CAP. 7 - A VIDA É UMA BUSCA

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ISABELLE

Há muito tempo não tive dias tão agitados como os últimos. Escolhi esse cargo na agência, pois queria investigar assassinatos, além disso tem o porre de precisar escapar das tentativas de assassinato falhas enviadas pelo Rei do Leste, aquele homem deveria encontrar unidades de combate mais fortes. De qualquer forma, se torna chato às vezes.

E é por pensar nas falhas de Henrique Whytte e em todas as batalhas que já enfrentei, que me julgo por ter saído daquela luta. Já lutei com muitos lobos antes, não sei em que nível de desenvolvimento estavam, mas não fujo de lobos e dessa vez eu fugi. E quando tento entender o motivo, a razão pela qual fiz isso, não consigo pensar em nada além de Emily. Por um momento, desconsiderei toda a estupidez que minha ação representava e só quis tirá-la dali.

Os seus olhos, ao me verem matando aquele lobo, não foram de espanto ou repulsa, mesmo com medo. Em momento algum, vi refleti em Emily o que vejo em todos os outros: a crítica pelo monstro que sou. Sentindo-a em meus braços, não penso em como seria fácil matá-la, pois no instante em que a vi cair naquele chão, soube que ela guarda informações importantes. O seu olhar não foi como o de Layla, ou como o de... Deixa pra lá, é melhor não lembrar.

A noite parece fria, pela expressão de Emily, e nossas roupas molhadas não favorecem nada. Faz um tempo que deixei de ouvir os uivos dos lobos atrás de nós, devem ter desistido de me seguir e aceitado que não superam a minha velocidade. Também me distanciei da cidade e escolhi vir para o litoral.

A praia que escolhi costuma não ter a presença de pessoas na maioria das vezes. A iluminação é pouca, mas a luz da lua clareia bastante. O mar está revolto essa noite e vejo ondas altas se desfazerem até chegar à beira mar. Deixo Emily na areia e me afasto um pouco. Observa-la agora, distante de tudo, gera também um sentimento de apreensão. Buscar entender algo é também abrir oportunidades de que esse "algo" te entenda.

Assim como um simples olhar me fez querer salvá-la, um simples olhar me faz desconfiar de sua postura. Como um flash, muitas coisas se passam na minha cabeça e me julgo outra vez por ter me importado tanto. Foi por me importar demais e por tentar legitimar isso com um interesse próprio que parei no meio da noite com uma total desconhecida em uma praia.

Olho para o mar e no momento que uma onda se quebra, assumo outra postura. Posso não matar Emily, mas manter uma imagem de protetora preocupada é tediosamente cansativo. Nunca tive alguém lutando por mim e mesmo assim consegui resistir, mesmo antes disso em que me tornei.

— Vou perguntar novamente e quero a verdade: o que você foi fazer naquela floresta? — retorno a Emily.

Não tenho resposta, quase não recebo um mínimo olhar. Não consigo saber o que tem em sua mente nem pelas suas ações, há algo previsível em seu jeito, mas também algo que omite isso, como uma sombra. Sinto o seu coração, mas ele parece sempre à mercê de algo que não entendo. Primeiro o acidente, a grande recuperação. Em seguida ela me leva para um lugar com lobos. Emily esconde algo. E me irrito por me sentir instigada a descobrir.

— Não ousaria ficar sem falar se fosse você — me aproximo e ela parece se assustar, seu coração bate rápido e forte. Reparo na forma como respira, em como o seu corpo transpira vida e uma coragem peculiar.

— O que você é? — dispara.

Não preciso de muito para reconhecer sua inteligência, a percebi desde o momento em que a vi, mas não compreendo essa necessidade de se ligar a detalhes tão... Falhos. Percebo que estou querendo levar isso como um jogo e talvez ela seja só mais uma como todos os outros. A fragilidade da humanidade me causa repulsa, essas tantas voltas em subjetividades que não os leva a nada. E logo eu, tão crítica, me encontro aqui, ponderando se confio ou não na capacidade de uma humana desconhecida ter uma inteligência no mínimo satisfatória.

A Última Vampira (2ª edição) - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora