Ambição

Um.

— É que cê tá ligada que nosso amor bandido veio pra acabar com toda a breguice existente em qualquer conto de fadas clichê. Baby, nós somos a revolução de tudo isso.                         

                                Talibã🚩

📍 Complexo da Penha, Rio de Janeiro.

Mais um dia na luta, guerreando contra o tempo. Eu passava cumprimentando os moradores enquanto descia a escadaria do morro.

Independente do poder ou de qualquer coisa que eu tenha, mantenho sempre o que me trouxe ao patamar que estou hoje, a humildade!

Ávila: Brotar lá no Juramento pra matar a saudade de casa, dar aquela gastada. - Encostei na favela do amigo pra ver como que tava a paz da comunidade, muito tempo que não vinha aqui.

Talibã: Vou ver se encosto. - Cruzo os braços e fico grampeando tudo, analisando o vai e vem dos moradores.

HG: Tem que ir, meu mano. Mais tarde quero te ver lá pelos acessos, só piranha boa. - Ele esfregou as mãos e eu dou risada, negando com a cabeça.

Ávila: Esse daí só pega acompanhante de luxo, vadia de qualidade. - Neguei com a cabeça e fiz o toque com eles.

Talibã: Vão trabalhar e parem de jogar ideia fora, vida não é morango não. AL deve que tá cheio de bagulho pra resolver e fica aí coçando o saco. - Dou um toque em ambos e sigo meu caminho, ajeitando o meu iPhone de ouro no suporte.

Tenho uma atração pelo poder que possuo, mas é assim, muitos ao meu lado e poucos torcendo por mim. Não me importo, afinal, ninguém inveja o que é ruim, ninguém odeia o fraco.

Tô ligado que há aqueles que colam peito por mim, os verdadeiros, autênticos, nada de simples imitações. Não pense que só porque você tem poder, não haverá inveja; muitos já caíram tentando me prejudicar. Eles queriam o meu fim, porém foi muito mais fácil ver eles cair.

Passei por muitas fases difíceis nesta vida, experimentando o pior da terra apenas por ser negro e favelado. Tentamos seguir um caminho mais certo, mas quem disse que o sistema deu espaço? Nada disso.

Quantas vezes tentei concursos públicos, enviei currículos para empresas renomadas, e o que recebi em troca? Nada! O mínimo que o estado me ofereceu foi uma humilhação fodida e um dia inteiro dentro de uma delegacia. Essa é a sociedade de oportunidades que eles tanto anunciam na TV.

Trabalhava como ajudante de mecânico, aprendi o ofício e, vez ou outra, as pessoas me procuravam para ajustar os faróis de seus carros, o que era o máximo que conseguia fazer na época. Eu era o provedor em casa, pagando as contas e a escola da minha irmã. Meu irmão estava sem grana, meu pai era um fanfarrão e minha mãe tinha câncer de estômago.

Estava indo ajudar um amigo quando fui parado em uma blitz. Revistaram meu carro minuciosamente e só complicaram minha situação. A sargenta que liderava a operação me acusou de desacato só porque mencionei que precisava trabalhar. Ela passou o pente fino em tudo e não encontrou nada, exceto 5 gramas de skunk, que pertenciam a um amigo que estava comigo. Ele os escondeu no meu porta-luvas, mas fui honesto desde o início. Quando ela veio para abordagem, eu já logo expliquei, afinal, quem diz a verdade não merece castigo.

Fiz isso para adiantar o meu lado, precisava ir trabalhar. O cara que eu combinei ficou me ligando insistentemente, perguntando se eu não ia pegar o carro dele. Foi aí que comecei a ficar puto, aquele ali era o meu sustento; sem aquele dinheiro, minha mãe ficava sem gás e os caralho em casa.

Mas aí ocorreu o tal do desacato, só porque eu disse para a mulher que ela ia foder o meu lado. Ela alegou que me direcionaria a delegacia, e eu simplesmente falei que se me levasse naquela hora, talvez desse tempo de chegar na casa do amigo e fazer o serviço. Então, estendi minhas mãos e mandei colocar as algemas logo, para agilizar o processo.