A Última Vampira (2ª edição) - Livro Um

CAP. 35 - JOVEM PRÍNCIPE DO NORTE

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EMILY

As primeiras vinte e quatro horas foram de incertezas, nenhuma pessoa destrancou a porta. No amanhecer seguinte, uma mulher entrou no quarto e se apresentou como Vivian, disse que seria uma guia para que pudesse conhecer o castelo e as redondezas no Reino do Norte. Busquei informações sobre os meus pais e como parei ali, mas tudo o que consegui foi descobrir que ambos continuaram no Leste.

Busquei por William, mesmo sem querer, ainda era a única pessoa que eu conhecia nesse lugar, mas o príncipe havia viajado. Em algum momento da minha inquietação por respostas e saídas, conheci Felipe, o irmão mais novo de William. Nos conhecemos quando Vivian me levou para visitar algumas das vilas do reino.

Mesmo eufórica e buscando possibilidades de fuga, me encontrei sorrindo um pouco quando o jovem homem se aproximou. Era gentil, trazia um sorriso leve que tornava os seus olhos escuros mais brilhantes. O cabelo, cacheado e cheio, combinava com os traços do seu rosto. De algum modo, ele viu em meus olhos o medo e o desconforto. Pensei ser apenas um cidadão do reino, principalmente quando me levou para uma caminhada tranquila. Ele percebeu minha postura e como os meus olhos buscavam alternativas para escapar, mas nada falou. Foi gentil até o último instante e insistiu em me deixar na porta do castelo.

Apenas naquele momento, percebi com quem falava. Felipe tirou um anel no bolso e colocou em seu dedo, com o símbolo da família Daves. Ele sorriu ao ver meu olhar de espanto. "Fique tranquila, não vou explanar a nossa conversa para o Rei", disse rindo. Não minto, sorri um pouco, mesmo nervosa. Não poderia negar, em tantos dias e em meio a tanto medo e dor, sua companhia foi confortável.

E não entramos no castelo. Ele me olhou com calma e perguntou se aceitava outra caminhada. Aceitei. Ele me levou para um rio não muito longe. Agora, o observo colhendo algumas flores. Reparo no jeito de Felipe, na leveza do seu olhar e em sua postura, elegante, mas simples. Reparo seu rosto, deve ter uma idade semelhante à de William. Recordo da informação do irmão mais novo do herdeiro do Norte.

— Aqui — ele me entrega algumas flores. — Solte, no rio, uma para cada pessoa que você perdeu.

Fico sem reação por um instante, sua ação me surpreende. Pego as flores, ainda sem saber como reagir. "Não está na hora ainda", ouço as crianças híbridas falando em meu ouvido. Ou acho que escuto. Não sei identificar se foi verdade, a voz desapareceu rápido demais. De qualquer forma, evito pensar em todas as mortes agora e não me sinto pronta para simplesmente deixar ir. Caminho e amontoou todas as flores na beira do rio.

O peso em meu peito retorna e começo a chorar, não tento me mostrar forte. Sento-me e deixo a água corrente molhar os meus pés. Felipe se aproxima e toca o meu ombro, levemente no começo, como se aguardasse minha reação. Ele se senta ao meu lado e permanece em silêncio.

— Vivian deve estar te procurando — ele quebra o silêncio após alguns minutos, durante esse tempo, consegui parar de chorar.

Começamos a retornar para o castelo. O caminho não é complicado, mas precisamos atravessar uma área com florestas. Os muros do castelo não ficavam tão distantes.

— Você tem todo o direito do mundo para odiar os nortenhos — o príncipe diz, com calma. — Mas, por favor, não o faça. O povo do reino não tem culpa de seus governantes.

Os detalhes de Felipe, ou ao menos os que ele me demonstrou, são os de uma pessoa consciente e empática, recordo da forma que lidou com todos dos vilarejos. Quando penso que terei que me casar com William e que, agora, já não tenho para onde fugir, sinto um aperto na garganta. Mas Felipe... de alguma forma, ele me faz esquecer do peso do significado da minha presença aqui. Talvez fosse mais simples permanecer em sua companhia à de William.