Capítulo 30

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Eu deixei a porta aberta para Shawn.

Qual o sentido de trancá-la apenas para ter que ir abrir de novo. Não, eu apenas sentei-me no sofá e o esperei, como se o tempo parada e em silêncio pudesse me ajudar a criar estruturas para enfrentar o que viria pela frente.

Mas quem eu queria enganar?

Não estava pronta. Estava apavorada.

E o fato dele me causar sentimentos tão intensos apenas reforçava o que Kenya me dizia há dias.

É isso. Esse era o momento de finalizar toda essa história.

O som da porta se abrindo causou o mesmo efeito em meu corpo que se ela estivesse sido escancarada do meio da noite por um estranho. Meu estômago se contorceu e meu coração batia desenfreado.

Seus passos ressoaram pela casa, cada um deles lembrando-me da conversa que teria pela frente e quando Shawn apareceu no início da sala de estar, sua expressão deixava claro que ele estava tão abalado como eu.

Shawn me encarou por vários segundos, como se tentasse buscar as palavras para iniciar aquele assunto.

Eu esperei, cada milésimo de segundo sendo os mais torturantes que já passei.

— Brian viu algo na sua bolsa. — Finalmente disse, alto o bastante para que eu pudesse ouvi-lo, baixo o suficiente para que ficasse claro o que ele sentia.

— Eu sei. — Foi a única coisa que consegui dizer, os dedos apertando o braço do sofá até que ficassem brancos pela forca aplicada.

— Ele disse que tinha... Que tinha um exame.

— Eu sei.

— Isso é tudo que você vai falar?

O que eu poderia dizer?

Eu estava doente, essa é a verdade.

Vendo que eu permanecia em silêncio, ele prosseguiu.

— Brian não viu o resultado, estão preciso que me conte.

Eu estava doente.

Como a minha mãe.

— Eu preciso saber o resultado, Camila!

— É positivo. — Foi uma surpresa quando minha voz saiu firme, para que, logo em seguida, eu repetisse em um sussurro: — É positivo.

Achei que ele desmaiaria, por um momento.

Sua visão pareceu desfocada e Shawn cambaleou até sentar-se em uma poltrona, esfregando o rosto, absorvendo a informação.

Não me movi, com medo de que, se o fizesse, tudo dentro de mim fosse explodir de imediato.

— O que você...

— Não consigo falar sobre isso agora.

— Você vai falar. — Declarou, o rosto erguendo-se em minha direção. — Desde o começo você contou as mentiras que quis, omitiu o que quis e fugiu, fez tudo no momento em que queria, mas chega disso, Camila! Chega!

Retesei-me no sofá, o corpo parecendo sentir o impacto das suas palavras.

— Você vai falar sobre isso hoje e agora...

— Voce não entende... — Eu estou doente.

— O que eu não entendo? Que você sofreu? Que você está abalada?  Essa parece ser a sua justificativa para tudo o que você faz...

— Chega, chega... — Sussurrei, cobrindo o rosto, mas Shawn continuou, sua voz se tornando um eco perturbador na minha mente.

— ...Você acha que eu queria falar sobre isso? Acha que eu queria votar aqui quando tudo o que você fez foi mentir e me usar?

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