A minha cidade natal nunca mudou. Não importa quantas vezes eu voltasse, sempre estava a mesma coisa.
Na primeira vez que tive coragem de voltar ali após minha avô morrer, foi estranho, porque eu não era a mesma pessoa.
Eu definitivamente não era a mesma pessoa, porque todo o carinho e afeto que existiram dentro de mim foram enterrados junto à minha família. Desde então, a única coisa que tinha em minha mente era vingança.
Foi assim por muito tempo, por todos os anos que eu vinha visitar esse lugar. Hoje, entretanto, tive a mesma sensação de anos atrás.
Eu havia mudado. Não era a mesma pessoa que chegou na casa dos Mendes há meses atrás.
E eu odiava isso.
Odiava não ter certeza do que faria, do que sentia, de como agiria. Odiava com todas as minhas forças e mudaria isso se fosse possível.
Como acontecia em todos os anos, me aproximei do túmulo da minha mãe. Do túmulo falso, porque o corpo dela não estava enterrado ali, visto que não tínhamos dinheiro para fazê-lo na época. Mas assim que recebi meu primeiro salário da empresa dos pais de Kenya, mandei fazer uma lápide para ela e para minha avó e coloquei no fundo do local onde era nossa antiga casa, apenas pelo simbolismo.
Todos os anos vinha aqui, no seu aniversário de morte, olhava a casa que mandei reconstruir anos depois que tivemos que vender e foi demolida. Acho que deixar tudo como era antes foi minha forma de dizer que Karen não havia conseguido nos derrubar. Eu ainda estava aqui e a faria ter o que merecia.
Além de mim, outra coisa havia mudado desta vez: eu estava sozinha. Kenya fazia questão de vir comigo todos os anos, mas a dispensei desta vez, sabendo que tinha muitas coisas para resolver. Minha amiga desenvolveu um senso de gratidão por mim desde que a salvei de um afogamento quando tínhamos dez ano de idade. Foi assim que nos conhecemos.
Eu morava em um orfanato, porque minha avó já havia morrido, e estava passeando por uma lagoa das redondezas quando vi outras crianças a empurrarem. Kenya não sabia nadar, mas Manuel havia me ensinado bem e foi assim que salvei sua vida — sim, menti para Shawn quando disse que não sabia e o fiz me "ensinar". Depois disso, nossa amizade começou, ela ia me visitar, eu ia em sua casa depois da escola. Seus pais viajavam muito e suas babás não viam problema em ficarmos brincando juntas.
Fiz dezoito anos no mesmo ano em que os pais dela morrerram em um acidente, Kenya já tinha dezenove e assumiu todos os bens deles, incluindo a empresa. Eu teria ficado desamparada, se ela não tivesse me ajudado. Ajudou-me a estudar, a trabalhar na empresa e na minha vingança.
A base da nossa amizade era a gratidão que tínhamos uma pela outra.
Mas hoje eu precisava estar aqui sozinha.
Agachei-me o túmulo da minha mãe, pondo as flores em cima dele, abrindo um sorriso pequeno.
— Você não estaria feliz vendo o que eu estou fazendo agora. — Murmurei. — Diria para eu perdoar. Você mesma teria perdoado eles, porque era boa demais. — Apertei os lábios. — Eu não sou boa como você, mãe, ou talvez eu tivesse sido se você estivesse aqui. Eu sempre venho aqui e digo que vou fazer todos eles pagarem, sempre digo que estou quase lá. E agora que realmente estou conseguindo, tudo o que eu quero dizer é que... Eu sinto sua falta.
As lágrimas molharam meu rosto, mas nem fiz esforço para enxugá-las. Nunca chorei nas vezes em que vi aqui, mas hoje... Eu só precisava sentir a saudade que reprimia para não sofrer mais. Precisava, apenas por um momento, entregar-me ao luto que nunca cessava.
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VENDETTA
RomanceMinha vida foi dedicada para isso. Cada momento, cada mísero segundo, cada escolha foi feita para que eu estivesse aqui. Nunca me senti tão viva como naquele momento. Eu faria os Mendes se destruírem, assim como fizeram com a minha família. Talvez...