A Última Vampira (2ª edição) - Livro Um

CAP. 28 - NOVA CIDADE

(música: Jupiter 4 - Sharon Van Etten)

Anteriormente...

ISABELLE

A fumaça sobe quando sai da minha boca, o vento frio a leva para longe lentamente, enquanto observo a lua em seu ponto mais alto da noite. Fazia aproximadamente dez anos desde a última vez que coloquei um cigarro em minha boca, após um tempo, a sensação se tornou inconveniente. Uma década no vinho, outra no cigarro, outra em alguma droga, outra em whisky. Nada conseguiu me levar. E tantas reflexões...

Olhar a lua e a incessante presença de tantos pensamentos me faz lembrar de Emily. O prateado do astro, tão subestimado pelos humanos, me faz recordar dos lobos, das realezas e de Emily. Sempre Emily. A sensação da fumaça, quase sem impacto em mim, me faz fechar os olhos e sentir o toque do vento frio em minha pele. Deixei de sentir exatamente o desconforto pelo frio. Sempre falaram sobre vampiros serem mortos vivos, mas tenho a sensação de já ter sentido frio após a mudança em meu organismo.

E não adianta para onde tente ir, minha cabeça volta a trazer a imagem de Emily. Recordo do toque de seus lábios, de sua energia e sinto o meu corpo pedir pelo dela. O cigarro acaba rápido e acendo outro, uma aceleração constante em meus pensamentos, minha pele imaginando a proximidade e o calor de Emily. Fecho os olhos e respiro profundamente. Abro os olhos e analiso o quão movimentada se tornou minha vida desde sua chegada, como um evento intenso atrás do outro. Intensidade. Vida.

Na última noite em que lhe vi, eventos externos romperam nossa proximidade. Mesmo sabendo que não conseguiria mais matá-la, como considerei no quarto de Cassandra, talvez fosse aquela a melhor saída. As consequências vieram em seguida. A bala que a arma da mulher de preto me acertou causou um impacto inesperado. Ela parecia saber exatamente o local para me atingir. Após aquilo, caí e precisei fugir das reportagens humanas, a última coisa que precisava era de Cassandra me procurando para pedir explicações.

No fim, a história para os humanos foi que algum tipo de vândala fez uma agressão à cidade. A mulher teria chegado de moto no lugar e subira rapidamente pelo prédio. Após pouco tempo, explosões foram registradas nos andares superiores. Muitos furos, mas mais inexistências de provas materiais que permitissem um maior aprofundamento no caso. O que não significa que foi o suficiente para parar os sites. Muitas histórias foram criadas em blogs de estudos sobrenaturais, de mitologias e alguns de superstições, fala de fanáticos religiosos foram compartilhadas em redes sociais. A aparição dos seres celestiais não passou despercebida e tão pouco foi esquecida, mesmo não sendo a primeira vez.

Depois de fugir de qualquer possível foto humana, afastei-me para esta cidade, distante de Cassandra. Silenciei suas ligações e notificações. Pedi um afastamento da RDIC sem dar tantas explicações, eles não queriam lidar com um possível desligamento meu. Pela primeira vez, me senti realmente dividida entre retornar aos meus caminhos e a buscar por Emily. E lembrar desse instante me deixa irritada, nem mesmo Layla me causou tanto impacto. Assumir a importância de alguém além de mim em minha vida é estranho... Quase desconfortável.

Volto ao apartamento. A janela mostra a cidade ao redor, o apartamento fica em um alto andar. E o whisky desce em minha garganta, o calor já tão comum. Os ventos ficam fortes e ainda mais frios, uma tempestade se aproxima. Recordo de Emily e suas reflexões, seus pensamentos livres e indagadores. Ela dominou minha mente ao ponto de tornar secundária a minha busca pelas crianças híbridas. De algum modo, não estar indo ao seu encontro perdeu um pouco a graça. Vontade de chegar em um objetivo. Há muito tempo não sentia essa sensação com exatidão, não por completa vontade própria.