Dezenove.

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                                 Talibã🚩

Trouxe a menina em uma barraca de churrasco que se localizava na Vila da Penha. Me amarrava em comer aqui. 

Talibã: Engorda nunca? - Indaguei olhando ela no seu quinto espeto de coração.

Sutz: Churrasco é meu ponto fraco pô. -  Deu uma mordida na carne e levou sua mão até a boca, rindo toda sem graça.

Talibã: Não perde a pose nem assim. - Encostei as costas no restante de espaço que tinha na cadeira e segui fitando os olhos dela.

Sutz: Que isso cara, eu tenho vergonha de comer com alguém me vigiando dessa forma. - Botou o espeto de volta no prato e virou sua atenção pro lado.

Talibã: Quase nunca te vejo na rua, não curte? - Ignorei o que ela disse e joguei essa pergunta por cima.

Sutz: Meus pais me prendiam demais. Eu fiquei fora por um tempo, voltei recentemente e a faculdade toma metade do meu dia, juntando com o trabalho não resta nada.

Talibã: Faz faculdade? - Ela assentiu. - A moreninha pretende ser o quê? - Me interessei no assunto.

Sutz: Médica. Pra ser mais específica, cirurgiã pediatra. - Quem observa ela de fora nem imagina o esforço. - Mas vamos ver no que dá.

Talibã: Eu também queria ser doutor quando era menor. - A mesma me olhou como se o que eu acabei de dizer fosse a maior surpresa do mundo. - O que é?

Sutz: Tu parece um segredo. - Se ela soubesse que tento decifrá-la desde o primeiro dia que a vi passar por mim...

Talibã: E por que eu sou um segredo? - Apoiei meu braço na mesa plástica e ergui o rosto.

Sutz: Difícil prender sua atenção ou arrancar algo com facilidade. - Fixou seus olhos marcantes nos meus. - Pelo menos essa é a visão que você passa. - Relaxou os músculos e deu outra mordida na carne.

Talibã: Cada um se protege com as armas que tem. Eu também não te imaginava médica. Tu tem carinha de nerd, mas nem tanto. - Arranquei uma gargalhada dela. 

Sutz: Meus pais queriam que eu fizesse engenharia, mas nunca foi meu forte. - Se mexeu na cadeira, como se estivesse incomodada. 

Talibã: Visão... Engenharia é maneiro, mas tá certinha em seguir o que gosta. O tempo não dá folga. - Ela sorriu pelo nariz. - Qual foi? - Arqueei as sobrancelhas.

Sutz: Tá parecendo um velho falando. 

Talibã: Talvez eu seja... Quase trinta e cinco anos, garota. - Mudou sua expressão, incrédula.

Sutz: Daqui a pouco tá usando bengala. - Neguei com a cabeça e voltamos a comer. Depois de um tempo, nos sentamos na praça e fiquei observando o cabelo da mesma se balançar conforme o vento batia.

Talibã: Porra, tu tem maior cabelão. - Passei meus dedos ásperos pelos fios, sentindo sua maciez.

A garota ficou apenas observando e então eu peguei uma medeixa dele e encaixei atrás de sua orelha. Sua pele de porcelana reluzia inocência, mas seus olhos entregavam ao contrário disso.

Joguei o cabelo dela todo para o lado, deixando seus ombros e pescoço à mostra. Enquanto ela me encarava sem vacilar o olhar, eu me aproximei, sentindo seu perfume suave e docinho.

Fechei meus olhos ao inalar aquele cheiro e a outra palma da minha mão estava aberta segurando a lateral do seu rosto meigo.

Senti a mesma se arrepiar e sua respiração falhando. Fiz um bagulho com sigilo, sem agitar a menina. Era como se eu quisesse ter o corpo dela no meu nome há cada segundo que passava.

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