Oito.

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                             Andryeli 💝

Pastor: E que a graça, a unção e a consolação poderosa do Espírito Santo esteja com toda a igreja e a igreja diga...

Amém! - Respondemos todos uníssonos logo após o meu pai terminar de dar a bênção apostólica.

Rosana: Vamos ir ali falar com a irmã Marly. - Após o encerramento do culto, minha mãe me conduziu para conversar com uma antiga irmã da igreja. Embora ela expressasse felicidade ao me ver, persistia em relembrar erros do passado. Essa era uma das razões pelas quais eu evitava interações com algumas pessoas daqui.

A mesma ficou lá dizendo o quanto a filha dela estava sendo bem sucedida na nova faculdade e o quão bom era o marido de Deus que ela arrumou... Depois de alguns breves minutos, eu fui até minha prima e saí da igreja. Minha mãe veio logo atrás da gente.

Cecília: Culto hoje foi forte ein, bênção demais! - Concordo. Tinha até me esquecido do quanto era boa essa sensação pós culto com todos eles juntos.

Rosana: Lá vem aqueles meninos. - Comentou ao olhar pro outro lado da rua, e quando eu me virei pude ver o mesmo garoto que trombei no açaí.

Cecília: Eles no máximo tinham que respeitar a casa do Senhor. Deus tenha misericórdia dessas almas perdidas. - Sentado sobre sua moto, curvado sobre o celular, ele ostentava um fuzil de pente alongado. Levantou os olhos do aparelho ao perceber nossa presença, e seu olhar encontrou o meu. Num gesto, indicou que eu me aproximasse, provocando um calor em meu rosto e a atenção de todos voltada para mim.

Rosana: É o que que ele tá fazendo sinal pra cá? - Cruza os braços. - Por acaso você tá se envolvendo com esse menino, Andryeli? Tu viu o que aconteceu da última vez...

Sutz: Claro que não mãe. - Ela semicerrou os olhos. - Eu juro.

Cecília: Jurar é pecado, menina. - Me repreendeu e eu abaixei a cabeça em forma de respeito.

Sutz: Desculpa, vó! Foi falha minha. - Engoli seco. - Eu já volto. - Apesar das tentativas delas para me impedir, simplesmente entreguei minha bíblia nas mãos da Kaira e atravessei a rua, dirigindo-me a ele.

Talibã: Pelo visto tua mãe não vai muito com a cara de bandido. - Minhas bochechas coraram, incapaz de encontrar uma resposta.

Sutz: Não é bem isso... - Ele me interrompeu.

Talibã: Como não colega? É até imoral tu tentar dizer ao contrário. - Fiquei em silêncio. - Mas não pega nada não, só vim aqui pra te entregar uma parada. - Meu semblante mudou, agora tomada pela curiosidade.

Sutz: O que é isso? - Pego as folhas que o mesmo me estendeu.

Talibã: A Yasmim que fez. Acho que foi você que passou pra ela, tem seu nome aí no canto. - Visualizei diversas equações meticulosamente resolvidas, e todas estavam corretas.

Sutz: Meu Deus, ela acertou tudo. - Sorri boba. - Quero muito poder parabenizar, não é qualquer criança que consegue resolver isso, principalmente a última que era mais complexa. - Notei que seu rosto não esboçava nada.

Talibã: Ela morreu. - Fiquei totalmente sem palavras quando ele falou aquilo. - Minha irmã foi assassinada hoje de manhã. - Minha boca se formou em um O e eu não sabia como reagir, então por impulso deixei as folhas caírem da minha mão.

Sutz: Eu sinto muito! - Saí do transe que estava e me abaixei para pegar os papéis.

Talibã: Precisa sentir nada não, fica tranquila! - Gira a chave na ignição e sobe na moto.

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