Andryeli 💝
As semanas se passaram e as horas pareciam ser infinitas. Esse tempo todo eu não tinha recebido nenhuma ligação de retorno sobre meus currículos, confesso que já estava achando que escolheram outra para pôr no meu lugar.
Até que esses dias, no momento que eu tava no banho, a mulher da farmácia me ligou, falando o quanto se interessou nas minhas qualidades. Apesar de eu nunca ter trabalhado antes, já tinha feito alguns cursos que, querendo ou não, servem como algo a mais no histórico.
Nós marcamos a entrevista de emprego e eu fui, toda bonitinha. Ocorreu tudo bem, graças ao meu Deus que é bom o tempo todo comigo. Dias depois ela me enviou o e-mail de confirmação; Aprovada!!
Eu estava feliz demais!!! Me sentindo orgulhosa de mim, pelo meu esforço e dedicação. Sei que agora terei que ter mais foco do que antes, mas sei também que vou conseguir.
Combinamos tudo certinho e então fui até lá pegar meu uniforme, não via a hora de começar. Eu entraria como farmacêutica daqui há 3 dias.
Mas ainda tinha a pior ou melhor parte, contar aos meus pais...
HG: Tá fazendo o que aqui, feia? - Passei na casa da minha vó e meu primo estava com os meninos na calçada. Eu olhei de relance pro Talibã, que meteu a cara fechada pra mim.
Sutz: Fui na farmácia pegar meu uniforme pra começar a trabalhar. - Soltou a fumaça do seu baseado e assentiu.
Trem Caro: Aí eu boto fé pô, além de linda é dedicada. - O HG olhou pra cara dele. - Ih, qual foi? Se a rede não tiver goleiro, eu tô marcando ponto, otário. - Os outros meninos deram risada, menos o Talibã.
Ben10: O maluco não dá mole no plantão. Para na reta pra ver, moleque é jogador disparado. - Entrou no embalo com o outro.
HG: Vou te descer um socão, papo reto! - O menino levantou as mãos em forma de rendição.
Mt: Caralho mané, eu esqueci o camelo lá na escola e só lembrei agora. - Esse era o Matheusinho, mas os garotos chamam ele de Mt. Pelo que a minha prima comentou, ele tem 14 anos e entrou pro tráfico recentemente, é vapor do movimento.
O moleque ia largar a escola, mas parece que o Ávila, dono daqui da Penha não permitiu. Ele continua aqui na correria, contanto que prosiga na escola.
Talibã: Já mandei tu parar de fumar maconha, menor bom. - Bateu no ombro do menino e eu sorri fraco.
Mt: Brabão de eu voltar lá agora, duvido filho. - Deu de ombros.
Talibã: Mandar o Ruanzin ir lá pra você. - O Mt assentiu.
Ávila: Ruanzin tá no morro do Alemão, marcando missão. - Colocou um cigarro entre os dedos e olhou pra mim.
Talibã: Deixa isso quieto então, amanhã tu pega. - O garoto concordou.
Mt: Aê colega, com todo respeito, você é bonitinha ein. - Falou com simplicidade na voz e eu gargalhei.
HG: Melhor tu ir pra casa, aqui só tem menor tarado. - Eu ri e me despedi dos meninos. O outro nem me olhou, eu fiz o mesmo e segui meu rumo. Fiquei um tempo lá com minha vó, amava demais estar com ela.
Se tem um amor mais genuíno que o de vó, eu desconheço!!
(...)
Roberta: Aconteceu algo? - Já era de noite quando eu cheguei em casa, tomei meu banho e guardei o uniforme. Chamei meus pais no quarto para contar a notícia e confesso que tava toda bobinha, com um sorriso largo no rosto.
Rogério: O que você fez dessa vez? - Cessei meu riso de imediato e engoli seco.
Vera: Deixa a menina falar. - Essa era minha vó por parte de mãe, um amor de pessoa e tinha vindo nos visitar.
Sutz: Não é nada demais. Eu só queria avisar que consegui um emprego aqui pelo morro mesmo, na farmácia da principal. - Meus pais não tiveram reação alguma, porém minha vó abriu um sorriso lindo pra mim.
Vera: Que coisa boa minha filha, que Deus te abençoe nessa nova jornada. - Me abraçou e depositou um beijo murcho na minha bochecha. - Os planos do Senhor são perfeitos, nunca duvide disso. - Assenti.
Rogério: Isso não quer dizer nada. - Olhei pra ele sem entender. - Não é porque você vai começar a trabalhar, que pode fazer o que bem entender. Ainda vive na minha casa, na base do meu dinheiro e das minhas regras. - Minha mãe concordou.
Sutz: Isso não vai ser um problema, pai. - Disse com um certo arrependimento na voz. - Assim que meu salário cair e eu me estabilizar, vou arrumar uma casa para mim, não se preocupe. - Ele sorriu sem ânimo.
Roberta: É aquele menino, né? - Franzi o cenho, sem ter a mínima noção do que ela estava insinuando. - Aquele que foi te procurar na igreja aquele dia... Eu vi você conversando com ele e com os outros garotos hoje mais cedo lá na calçada. - Meu pai se levantou estressado.
Rogério: Já entendi tudo, agora tá explicado o porquê dela estar nesse fogo pra ir morar sozinha. - Senti meu coração apertar, porém fiquei calada, até porque são meus pais e eu ainda devo respeito.
Vera: Vocês já pararam pra ouvir a menina? - Indagou eles. - Já pararam pra pensar que não é por ninguém, e sim por ela? A garota tá crescendo, Rogério, deixa ela crescer. - Me abraçou de lado.
Roberta: Me desculpa mãe, mas eu conheço a filha que tenho. - Se aproximou de mim e eu recuei receosa. - Só espero que quando quebrar a cara de novo, não venha procurar mamãe e papai. - Ironizou as últimas palavras e saiu do quarto com o meu pai, restando apenas eu e minha avó.
Vera: Sei que parece complicado agora, mas lá na frente vai valer a pena. - Sorriu fraco pra mim e depositou um último beijo na minha testa, saindo do quarto.
Eu me olhei no espelho e respirei fundo, sabendo que o desafio seria maior, mas não impossível!
Fui tomar um banho gelado pra relaxar e apaguei a luz do banheiro. Nunca consegui tomar banho com a luz acesa, ela apagada me trás a paz que eu preciso, então sempre deixo assim. Saí dali já vestida e me joguei na cama, ligando a televisão logo em seguida.
Me enjoei do que estava vendo e peguei meu celular, abrindo o status do HG e vendo uma foto dele com diversos meninos, todos de fuzil nas costas e tampando o rosto. Uns fazendo sinal de facção e outros com bebidas e drogas em suas mãos, e óbvio, com diversas mulheres em volta.
Neguei com a cabeça e fitei o teto, olhando pra uma gaveta que tinha ali e me lembrando do convite que o Talibã havia me feito. Por um momento cogitei ir, mas logo tirei isso dos meus pensamentos.
Me meter em confusão agora seria uma péssima idéia.
***

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Ambição
FanfictionTrês mundo, três histórias. Andryeli se vê no meio de relações conturbadas e perigosas. Ela, que sempre foi uma jovem devota de suas crenças religiosas e convicta em suas ideias direitistas, é confrontada com sentimentos avassaladores ao se envolver...