A Última Vampira (2ª edição) - Livro Um

CAP. 20 - SIMPLES, NÍTIDO E LIMPO

EMILY

O clima do apartamento é bem diferente, está mais silencioso que o normal e algo no ar gera um calafrio em meu pescoço, a peculiar sensação de se ter tranquilidade onde se espera a desordem. Após atravessar a porta, paro e farejo o ar levemente, sentindo cada sensação, rastros de sangue chamam a minha atenção no chão.

Rastros não totalmente omitidos, ainda um pouco escuros. Refaço os meus passos para ter uma noção de tempo e não faz muito que Isabelle saiu daquele quarto, mas em um território da RDIC não duvido de nada. Logo vou para o centro da sala e não encontro Luana, minha mente fica tensa e sinto as batidas do meu coração.

Um cheiro de ervas me envolve e vejo o corpo de Isabelle no cômodo referente à cozinha, está de costas para mim e move o braço direito como se estivesse pressionando algo. Ela endireita a postura e se vira para mim, está com um pote de barro com um macerador de madeira, folhas verdes estão sendo amassadas com um líquido que não consigo identificar.

— Não me diga que também é bruxa — forço uma descontração e ela me olha nos olhos, lança um pequeno sorriso de lado e volta a macerar as ervas. Rapidamente, todas as ervas se tornam uma pasta grossa, quase manuseável.

— Aprendi com os antigos — a vampira coloca a pasta na boca e engole rapidamente sem fazer nenhuma expressão. Sua calmaria me estranha, novamente, a sensação de calmaria em um lugar indevido. Não ouço sons referentes à Luana em lugar algum do lugar.

— Onde está Luana? — uso um tom de voz calmo na pergunta, não quero ser rápida nesse ponto agora. Seu corpo para, não diria que está tensa, mas certamente pensa em algo.

— Preciso resolver uma coisa fora daqui. Quero que me espere... — não me encara novamente e começa a caminhar na direção da saída. — Assuntos da RDIC. Me espera aqui, por favor... Explico tudo quando voltar, eu prometo.

— Isabelle, você não... — sua velocidade é grande, fecha a porta da saída antes que eu termine a frase. Preciso alcançá-la.

No instante em que movo um pé na direção da porta, uma forte dor de cabeça me atinge e o mundo gira. A sensação é de uma faca me roubando o ar, caio no chão de joelhos e me inclino para frente, uma mão no chão e outra em meu peito. Isso é parte de uma transformação licantrope?

Uma luz me envolve e preciso fechar os olhos com força, segundos depois recupero o ar e é como sair de um estado de congelamento. Meus olhos se acostumam ao ambiente outra vez e vejo duas crianças na minha frente. Ambas pálidas, de olhos violetas e uma fisionomia pequena, quase frágil. Essas devem ser as que Isabelle estava buscando, minha cabeça trave em incompreensões.

— Você precisa nos achar, princesa — falam juntas e isso é de longe assustador. Suas expressões aflitas, preocupadas, temerosas. Que droga é essa? Isabelle entrou em minha mente? Isso é efeito das ervas? — Você sabe onde estamos. Luana sabe onde estamos. Precisa encontrar a Luana, ela está em perigo — continuam falando no mesmo instante, levanto-me depressa e dou alguns passos para trás. A expressão em seus rostos se fecha ainda mais em medo. — Não pode deixar que nos achem, Emily. Não pode. Luana está em perigo, Isabelle quer matá-la.

As vozes das crianças ecoam em minha cabeça e sou atingida por uma tontura súbita, em um piscar de olhos o mundo se torna mais pesado. Minha cabeça parece que vai explodir e as crianças já não estão na minha frente. Desapareceram como o vento. A sensação de olhar naqueles olhos é agoniante. Aos poucos, torno a mim. Luana.

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ISABELLE

A sala é apenas um quadrado gelado e muito iluminado, um total de zero decoração. Poderia dizer que quase me sinto em um interrogatório, sinto o olhar mecânico das câmeras por trás de disfarces e ouço cada som. Desde a respiração da policial à minha frente aos batimentos cardíacos da outra mulher, sentada de pernas cruzadas atrás da única mesa do lugar, e o som metálico de seus anéis em contato com o material da cadeira.