Logo que acordei, senti algo estranho. Parecia que uma voz falava dentro de mim para eu não ir ao trabalho. Pisquei meio atordoado, pois nunca tive premonições ou esses tipos de avisos, mas este me pareceu muito real.
Vitória continuava a mesma em nossa relação. Eu nunca pensei que um dia, eu pudesse ser tão feliz! Eu, antes, possessivo e controlador, agora consumido por uma mulher, só que esta valia a pena e continuava valendo muito.
Tomei um banho e Vitória ainda dormia. Eu sempre deixava que ela dormisse mais, não via a necessidade dela acordar tão cedo como eu. Ela entrava no trabalho mais tarde. Enquanto eu me vestia, aquela ideia me veio novamente.
"Não vá hoje, fique! Como? Tenho três reuniões importantes, não posso! Ah, isso é bobagem da minha cabeça!"
Saí, e como sempre, deixei um recadinho de amor ao lado da cama, para quando ela acordasse, lesse e ficasse feliz. Nosso amor era um verdadeiro estrondo, uma explosão, uma bomba atômica! Selvagem, excitante e me deixava cada vez mais atiçado a tê-la ao meu lado como uma amante maravilhosa, como ela era.
Chegando na editora, subi e fiquei na minha sala, sentado, pensando no dia que eu ia ter. Antes de tudo, pedi um café, para começar com bom humor. Bateram na porta e eu mandei entrar. Era Mary, minha secretária.
-- Sr. LeBlanc, o seu café!
-- Obrigada, Mary!
-- Ah, Sr.!
-- O que foi?
-- Tem uma Sra. aí fora. Pediu-me que lhe entregasse este recado. Ela quer falar com o Sr.!
-- Quem é ela? Tem hora marcada?
-- Não, Sr., não tem, e eu não a conheço. Nunca a vi por aqui!
-- Está certo, eu vou ler e te aviso!
-- Sim, Sr. LeBlanc!
Mary saiu, e assim que fechou a porta olhei curioso para o pedaço de papel. Tinha um perfume inebriante, que não me era estranho. Será que agora eu era um vidente, ou algo assim, tendo visões e recebendo intuições das coisas? Abri afoito e comecei a ler.
Bom dia, Sr. LeBlanc,
"Gostaria de falar com o Sr. sobre a vaga de secretária da diretoria. Acho que preencho todos os requisitos solicitados. O Sr. poderia me dar uma chance? Preciso demais desse trabalho! Sua editora tem nome e será muito bom para mim trabalhar ao seu lado.
Desde já agradeço."Um abraço...
Que estranho, nem assinou! Isso não está me cheirando bem. Como ela sabe que eu quero trocar de secretária? A única que eu colocaria nesta vaga seria Vitória, minha esposa. Infelizmente Mary não está atendendo mais as minhas expectativas. Pretendo colocá-la em outro setor, mas isso é particular, ninguém sabe ainda! Quem será essa fulana, não tem nome?
Pedi a Mary que a fizesse entrar. A porta abriu e vi a última coisa que eu queria ver na minha frente. Parece que minhas intuições estavam certas. Eu não deveria ter vindo hoje! Fiquei parado sem falar nada, porque fui pego de surpresa, não estava preparado para essa cena. -- Que merda!
-- Oi, Daniel! Não se lembra mais de mim? Posso me sentar?
-- Como vai Verônica, tudo bem? Sente-se!
Ela sentou-se, cruzou as pernas e ainda conservava a sua beleza.
Pensei comigo:
"Não é possível! Isso não está acontecendo! Devo estar em casa, dormindo, ainda! Não pode ser! Eu fugi tanto e a assombração apareceu, e estava bem ali, na minha frente!"
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Domínio
RomanceDaniel LeBlanc, autor best-seller do The New York Times e dono da famosa Editora LeBlanc, vive praticamente excluso da sociedade, por ter uma vida secreta e desejos meio obscuros. Por isso, com seus 40 anos, não constituiu família. Mora sozinho. Par...