagar. Um por um.

— Eu acho que não tem como isso ficar mais limpo.

Me assustei com a voz atrás de mim e me virei rapidamente. Shawn estava montado em um cavalo, me encarando com um sorriso bem-humorado no rosto.

— Desculpe, eu não queria te assustar. — disse, com a mesma educação parecia vir naturalmente dele.

Abri um sorriso tímido.

— Sem problemas.

Shawn desceu do cavalo, segurando nas rédeas firmemente. E eu espero que não solte. Como se o animal soubesse o que eu pensava, ele se agitou e eu instintivamente dei um passo para trás, com um medo que não era fingido.

Shawn o segurou, acariciando o pescoço, murmurando algo tranquilizador.

— Sabe, tem inúmeros cavalos por aqui, você precisa perder o medo se quiser se dar bem. — disse — Quer tentar tocar?

— Não. — A resposta saiu de imediato e ele abriu um sorriso.

— Um dia, quem sabe, certo?

Nunca.

Forcei um sorriso.

— É, quem sabe, senhor. — falei, mas a expressão dele deixava claro que eu não fui nem um pouco convincente.

— Me chame apenas de Shawn, Camila. — Sorri com os lábios juntos, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Os olhos dele se atraíram para lá por um instante, antes de voltarem para os meus. — Está gostando daqui?