EMILY
As cortinas são fechadas e o escuro retorna. A postura de Isabelle já não parece de tanta frieza depois que Luana falou sobre ela estar assustada. A posição de seus ombros e os olhos alertas passaram a ter um significado lógico. O que exatamente estaria causando isso?
— Fui atrás das crianças, pois o Wuan dos laboratórios do Sul me achou — Luana fala rapidamente e Isabelle se surpreende. — Ele não me ofereceu cura alguma, pelo contrário, disse que as crianças precisavam ser achadas, pois serviriam de arma para você — pelo olhar da vampira, que anda de um lado para o outro, ela não acredita.
— Como seriam uma arma? — Isabelle se demonstra impaciente, por um momento acho que machucará Luana. — Que merda é essa? — começa a andar mais pelo apartamento.
— Não sei mais do que você — Luana relaxa os ombros. — Talvez sejamos parte de um jogo.
— Não sou parte de um jogo! — a voz da vampira sai alta e firme.
— Acho que, uma hora ou outra, todos nos tornamos — digo, reflexiva. O olhar de Isabelle se encerra em mim. De início, intensamente arriscado, mas com rápidos segundos, relativamente suave.
— Não fomos as únicas — Luana se levanta do chão. — Sinto que Wuan também falou com outras pessoas — a impaciência de Isabelle retorna e começo a achar que é por ela não conseguir hipnotizar a outra mulher. O que mais poderia ser? — Ele me achou muito antes de você. A vez que cheguei mais perto das crianças foi no restaurante. Mas, sinceramente, as crianças não te fizeram causar a explosão, Isabelle. Vamos lá, nós duas sabemos que não seria o bastante para aquilo. O que quer de mim?
De algum modo, Luana consegue compreender alguns pontos de Isabelle, talvez pelo tempo de convivência ou por ser uma exceção nas habilidades da vampira. De qualquer forma, ela é a primeira que vejo desafiar Isabelle dessa maneira. Aparentemente, a primeira além de mim.
— Caleb. Vai me dizer tudo o que sabe sobre ele — a vampira para de andar e fica ainda mais séria. — Vamos, não tenho o dia todo! — Luana não entende. — Ele teve uma fala estranha e acho que pode ter ligação com a Fterotós e os celestiais.
— Quais eram as habilidades dele?
— Olhos pretos, velocidade, rastros dourados, que seja... Vamos logo, quem é o Caleb?
Luana fica pensativa e troca alguns olhares com a vampira. Busco na memória, mas não recordo de algum Caleb. Entretanto, questiono-me sobre a possibilidade de ter ligações com o restaurante que fomos e o combate que ela teve com os cozinheiros. Pensando bem, ela vem estranha desde aquele dia.
— As descrições batem com as do hibridismo de celestiais com licantropes, mas seria impossível, nunca houve registros dessa espécie, não passou de rumores — Luana também me olha, como se compartilhasse a informação.
— O quão conveniente seria você controlar o jogo? — Isabelle se coloca, com um tom frio e calculista.
— O quê?
— A porra do jogo, Luana! O quão conveniente seria? — os olhos da vampira ficam em um vermelho vivo. — Mentiras e manipulações. Hibridismos desconhecidos. Caleb. Sinceramente... Um complô com uma espécie desconhecida não seria algo fraco.
— Complô? — Luana se altera. — Isso seria traição com a minha raça e eu não me chamo Isabelle Monther! — os olhos em um azul intenso. Começo a considerar o momento em que terei que controlar isso.
— Talvez eu possa criar um novo hibridismo — noto um ar de loucura no olhar da vampira. O provável medo parece estar dando lugar ao desespero. — Já pensou nisso? Eu como criadora de uma nova espécie?
— Isabelle... Se acalma — os olhos de Luana voltam ao normal e ela me lança um olhar assustado. — Tenta se controlar — retorna à vampira.
— Quem você pensa que é para me mandar ter controle? — a energia de Isabelle está explosiva, Luana dá um passo para trás. — A ideia te assusta? Você não resistiria?
— Isabelle, o que você quer com isso? — tento me colocar. — A situação está saindo do controle, começou a assustar. Isso não só uma busca por duas crianças, como você me disse que seria.
— Me diga quem é Caleb, Luana! — não se importa com o que falei.
— Eu não faço ideia de quem seja...
— Mentira! — Isabelle levanta a voz. — Se ele é uma espécie desconhecida... Eu vou me tornar uma espécie desconhecida — Luana fica ainda mais tensa e dá mais alguns passos para trás, começa a olhar as saídas do apartamento.
— Isabelle... — tento contê-la, ela me olha, seus olhos estão perdidos, assustados, como se não soubesse retornar ao início ou simplesmente parar. Vejo-a se fechar em si e expressar apenas violência.
A movimentação da vampira é muito rápida, mesmo para os meus sentidos licantropes, é como uma explosão de energia canalizada. Tudo acontece rápido, só a vejo quando já está muito próxima ao corpo de Luana. Ela morde o pescoço da mulher com tanta força que deixa o sangue escorrer. Luana não tem tempo para reagir, seu corpo é jogado no chão e Isabelle volta a olhar para mim, o sangue em seu queixo.
— Viu... Você perdeu o controle outra vez... — a voz de Luana está fraca.
Isabelle faz menção de que a atacará novamente, mas me coloco em sua frente. Deixo os meus olhos queimarem em dourado e encaro o vermelho de seu olhar, sem me sentir acuada por sua força. Ela parece pensar demais e buscar controle mais ainda. Não baixo os ombros um só instante. Vejo a sombra do medo em seu olhar. Um medo além do presente, muito além de nós duas. Um medo ressentido, guardado fundo demais.
Os olhos voltam ao castanho escuro e ela se distancia outra vez, limpa o sangue do rosto e não volta a olhar para Luana. Continuo sem desviar o olhar, mas deixo o início da pré-transformação de lado. Isabelle desvia seus olhos e começa a sair da sala.
Olho uma última vez para Luana, que agora está inconsciente no chão, antes de seguir a vampira. Vamos lá Emily, uma coisa de cada vez.
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A Última Vampira (2ª edição) - Livro Um
FantasiaLivro 1 da Saga A Última Vampira A realidade de Emily Whytte, princesa do mais influente reino dos lobos, está destinada a mudar no momento em que se esbarra com Isabelle Monther, considerada a última vampira da dimensão. Ambas, movidas por interess...