Dois.

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Andryeli 💝

📍Parada de Lucas, Zona norte.

Cá estou eu novamente, tendo que descer essa rua para ir até a loja da minha tia lá na PL.

Sim, eu moro com a minha tia!

Provavelmente ao falar isso, muitos devem achar que eu não tenho pais, porém eu tenho. O negócio é que por acasos da vida, eles me mandaram vim morar com ela há exatamente 3 anos.

No entanto, essa tranquilidade não vai durar muito, pois amanhã estarei voltando para minha antiga casa na Penha. Confesso que vou sentir falta... Além disso, aqui não tenho meus pais constantemente me pressionando, alegando que preciso ser uma serva devota.

Desde criança, fui criada em um lar evangélico, frequentando a igreja regularmente. Cresci acreditando firmemente na existência do certo e do errado, do céu e do inferno. Porém, quando finalmente experimentei aquilo que nos diziam para evitar, aquelas coisas que supostamente nos condenariam, me senti completamente perdida, e ao mesmo tempo tão... Viva.

E esse é o preço que uma menina com pais conservadores carrega.

Fui criada em uma bolha, com pais conservadores e uma família que contradizia tudo o que eu acreditava ou desejava que fosse real. Afinal, o que era real além do que eles me impunham? Estudei em escola particular desde o jardim de infância, mas aos 14 anos fui transferida para uma pública, e aí tudo mudou! Foi o início do meu desvio, da minha ruína interna. Minha espiritualidade, antes rica em fé, começou a se deteriorar.

Na época eu culpava os meus pais, falava que se eles não tivessem me prendido tanto, talvez não me revoltasse daquela forma. Pô, eu que sempre cresci em um mundo fechado, quando vi todas as outras coisas que a vida tinha pra oferecer, caí dentro.

Perdi minha virgindade aos 15 anos e comecei a fumar maconha aos 16. Literalmente me tornei outra pessoa naquela escola. Minha mente era frágil, eu achava que nunca iria dar em nada, mas então chegou o dia que deu. Meus pais se cansaram de tentar me controlar e acabaram me deixando sem estudar, o que resultou na intervenção do conselho tutelar. Como eu ainda era menor de idade e não estava mais frequentando a escola, a direção acionou o conselho, que veio até minha casa.

Tive que marcar um dia para comparecer lá e só tenho a agradecer a Deus por ter me ajudado tanto e nunca ter soltado minha mão. Fui completamente sincera com a mulher que me atendeu; primeiro ela quis me ouvir e depois minha mãe. O ambiente era completamente angustiante, e o terror que me colocaram antes de entrar na sala quase me sufocou. Quando percebi as inúmeras oportunidades que estavam escapando pelas minhas mãos apenas por eu querer tanta futilidade, fiquei desesperada.

Sofri muitos abusos com o meu antigo relacionamento, o que foi o motivo certo para a minha mãe me tirar de dentro da Penha e me trazer pra morar com minha tia.

No começo, não vou negar, foi difícil. Me sentia um fardo, mas depois percebi que era para o meu próprio bem. Meu pai é um respeitado pastor no Complexo da Penha, e toda minha família é cristã, o que levava muitos a olharem para mim com desdém, por ser filha de pastor e já ter a fama que tinha. Na mente deles, somos perfeitos, nunca erramos, e depois de Deus, vinha nós. Sempre a primeira a chegar e a última a sair da igreja. Ajudo em absolutamente tudo, e faço com muita alegria, pois não é para mim, é para o Senhor.

Esses tempos com minha tia me ensinaram muito, inclusive a amar a Deus novamente. Mesmo depois de tantos erros, Ele me aceitou de novo. Jesus preenche os vazios que existem no meu peito. Ele me dá força, assegura que não estou sozinha e que onde quer que eu ande, Sua mão estará sobre mim, me garantindo que tudo ficará bem.

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